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O IQ faz parte de faz parte de um consórcio internacional para fazer o sequenciamento completo da cana
Por Roberta Figueira
Uma das questões mundiais sobre a expansão da agricultura da cana-de-açúcar no Brasil diz respeito à área que seria ocupada pelas novas plantações, se iria competir com a produção de alimentos ou gerar desmatamento. Em resposta a isso, o governo federal lançou o zoneamento agroecológico da cana-de-açúcar. A medida determina que a expansão dos canaviais não destruirá vegetação primária, especialmente a floresta amazônica. Segundo o professor Antonio Roque Dechen da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), o Brasil possui atualmente tecnologia de sobra para garantir a expansão da cana sem causar esses danos ao meio ambiente.
“Hoje nós temos tecnologia para aumentar nossa eficiência agronômica, para fazer um aproveitamento maior de uma mesma área sem desmatar ou prejudicar o setor alimentício”, diz Dechen. Segundo ele, a principal área passível dessas mudanças é a de pastagem e de gado. “Numa propriedade agrícola o indivíduo pega as melhores áreas para a agricultura e as piores para pasto e gado”, conta. A proporção de cabeças de gado no Brasil é na ordem de 0,9 cabeça por hectare atualmente, número que, segundo o professor, pode chegar a 2 ou 2,5 cabeças se houver um aumento na qualidade de pastagem por meio da aplicação de tecnologia. “Podemos gerar mais capim usando tecnologia na pastagem e liberando área, com esse espaço pode-se plantar cana. No entanto, isso também requer uso de tecnologia nessa área para aumentar a qualidade da terra”, explica Dechen.
“Temos tecnologia para fazer a expansão da cana sem concorrer com a produção de alimento ou desmatar áeras de preservação”, afirma Antonio Carlos Dechen
O papel do Brasil e da América Latina na expansão da cana e no desenvolvimento de biocombustíveis, principalmente etanol, é essencial. A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) participa de uma iniciativa mundial chamada Global Sustainable Bioenergy (GSB), que possui representantes de todos os continentes. A última reunião, sediada na Fapesp no final de março, gerou uma resolução que determina esse papel fundamental para a América Latina, que possui disponibilidade de terra que não concorreria com alimento, na criação de um mercado internacional. “Não se pode produzir etanol apenas em um país, pois ninguém quer depender de um único fornecedor. O Brasil nesse contexto servirá como um grande difusor de tecnologias para o mundo”, explica a professora Glaucia Mendes Souza, do Instituto de Química (IQ).
Medidas como a criação do Centro Paulista de Pesquisa em Bioenergia coloca o Brasil nesse caminho. “A agricultura gera comoditeis primárias, que só são rentáveis em grandes quantidades. Precisamos realizar o processo seguinte de agregação de valores, o que atualmente dá uma visibilidade externa muito grande pelo fato de ser um caminho para energia limpa”, diz Dechen.
O investimento por parte da USP é grande e o IQ aproveitou o momento para tomar a iniciativa de trazer do exterior pesquisadores que reforcem a equipe brasileira. “A Fapesp possui uma linha de financiamento para jovens pesquisadores, que possibilita a montagem de um laboratório para alguém com uma pesquisa em destaque. A ideia do IQ é aproveitar isso para trazer pessoas que possam fazer coisas que ainda não fazemos aqui, que possam preencher nossas lacunas em pesquisas na área”, conta Glaucia.
Há um uso de outras plantas com ciclo de vida mais rápido nas pesquisas, mas geralmente o objetivo é aplicar as descobertas na cana. Segundo Glaucia, a cana-de-açúcar é o alvo principal por ser uma indústria muito importante no Brasil, que já está consolidada e possui uma logística montada.
“O homem não saiu da idade da pedra porque a pedra acabou. Não precisamos esperar acabar o petróleo para achar alternativas e mudar como usamos a energia”, conclui Glaucia.