Seminário organizado pelo Centro de Preservação Cultural da USP debate a questão do reconhecimento dos bens culturais Na próxima semana, nos dias 26, 27 e 28 de maio, o Centro de Preservação Cultural (CPC) da USP, instalado na Casa...
Demonstrando amor pela profissão, a carreira acadêmica da mais antiga docente da Universidade completa 70 anos
Por Raphael Martins
Com seus 94 anos recém-completados, Berta Lange de Morretes trabalha em uma sala que se assemelha a um túnel do tempo. Móveis em estilo colonial, fotos em preto e branco, um enorme acervo bibliográfico com livros de todos os tipos e edições. Não há computadores. Ela não lê seus e-mails na tela, eles são impressos todos os dias e as respostas são transcritas. Pode-se compreender um pouco melhor esse cenário quando ela revela que trabalha na mesma sala há 50 anos, desde a inauguração do prédio do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo. Recentemente, a professora Berta de Morretes completou 70 anos como docente da USP, sempre atuando na área da Botânica.
Nasceu em 28 de junho de 1917, em Iffeldorf, na Alemanha. Registrada na embaixada brasileira, ganhou a dupla nacionalidade. Seus pais moravam na Europa para especialização profissional, mas, ao final da guerra, voltaram ao país de origem.
No Brasil, moraram em Curitiba, onde, ela e sua irmã Ruth, cursaram o ensino médio no Ginásio Paranaense. Segundo ela, a educação recebida no colégio foi fundamental para sua formação pessoal e carreira acadêmica: “Eu lembro, como se fosse hoje, a qualidade do ensino desse colégio. Minha irmã e eu estávamos em condição de prestar o vestibular para qualquer curso”.
A família veio para São Paulo depois de um convite feito pela equipe de pesquisas zoológicas do Museu Paulista ao pai de Berta, Frederico Lange de Morretes. Já nessa época, as irmãs decidiram, coincidentemente, prestar o recém-criado curso de História Natural, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL).
Foram ingressantes da segunda turma formada. Por se tratar de um curso bastante especializado, no seu início, era ministrado por professores estrangeiros, vindos da Europa. Berta conta suas dificuldades para acompanhar as aulas naquele tempo: “Todas as disciplinas foram dadas em inglês, francês e em italiano, nós que nos virássemos. Quando reclamávamos, eles diziam que, no nosso currículo, constava na grade escolar o inglês e francês”. Apesar de tudo, ressalta que as dificuldades foram, no fim, benéficas para o aprendizado: “Foi muito difícil para nós, como alunos, fazer o curso de História Natural. Mas valeu, pois tivemos que nos esforçar muito para passar”.
Em 1941, Berta e Ruth obtiveram a licenciatura e bacharelado em Ciências Naturais e, pelo destaque como estudantes, iniciaram carreiras acadêmicas logo em seguida. Ambas foram nomeadas para lecionar na própria FFCL: Ruth seguiu para a Biologia, enquanto Berta seguiu para a área da Botânica, dando início ao que seriam 70 anos de carreira. Começou como assistente, fez o doutorado, livre-docência e concurso para professora titular da Universidade.
Como docente, ela leva o comportamento e a relação aluno-professor bem a sério: “O professor tem que ser o exemplo. Não só na aula, mas em tudo. O aluno tem que se espelhar no que o professor faz e naquilo que ele é. (…). Olha, muita gente não deveria ser professor. Não tem paciência. Uns colocam uma cerca entre ele e o aluno, não pode. Outros o tratam como se fosse irmão, também não pode. O seu comportamento que deve ser essa cerca, você pode brincar, mas tudo tem um limite. Você deve respeitá-lo, mas também traçar uma linha de respeito para você”.
Fazendo um pequeno balanço de sua vasta carreira, contemplada por várias premiações, reconhecimentos de contribuição à pesquisa e após tornar-se referência na área da Botânica, a professora Berta Lange de Morretes mostra-se muito satisfeita e orgulhosa de sua trajetória. Mesmo depois de tanto tempo como docente da Universidade, é possível perceber a paixão pela profissão e a vontade de seguir para sempre no cargo: “Agora, fez 70 anos que eu estou trabalhando aqui na USP. É mais do que a vida de muita gente que conheci. Gosto imensamente do que faço. Até hoje, não sei do que eu gosto mais, se é de lecionar ou se é de pesquisar. Gosto das duas coisas e continuo fazendo as duas coisas”.
seg, 29 de junho
dom, 28 de junho
dom, 28 de junho
sáb, 27 de junho
sáb, 27 de junho
sex, 26 de junho
sex, 26 de junho
ter, 2 de junho