comunidade usp

Uma língua e múltiplas histórias

  • Facebook facebook
  • Twitter twitter
  • AddThis mais

 

Mostra reúne obras de jovens, emergentes e consagrados artistas de oito países de língua portuguesa, e ainda dialoga com outra exposição que explora o texto e a imagem

Por Jéssica Camargo Stuque

Países que falam a mesma língua, mas que possuem histórias muito diferentes. O que os une? Em que se semelham? Em que diferem? A partir do idioma português, artistas de diversos países lusófonos foram convidados a expor seus pontos de vista na exposição “Arte Lusófona Contemporânea”, na Galeria Marta Traba do Memorial da América Latina, com curadoria de Ângela Barbour e Nicholas Petrus.

A ideia de se realizar a mostra partiu do ponto de que, além da herança hispânica, é essencial conhecer cultura e língua portuguesas para que se possa compreender a América Latina. De acordo com o curador, “a nossa presença através da língua portuguesa é muito importante (…) estamos trazendo o mundo português para os latino-americanos”. A mostra reúne pinturas, desenhos, gravuras, fotografias, vídeos e outros trabalhos de jovens, emergentes e consagrados artistas de oito países de língua portuguesa: Brasil, Angola, Moçambique, Portugal, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Timor Leste.

Arte de Alberto Tavares, Caboverde (alto) e Odé com Ofá de Ayrson Heráclito, Brasil

Segundo Nicholas Petrus, a mostra busca apresentar “artistas que, através da sua obra, representassem a arte contemporânea”. E nesse contexto surgiu o tema da luta (pela independência) devido ao fato de alguns países que compõem a mostra, como Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Timor Leste terem conquistado sua independência política recentemente. De acordo com ele, as obras de pós-independência “escapam da visão tradicional [da África]” e trazem à tona muita “cor e conflito”. Em linhas gerais, elas retratam “o que é ser africano e a liberdade”.

Porém, segundo o curador, cada artista “tem suas investigações pessoais”: o angolano Délio Jasse retrata a imigração para a Europa, que reflete os desafios do país; Alberto Tavares, de Cabo Verde, mostra como, no país, “desde a música até a arte é permeada por saudade e tristeza” (já que dois terços da população do país imigraram); e a portuguesa Joana Bastos traz uma reflexão sobre a própria arte contemporânea.

A artista Maria Madeira, do Timor Leste, tem na sua trajetória uma luta própria. No período da invasão indonésia, o país encontrava-se em apuros e a língua portuguesa foi proibida de ser falada. Diante dessa situação, Portugal partiu em socorro à população, enviando aviões para buscá-la. A artista foi uma das pessoas que embarcaram em um desses aviões, nos anos 70, e viveu por sete anos nos campos para refugiados nos arredores do país. Quando conseguiu um visto, partiu para a Austrália, onde estudou Artes Visuais e Sociologia. Em 2000, após a independência do Timor Leste, voltou ao país de origem, no qual ensina arte, até hoje. Sua obra – produzida em 1996 nos tempos que passou na Austrália – reflete o massacre que viveu o país na época da invasão. Um de seus trabalhos traz uma instalação de piso no qual dois tecidos pretos estão dispostos de maneira a formar uma cruz, sobre a qual são colocadas várias coroas que representam os guerreiros e sacerdotes timorenses.

Maria Madeira Cruz

Do Brasil, o baiano Ayrson Heráclito, se destaca por utilizar um elemento muito peculiar em seus trabalhos: o azeite de dendê. A explicação para o uso está nas origens étnicas e culturais do País e, principalmente, da Bahia. O artista traz um vídeo e duas fotografias, que, segundo ele, registram modelos “para se pensar o ethos cultural do baiano”. A montagem é resultado de uma “pesquisa de mais de dez anos, que representa o povo e diversos momentos da nossa cultura num diálogo com a contemporaneidade”. As fotografias (Odé com Ofá e Yaô no epô) fazem parte do seu trabalho com o dendê. E o vídeo Barrueco, realizado em parceria com o videomaker Danillo Barata, reúne diversas obras do artista, que também já trabalhou com açúcar e carne. As obras com esta última se transformaram em uma campanha contra a fome, em 2000, que tomou grandes proporções, sendo exibida em rede televisiva.

“Arte Lusófona Contemporânea” fica em cartaz até 10 de julho, de terça a domingo, das 9h às 18h, na Galeria Marta Traba do Memorial da América Latina (av. Auro Soares de Moura Andrade, 664, tel. 3823-4602). Gratuito.

Deixe um Comentário

Fique de Olho

Enquetes

As questões nas reuniões do Conselho Municipal de Política Urbana envolvem, indiretamente, transporte e mobilidade. Em sua opinião, qual item seria prioridade para melhorar o transporte público?

Carregando ... Carregando ...

Dicas de Leitura

A história do jornalismo brasileiro

O livro aborda a imprensa no período colonial, estende-se pela época da independência e termina com a ascensão de D. Pedro II ao poder, na década de 1840
Clique e confira


Video

A evolução do parto

O programa “Linha do Tempo”, da TV USP de...

Áudio

Energia eólica e o meio ambiente

O programa de rádio “Ambiente é o Meio” foi...

/Expediente

/Arquivo

/Edições Anteriores