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No limiar do corpo

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Noiva despedaçada

 

Por Jéssica Camargo Stuque

Como uma cidade deste tamanho não tem um festival voltado à dança contemporânea? Foi com base nesse pensamento que Adriana Grechi e Amaury Cacciacarro Filho decidiram criar, em São Paulo, em 2008, o Festival Contemporâneo de Dança. Logo em sua primeira edição, o evento recebeu o prêmio APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte) para produção, difusão e formação da dança. Desde então, tem se dedicado a trazer artistas da área – tanto nomes já consagrados na dança contemporânea como novos talentos que estão surgindo, no Brasil e no restante do mundo –, e a aproximar o público dos processos criativos da dança. Neste ano, o festival encontra-se em sua 4ª edição e acontece de 1º a 13 de novembro no Centro de Dança Umberto da Silva, na Galeria Olido e no Centro Cultural Banco do Brasil. Ainda que com espetáculos muito variados, é possível notar que a programação traz uma temática: a corporeidade e as diferentes maneiras de se trabalhar com o corpo.

“Fizemos uma grande pesquisa durante o ano. Foram [vistos] mais de 400 trabalhos de mídia, recebemos vídeos de diversos países”, explica Adriana, diretora artística do festival. “Mas neste ano tivemos o enfoque de mostrar a evolução do trabalho de artistas que participaram do festival”, completa. É o caso do marroquino Taoufiq Izeddiou, que participou da primeira edição do evento, quando seu solo Aaleef ainda estava em processo de criação. “Fazia tempo que a gente queria trazer ele novamente para a mostra. É mais fácil trazer artistas da Europa, mas a gente procura trazer artistas de países que não têm tanto apoio.” Após inúmeras tentativas, a equipe conseguiu contatá-lo e trazê-lo ao festival, através do apoio de uma agência internacional da França do auxílio aos países do norte da África e do Festival Panorama de Dança, do Rio de Janeiro. Além de seu solo Aaleef – desta vez pronto – Izeddiou também apresenta Âataba com um grupo de cinco mulheres.  “Ele é um crítico das relações sociais do Marrocos. Nos dois espetáculos trata de assuntos que as pessoas só podem dizer em lugares escondidos. Em casas noturnas, porões, subsolos, [as pessoas] falam com grande liberdade.” O coreógrafo também aborda os rígidos padrões e regras da sociedade marroquina, principalmente em relação às mulheres, e o corpo se torna uma porta aberta para a mistura de hábitos, rituais, atitudes e músicas.

Aaleef

A espanhola Paz Rojo e o paulista Cristian Duarte também retornam ao festival. No ano passado, os bailarinos abriram o evento juntos e, nesta edição, separados, exibem seus mais recentes trabalhos. “Foi uma maneira de apresentar outro lado do trabalho deles”, explica a diretora. Paz apresenta Lo que sea moviéndose así, espetáculo que trata o corpo como um limite imposto que nos trai. Já Duarte apresenta Hot 100 – The Hot One Hundred Choreographers, baseado em cem trechos-obras de cem coreógrafos, tratando da criação e da performance como um dispositivo para se pensar em forma, criação, produção, autoria, excesso, contexto e resolução, tendo como base o text-painting The Hot One Hundred, do artista britânico Peter Davies. Duarte também dirige Cornelia Boom, solo protagonizado por Sheila Arêas, selecionado em 2008 para participar do 12º Cultura Inglesa Festival.

Entre os espetáculos também destaca-se Kneeding,do sueco Jefta van Dinther, criado em parceria com Fredéric Gies e Thiago Granato. O trabalho foi apresentado no estúdio Nave no ano passado e agora retorna para o Brasil. Composição das palavras kneading (amassando) e needing (necessitando), o espetáculo explora as relações entre o que acontece dentro de um corpo e fora dele: a realidade palpável da matéria e a realidade imaterial da imaginação. Outro destaque da programação é Quando o sol brilha mais forte a sombra é mais escura, de Marcelo Gabriel. De acordo com Adriana, “ele foi um artista muito importante para a geração anterior, mas a geração mais jovem não o conhece”. Interativo e radical, o espetáculo versa sobre o retorno de ideologias fascistas no mundo moderno.

Novidades

 

C. Boom

Apresentações inéditas, novos talentos e novos programas também estão inclusos na programação do festival. Muito conhecida na Europa, mas pela primeira vez no Brasil, a artista húngara radicada em Berlim, Eszter Salamon apresenta Dance for Nothing, no qual recita a música de John Cage Lecture on Nothing e, simultaneamente, dança uma coreografia de movimentos justapostos à peça textual, criando uma releitura. A própria dançarina, no entanto, enfatiza que a coreografia não deve ser vista como um elemento aquém do texto nem pregado a ele. “A dança em Dance for Nothing deve ser autônoma, e nunca se tornar uma ilustração ou um comentário sobre o texto”, diz.

Michelle Moura, do coletivo Couve-Flor (Curitiba), considerada um dos novos talentos da dança contemporânea, apresenta Cavalo. A performance versa sobre a ambiguidade de quem move quem – o cavalo move o cavaleiro ou o cavaleiro move o cavalo? “Ela possui qualidades muito próprias de movimento, trabalha com o excesso: emocional e físico.” Os sons produzidos no espetáculo são editados em tempo real e transformados em uma trilha sonora de diferentes intensidades. Para isso, Michelle conta com a ajuda de um músico.

Outra grande novidade do festival é a inauguração do Projeto de Residências Artísticas (P.A.R.), que, neste ano, recebe três jovens uruguaias (Ana Oliver, Carolina Guerra e Natalia Burgueño) para uma imersão na programação do festival. Elas participam das oficinas, assistem a palestras e espetáculos, e ainda apresentam a performance Ud. Preguntará Por Qué Bailamos, seguida de uma palestra com a dramaturga Rosa Hercoles, coordenadora do curso Comunicação das Artes do Corpo da PUC.  O filósofo Luiz Fungati, criador da Escola Nômade de Filosofia, também ministra palestra sobre corporeidade, intitulada “Corpo sem Órgãos”.

O 4º Festival Contemporâneo de Dança acontece de 1º a 13 de novembro, com apresentações em vários horários, no Centro de Dança Umberto da Silva, na Galeria Olido e no Centro Cultural Banco do Brasil. Entrada franca. Mais informações no site.

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