comunidade usp

Instinto de vida

  • Facebook facebook
  • Twitter twitter
  • AddThis mais

 

Respeitar a si mesmo e a sua saúde pode fazer, do estresse, uma alavanca para a vida.

Por Thaís Viveiro

“O estresse é uma alavanca para a vida, para a sobrevivência e para a conquista.” A afirmação do vice-diretor do Hospital-Dia do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas, Elko Perissinotti, pode soar estranha aos ouvidos já habituados ao discurso no qual o estresse figura como o mal da vida moderna. Pois é preciso lembrar que, não mais do que um processo de adaptação do organismo a situações novas ou de aparente perigo, o estresse é uma resposta natural e necessária dos seres vivos. “Tudo depende da forma como nos relacionamos com os eventos estressores”, afirma o psiquiatra do HC.

Enquanto pode ser uma alavanca para a superação de obstáculos e desafios, ele se torna prejudicial quando a saúde é sacrificada em nome de uma ambição, como uma promoção no trabalho, a aprovação no vestibular ou o simples desejo de ser bem visto entre os colegas. Em situação de estresse, a constante autorregulação do organismo fica comprometida, gerando um desarranjo na produção hormonal.

Elko Perissinotti afirma que o estresse não é o grande vilão

Cortisol, adrenalina e noradrenalina, hormônios produzidos pelas glândulas suprarrenais, são então liberados em maior quantidade. Se o evento estressor é mantido, esse desarranjo acaba comprometendo a saúde psíquica e física da pessoa. De um lado, ansiedade, angústia, inquietação e insônia tornam-se frequentes. De outro, o despejo dessas substâncias no sangue aumenta os riscos de hipertensão arterial, gastrite, úlcera e, em casos extremos, pode mesmo levar a um infarto do miocárdio ou um acidente vascular cerebral.

Para Elko Perissinotti, no entanto, ao invés de um grande vilão, o estresse não passa de um coadjuvante de um processo autodestrutivo da pessoa. “O ator principal é a sua estrutura de personalidade. O estresse nocivo é sempre convidado a entrar em sua vida”, explica. O convite é feito pelo estilo de vida que o indivíduo leva e geralmente vem acompanhado por uma série de outros excessos, como álcool ou cigarro. Para manter o equilíbrio, o psiquiatra ressalta a importância de vínculos afetivos com a vida, encontrados, por exemplo, nas relações familiares. “Quando faltam vínculos afetivos, rompem-se as limitações que coordenam o espírito, o senso ético e relacional”, afirma Perissinotti.

Isso não significa que o estresse, em si, não deva ser tratado. Seja por meio da alopatia, homeopatia ou acupuntura, algum tratamento deve ser procurado e seguido rigorosamente. “É preciso restabelecer um órgão, ou um psiquismo, que está lesionado”, explica o psiquiatra. Remédios, no entanto, não são suficientes. “O tratamento, que pode ser acompanhado por uma psicoterapia, deve envolver uma série de atividades que tragam mudanças em seu modo de pensar a vida.”

Um primeiro passo para isso é o autoconhecimento. “É preciso observar a si próprio”, conta Perissinotti, que conduz treinamentos, no IPq, para desenvolver nas pessoas uma habilidade para o enfrentamento das adversidades do cotidiano. Perissinotti ressalta a importância de conhecer a natureza humana – incluindo suas fraquezas e contradições. “Precisamos desenvolver uma tolerância às frustrações e aprender a dizer não sem se sentir culpado”, afirma o psiquiatra. “A pessoa deve se voltar para um maior compromisso com um instinto de vida”, conclui.

A professora Katia Rubio ressalta a importância de atividades físicas

A decisão de incluir atividades físicas no cotidiano já é um bom indício de uma mudança na forma de se relacionar com o estresse. “É uma indicação de proatividade da pessoa no sentido de cuidar de si mesma”, explica Katia Rubio, professora da Escola de Educação Física e Esporte da USP e editora da Revista Brasileira de Psicologia do Esporte. O exercício físico, em contrapartida, contribui nesse processo ao deslocar a atenção da pessoa para o seu próprio corpo. “A prática promove o contato com o corpo e o desenvolvimento de uma imagem corporal”, explica a professora, ressaltando a importância disso para a percepção de nossas condições e limites.

Durante o exercício, ocorre também a liberação de endorfina, hormônio responsável por uma sensação de bem-estar. Estudos apontam, no entanto, que são necessários no mínimo 45 minutos de atividade para que ela seja eficiente – e em uma frequência de três vezes por semana. A professora da Escola de Educação Física e Esporte recomenda uma avaliação física antes de se escolher uma atividade. Além de trazer prazer ao praticante, ela deve estar de acordo com o seu quadro geral de saúde.

Um compromisso com o instinto de vida se faz presente em vários outros aspectos do cotidiano. A alimentação, muitas vezes sacrificada por conta da correria, é um dos que merecem maior atenção. A nutricionista e pesquisadora do Centro de Referência para Prevenção de Doenças Associadas à Nutrição (CRNUTRI) da Faculdade de Saúde Pública, Marina Tomazela, lembra que uma refeição deve durar pelo menos 15 minutos e recomenda a preferência por alimentos naturais e integrais. Para os que sentem mais fome ou vontade de comer quando estressados, a nutricionista recomenda o fracionamento das refeições, fazendo lanches entre elas. “Isso evita a vontade de beliscar alimentos de fácil acesso, que geralmente são muito calóricos, ricos em gorduras e/ou em sódio”, explica.

Alguns outros pequenos hábitos do cotidiano, como ouvir música no ambiente de trabalho, praticar certas respirações ou mesmo ter um animal de estimação, podem trazer um pouco mais de tranquilidade ao corpo e ao dia a dia. Leia mais sobre os benefícios dessas atividades.

Confira aqui os cursos comunitários oferecidos pela Escola de Educação Física e Esporte e faça sua avaliação física.

Deixe um Comentário

Fique de Olho

Enquetes

As questões nas reuniões do Conselho Municipal de Política Urbana envolvem, indiretamente, transporte e mobilidade. Em sua opinião, qual item seria prioridade para melhorar o transporte público?

Carregando ... Carregando ...

Dicas de Leitura

A história do jornalismo brasileiro

O livro aborda a imprensa no período colonial, estende-se pela época da independência e termina com a ascensão de D. Pedro II ao poder, na década de 1840
Clique e confira


Video

A evolução do parto

O programa “Linha do Tempo”, da TV USP de...

Áudio

Energia eólica e o meio ambiente

O programa de rádio “Ambiente é o Meio” foi...

/Expediente

/Arquivo

/Edições Anteriores