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A Estação Pinacoteca exibe a mostra “Andy Warhol, Mr. America”, com cerca de 170 trabalhos de um dos mestres da pop art
Por Luiza Furquim e Roberta Figueira
O ícone da pop art Andy Warhol costumava fazer afirmações célebres sobre si mesmo. Para o visitante da exposição “Andy Warhol, Mr. America”, em cartaz na Estação Pinacoteca, será interessante ter em mente uma delas: “Se você quer saber tudo sobre Andy Warhol, olhe simplesmente na superfície: das minhas pinturas e filmes e de mim, e lá estou eu. Não há nada atrás disso”.
Esse conhecido insight do artista é, à primeira vista, uma declaração de sua própria superficialidade, porém, não condiz com o que revelam as cerca de 170 obras em exibição – 26 pinturas, 58 gravuras, 39 trabalhos fotográficos, duas instalações e 44 filmes. A exposição pretende mostrar que Warhol, na verdade, estava consciente das questões formais da arte contemporânea e retratou de forma única os anseios de toda uma geração frente à cultura de consumo americana.
A mostra, com curadoria de Philip Larrat-Smith, foi organizada em colaboração com o The Andy Warhol Museum, em Pittsburgh, Estados Unidos, onde o artista nasceu em 1928.
Concomitante à exposição, a Editora Globo lança a tradução da biografia Pop – The Genius of Andy Warhol, escrita pelo artista Tony Scherman e o fotógrafo David Dalton e publicada em 2009 pela nova-iorquina Harper Collins Publishers.
É impossível dizer algo sobre os trabalhos de Warhol sem falar sobre o próprio artista. “Além de Picasso nenhum outro artista de sua época teve seu nome e obra ligados a um anedotário dramático tão substancial e densamente ‘mitologizado’”, conta o escritor e cineasta Gary Indiana. O Warhol que se mostrava ao público era um personagem elaboradamente construído, o “mestre de cerimônias de um circo contínuo”, diz Indiana.
“É muito duro olhar no espelho. Não há nada lá”, declarou o artista certa vez. Warhol foi um voyeur dedicado. Tudo o que observava e reproduzia em tela ou vídeo tornou-se parte dele, fragmentos de sua identidade. Nesse sentido, os autorretratos servem de referencial e a Pinacoteca exibe alguns de destaque, como Uncle Sam (1961), Self-Portrait in Drag (1981) e Flash November, 22, 1963 (1968).
Caso único entre os artistas pop, filho de imigrantes pobres do Leste Europeu, Warhol compartilhava o ardor da classe baixa norte-americana do século 20 pelos produtos de consumo, o que conferiu a sua obra uma aura inédita. “Sua desvantagem econômica provou ser sua vantagem pop”, escrevem.
Sejam desenhos, telas ou silk-screens de fotografias, os trabalhos de Warhol revelam o fascínio pelo simulacro, a cópia, a imagem de segunda geração. Da mesma forma como eliminou a distinção entre fotografia e pintura, fez desaparecer o abismo entre arte erudita e comercial. “Na arte comercial, a divisão de trabalho é a norma”, explicam os autores. “Quando Andy começou a usar essa norma nas belas-artes na década de 60, abalou o mito do auteur, a única e solitária fonte da arte.”
Antes mesmo dos anos 60, Warhol já desconfiava que o sucesso no mundo da arte e das galerias era “tudo promoção” e mostrou que “a arte e os negócios estavam ligados indissoluvelmente”.
Apesar de o viés político ou crítico ser insuficiente para explicar Andy Warhol – o desejo, o glamour e a celebração estão sempre presentes, como a segunda face de uma moeda – seus trabalhos requerem uma insensibilidade e um pragmatismo característicos da cultura contemporânea.
As pinturas da série Death and Disaster, presentes nesta exposição, demonstram essa realidade contemporânea. As obras Little Electric Chair (1964), Five Deaths (1963) e Suicide (1963), sobre a violência dos anos 60, traduzem a indiferença à violência, assimilada pelos padrões da vida cotidiana, que caracterizava a sociedade americana, quando chacinas e assassinatos em série se tornaram triviais.
A filmografia do artista, muito menos conhecida que as Marilyns e as latas de sopa, também mostra as mudanças na vida social e cultural dos Estados Unidos. Da vasta produção cinematográfica, alguns filmes se tornaram clássicos do underground, como Chelsea Girls (1966), Empire (1964) e Blow Job (1963), sendo que os dois últimos estão presentes na mostra.
O cinismo típico de Warhol aliado ao amor pelo consumismo fizeram desse polêmico artista, segundo sua biografia, “o verdadeiro apóstolo do casamento profano entre arte e comércio do pós-modernismo”.
Estação Pinacoteca
Local: Largo General Osório, 66
Fone: (11) 3335-4990
Horário: terça a domingo, das 10h às 18h
Data: até 23/5
Preço: R$ 6,00 (inteira), R$ 3,00 (meia-entrada) e gratuito aos sábados