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A precisão da imagem cartográfica e seu conteúdo histórico

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Por Márcia Scapaticio

Biblioteca Digital de Cartografia Histórica disponibiliza coleção de mapas do antigo Banco Santos que está sob a custódia provisória do IEB

Navegar é preciso, viver não é preciso. Tal frase do poeta Fernando Pessoa, embora tenha várias interpretações, também remete ao período das grandes navegações e do descobrimento. Circulando por esse universo da direção e do sentido temos os mapas que carregam, além do aspecto físico, um viés histórico e ideológico.

Um acervo importante sobre o assunto existe e está disponível na internet. A Biblioteca Digital de Cartografia Histórica é uma iniciativa do Laboratório de Cartografia Histórica da Cátedra Jaime Cortesão da FFLCH, em parceria com o Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) e o Centro de Informática de São Carlos (CISC).

O acervo é formado pela coleção de mapas impressos e agora digitalizados do extinto Banco Santos, que está sob a custódia temporária do IEB. Um dos muitos atrativos do site é que o material está disponibilizado em alta resolução, afirma com entusiasmo a professora Iris Kantor, do Departamento de História, da FFLCH. Além do conteúdo digital, o público pode consultar informações cartobibliográficas, biográficas, verbetes, além de aprender sobre questões técnicas e editorias, que aproximam o usuário do contexto dessas imagens cartográficas.

Professora Iris Kantor acompanhou o processo de digitalização dos mapas

A coordenadora técnica de informática de São Carlos, Maria de Lurdes Rebucci, nos conta como aconteceu o convite para essa parceira: “Dentro do projeto multidisciplinar da Universidade, o CISC foi responsável pela implementação de outros sites, como a Biblioteca Digital de Teses e Dissertações. Nesse contexto fomos convidados a colaborar. Assim, quatro profissionais analisaram os dados existentes, desenvolveram o Banco de Dados, estruturaram as ferramentas de georeferenciamento e formas de visualização dos mapas”, explica. Todo o sistema foi desenvolvido em software livre.

A disponibilização do conteúdo em alta resolução, elogiada pela professora Iris, é detalhada por Maria de Lurdes: “A execução dessa ferramenta requer mecanismos de compressão de imagens para que o carregamento não seja lento. Para vencermos esse desafio, realizamos uma pesquisa em sites que ofereçam essa mesma tecnologia e usamos uma técnica que permite quebrar as imagens em vários arquivos e níveis de visualização, simulando a aproximação ou afastamento do objeto digital”, conclui.

Segundo Iris, os mapas são objetos culturais complexos, constituíram uma importante fonte para compreensão do imaginário da expansão imperial na época das grandes navegações europeias. “Contrariamente ao que se pode imaginar, os mapas impressos nessa época atendiam, menos às finalidades de navegação ou de conquista militar, do que ao consumo doméstico aristocrático e burguês, aspecto que ainda permanece” , observa.

Iris explica que considera importante mostrar o circuito de vida de cada mapa, qual seu atlas de origem, quem são os editores, quais as transformações sofridas pelas cópias originais e os lugares onde foram expostos. “Através de um rastreamento, o usuário pode comparar várias reproduções e compreender a trajetória dos objetos cartográficos, filtrar as informações pertinentes e permitir que os pesquisadores descartem as informações irrelevantes. Atualmente, esse é nosso principal desafio, evitar que o excesso de informação se transforme em desinformação”, esclarece.

Um dado relevante é que o acervo original é composto por 800 peças, mas apenas 300 estão sob a custódia da Universidade, que tem como obrigação tornar público esse conteúdo. Provavelmente os demais foram vendidos ou dispersados no processo de liquidação do banco, observa Iris, afirmando que não se sabe o que vai acontecer com o acervo original, “isso dependerá da decisão judicial”.

Parceria, Tecnologia e Educação

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O CISC concretizou as ideias dos historiadores e pesquisadores. Maria afirma que “parcerias dessa natureza são enriquecedoras e essa, em particular, agrega várias áreas do conhecimento e por isso foi bastante estimulante”.

Um fato prático apontado por Iris é a necessidade de mostrar a potencialidade desse tipo de site para a educação. “Os currículos educacionais ainda usam pouco os mapas e precisamos explorar mais essas fontes. O site é um convite ao interesse dos professores na preparação das aulas. O mapa histórico é uma representação da realidade segundo critérios dos seus autores, mas é semelhante à outra fonte de conhecimento, como um poema ou uma carta, e pode ser usado para complementar outros documentos que os historiadores usam para reconstituir o passado.”

Financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e com o apoio da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão, o acervo deverá ser disponibilizado integralmente até o final de 2011.

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