Com a ideia de alterar a gestão de pessoas nas empresas, a proposta requer uma reestruturação nas relações de trabalho, atentando às necessidades individuais

Por Raphael Martins

Quando se pensa em um bom lugar para trabalhar, grande parte das pessoas cita, sem hesitar, a sede do Google, em Mountain View, Califórnia. Adepta de formas pouco usuais para estimular a produtividade, a multinacional de serviços e softwares on-line já foi eleita duas vezes pela revista Fortune como o melhor lugar para se trabalhar.  Além dos bons salários, a empresa disponibiliza comida à vontade durante o dia, sala de jogos com video-games, mesa de bilhar, pebolim e tênis de mesa. Não bastasse, alguns funcionários são encorajados a passar certo tempo de seu expediente dedicando-se a pesquisas próprias – dessa medida, saíram projetos como o Gmail e o Orkut.

Toda essa metodologia é aplicada para buscar um trabalhador mais motivado, menos sobrecarregado e, consequentemente, mais criativo e eficaz. Entretanto, para Ana Cristina Limongi França, professora do Departamento de Administração da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA), esse tratamento ao funcionário não pressupõe que ele esteja feliz em suas funções. Os benefícios dados pela empresa seriam, para ela, artifícios de distração, fazendo com que o trabalhador deixe de lado suas preocupações e volte a ter maior poder de produção: “É uma ação alinhada ao meio de atividade da empresa, seguindo seus interesses. Isso não pressupõe a felicidade da pessoa”. Seria uma espécie de estímulo criativo, não uma preocupação real com a qualidade de vida do trabalhador.

Ana Cristina Limongi França

Preocupada com um tratamento diferenciado, para garantir o melhor para a pessoa em seu ambiente de trabalho, Cristina criou, em 1998, o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Gestão da Qualidade de Vida no Trabalho. “O objetivo seria construir, difundir e analisar conceitos e práticas relativas ao bem-estar pessoal e organizacional em ambientes de trabalho”, explica.

Simplificando conceitos, o programa pressupõe a instauração de uma nova cultura de trabalho, atentando à mudança de relações entre pessoas e envolvimento com os afazeres. É uma real preocupação com pessoas, com o que elas necessitam e sentem.

O princípio de gestão de pessoas procura orientar todos os funcionários em níveis psicossociais: melhorar as relações entre chefes e subordinados, compreendendo e atendendo às necessidades de cada um, da melhor forma possível, resultando na maior satisfação pessoal de todos.

As demais características são próximas ao projeto Cuidar da Gente, recém inaugurado no Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (Centrinho), mas relacionados às funções de trabalho. O que a professora descreve como Bem-Estar Organizacional engloba fatores que vão desde a simples organização de atividades – para evitar sobrecarga de trabalho e garantir tempo para si – até questões médicas, doenças em geral. Cristina ressalta, ainda, que o retorno produtivo da empresa não é a preocupação do núcleo de pesquisa, seria mera consequência de um trabalhador verdadeiramente feliz e saudável.

O Núcleo de Estudos e Pesquisas em Gestão da Qualidade de Vida no Trabalho é mais um projeto preocupado com a saúde das pessoas no ambiente de trabalho e que desenvolve várias atividades, workshops e cursos para disseminar toda essa ideologia. O site do projeto oferece todas as informações de como, quando e onde participar.