Dona Yayá

Sebastiana de Mello Freire, nascida em 21 de janeiro de 1887, pertenceu a uma aristocrática família paulista marcada por acontecimentos trágicos. Ainda criança, perdeu duas irmãs pequenas, uma delas asfixiada; aos 14 anos perdeu pai e mãe em um intervalo de dois dias; e aos 18 anos perdeu o único irmão, que cometera suicídio durante uma viagem de navio. Sem mais nenhum parente de primeiro grau, Yayá, como era chamada, viveu desde a morte dos pais sob a tutela de Manuel Joaquim de Albuquerque Lins (político liberal que exerceu a presidência de São Paulo entre 1908-1912), recomendado pelo próprio pai em testamento, e foi interna no tradicional colégio Nossa Senhora de Sion, frequentado pelas moças da elite paulistana. Em 1914, viajou à Europa em companhia de algumas de suas amigas, por ocasião do início da Primeira Guerra Mundial. Depoimentos dos que conviveram com ela relatam ter sido uma pessoa religiosa, alegre e generosa.

Em 1919, após apresentar recorrentes sinais de desequilíbrio emocional, Dona Yayá foi internada em um hospital psiquiátrico. Parentes próximos e seu tutor seguiram a orientação dos médicos de continuar o tratamento em casa, onde teria mais conforto. Foi comprada então a casa na Rua Major Diogo (antigo número 37, hoje o número 353, no bairro da Bela Vista), para recebê-la. A região era, à época, uma área de chácaras afastada da agitação do centro da cidade, onde até então residira Dona Yayá – um palacete na Rua Sete de Abril. Nessa nova casa Yayá viveu reclusa até seu falecimento, em 1961, passando a maior parte do tempo encerrada nos aposentos adaptados para sua segurança, cercada por parentes distantes, amigos e empregados.

Essa inusitada trajetória, associada à sua destacada posição social, foi alvo de especulações pela imprensa sensacionalista, rendendo alguns artigos no jornal O Parafuso sobre a possível relação entre a interdição e a apropriação de sua fortuna. A história de Dona Yayá instiga a curiosidade e a imaginação dos que dela ouvem falar: ela ora é apresentada como a “louca do Bixiga”, ora como vítima incompreendida pela moral da época em que viveu. A Universidade de São Paulo, por meio do CPC, e tem levado à frente várias pesquisas sobre sua trajetória pessoal e da sua casa, que restaurada e tombada como patrimônio cultural é testemunha dessa história.