Formação: Discutindo branquitude e raça em sala de aula

Formação: Discutindo branquitude e raça em sala de aula

Bernardo, Camila e Marina

Objetivo

A quarta formação do DDD foi sobre raça e branquitude em sala de aula, e teve como objetivo trazer três reflexões. Primeiro, como quando se trata de raça, o imaginário social é de que o branco seria o neutro. Segundo, demonstrar como os espaços de poder, incluindo nestes a academia, são majoritariamente compostos por sujeitos brancos. Portanto, para se falar sobre conhecimento deve-se passar por uma discussão: qual raça tem a “legitimidade” de produzí-lo? Terceiro, relacionamos a branquitude com a negritude para que pudéssemos refletir sobre suas interações.

Dinâmica

Para iniciar o debate realizamos uma dinâmica sobre identificação racial. Cada integrante do grupo se apresentou e identificou-se racialmente. Nesse momento, percebemos que a autoidentificação é um processo complexo e que requer maior aprofundamento sobre a construção do racismo no Brasil, tendo em vista que o mito da democracia racial juntamente com a miscigenação forjou uma série identificações entre um extremo, que seria o negro, e o outro extremo, que seria o branco. Assim, o que se evidenciou durante a dinâmica foi que tanto aqueles que se autoidentificaram como brancos quanto aqueles que se autoidentificaram como negros o fizeram com dificuldade. Acreditamos que isto ocorreu por dois motivos: de um lado os brancos por saírem do posto de neutralidade e do outro, os negros ou, como alguns integrantes se autodefiniram, os não-brancos, em razão do difícil processo de autoidentificação racial.

Nesse gancho, foi discutido que, em sala de aula, a questão sobre raça é debatida relacionando-se exclusivamente à negritude, como se apenas os negros e negras sofressem influências decorrentes dos assuntos relacionados à raça. Assim, a branquitude é tratada como um tema neutro e os brancos e brancas não teriam muito o que acrescentar ou pensar sobre. Reflexo disso foi o incômodo presente neste primeiro momento da dinâmica. Como não é usual perguntar às pessoas brancas a qual raça pertencem, a autoidentificação como branco e branca em espaços nos quais não há um maior aprofundamento a respeito da branquitude, seria um ato “automático”, ao passo que colocá-la no centro do debate gera um desconforto que propicia a reflexão sobre racismo, colorismo e auto declaração como temas relacionados também aos brancos.

Para a segunda dinâmica distribuímos folha sulfite e lápis de cor para cada integrante e pedimos para que pensassem em uma pessoa que eles admirassem e que, necessariamente, esta pessoa ocupasse uma posição de poder. Depois pedimos que as pessoas utilizassem os lápis e o sulfite para desenharem a pessoa em que pensaram. Por último, pedimos que todos mostrassem os desenhos. A maioria das pessoas escolhidas eram mulheres brancas que ocupavam espaços de poder políticos ou acadêmicos. Apenas uma mulher negra pertencente à classe de poder “cultural” foi retratada.

Após as dinâmicas, iniciamos os debates com base na bibliografia indicada para o encontro. Os principais temas debatidos foram negritude, branquitude e autodeclaração.

Avaliação

Em primeiro lugar, o facilitador deve ter em mente que o tema gera desconforto entre os participantes. Lidar com esta situação delicada é seu maior desafio, de modo que conduzir as dinâmicas e debates levantando perguntas e sem uma transição brusca entre um momento e outro é essencial para que a discussão se dê da melhor forma possível. A dinâmica é tão melhor quanto os alunos se sentirem, na medida do possível, à vontade para compartilhar suas experiências e colocarem em questão suas concepções sobre raça, neutralidade e construções em torno da negritude.

O grupo, tendo assumido o papel de facilitador, ficou um pouco receoso de encaminhar as dinâmicas por conta da sensação de incômodo que os e as alunas demonstraram já na primeira dinâmica. Cientes de que é necessário discutir tal temática e felizes com o engajamento dos e das colegas, tentamos introduzir os temas de forma leve, mas pecamos ao não nos utilizarmos do desconforto para introduzir perguntas essenciais ao tema, tais como: “O que define nossa raça?” e “A autodeclaração tem limites?”.

Com base no feedback que recebemos, propomos algumas dicas para os facilitadores que adotarem nossa ideia: incentivem a utilização do “telefone sem fio” (combinado do DDD por meio do qual as falas devem estar interligadas, estimulando a escuta ativa e a interação entre os integrantes), iniciem e conduzam os debates com questões que podem surgir pela fala de algum dos participantes, e aproveitem a tensão gerada pela pergunta “como você se identifica?” para estruturar o encontro.

 

 

 

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