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O livro e o tempo como inimigo

O que fazer para que os adolescentes tenham o hábito da leitura?

Por Cinderela Caldeira

Em 29 outubro, comemoramos o Dia do Livro. A data foi escolhida em homenagem à fundação da Biblioteca Nacional, por d. João VI, em 29/10/1810, que possui um acervo considerado um dos mais importantes do mundo.

A história do livro remonta a cerca de seis mil anos. A necessidade para registrar seus conhecimentos e difundi-los levou o homem a utilizar os mais diferentes tipos de materiais até chegar ao papel.

O papel é considerado o principal suporte para a divulgação das informações e conhecimento humano. Por conceito, informação é o resultado do processo e organização de dados que representa uma modificação no conhecimento do sistema que uma pessoa recebe, e a leitura é uma das formas de se adquirir esse conhecimento.

Plinio Martins Filho, diretor-presidente da Editora da USP (Edusp) e professor do Departamento de Editoração da Escola de Comunicações e Artes (ECA) diz que em países da Europa, os índices de leitura são altíssimos, “eles têm uma tradição milenar com os livros, e nós temos duzentos anos de imprensa no Brasil, estamos engatinhando”. O hábito de ler se faz a longo prazo, uma cultura contínua, que começa na infância e adolescência.

O professor conta o caso de uma amiga, que trabalha em uma editora da capital paulista, e como seus filhos foram punidos pelos colegas de turma por estarem lendo. “Quando seus filhos entravam na perua escolar, ao em vez de participarem da bagunça da criançada, eles abriam um livro e ficavam lendo. Um dia os outros meninos avançaram nos livros deles e os rasgaram. A mãe foi obrigada a tirar as crianças da escola porque a pressão social do grupo foi tão forte, que eles foram punidos por gostarem de ler.”
O mercado do livro no Brasil mantém as grandes editoras ou é o Best-seller ou o livro didático que. “Cabe à Universidade estudar por que o, hábito de leitura é perdido durante a infância e não é mantido depois”, reflete o professor.

Para ele, o hábito de leitura existe na infância, toda criança adora ler ou ouvir seus pais lerem as histórias, mas há um afastamento desse hábito quando chega à adolescência. Um dos motivos pode ser porque, nessa fase, o livro não tem o mesmo status que outras diversões como jogos, videogames e música.

Outra razão apontada pelo editor é que quando o adolescente, com 13 ou 14 anos começa a ter contato com literatura na escola, isso se faz com autores da literatura clássica, como Camões, Machado de Assis e outros. “É uma leitura muito difícil nessa faixa intermediária, é um choque, que às vezes até afasta o hábito de ler”, comenta Martins.
“Há uma ruptura no hábito de ler, é necessário se produzir uma literatura para que esse hábito continue. Hoje, o maior benfeitor da leitura é o Harry Potter, então alguém descobriu uma literatura que prendeu a atenção desses leitores”, diz Martins. Nesse caminho começam a surgir outros autores que são sucesso entre os adolescentes, é o caso de Talita Rebouças escritora brasileira que lançou nove títulos e em abril de 2009 já tinha vendido mais de 200 mil exemplares, e Meg Cabot, escritora americana que ficou conhecida com a série O Diário da Princesa.

O livro é um produto de caráter intelectual, repleto de informações e conhecimentos, e hoje temos a internet. Mas qual será o futuro do livro nesse avanço da era da informática? O impresso e o virtual poderão caminhar lado a lado?

“A internet oferece uma diversidade grande de informações, mas a leitura é superficial. O livro faz o indivíduo pensar pela fabulação que ele cria. Na questão da informação para formação o livro ainda é o melhor veículo”, enfatiza Martins.

Se quisermos uma informação rápida, a internet oferece. Essa facilidade faz com que não precisemos mais nos preocupar em ir a uma biblioteca e buscar um livro que nos dê a resposta desejada. “Esse excesso de informações está formando pessoas sem memória. As informações estão disponíveis como se fossem um cérebro ambulante. A memória exige reflexão, exercício e pensamento, e a internet não provoca isso, este é meu ponto de vista.”
Martins não acredita que o e-book ofereça riscos ao livro como conhecemos. “Uma tecnologia só é substituída se houver coisa melhor. O que o e-book oferece além do livro? Absolutamente nada. O livro ainda é o melhor instrumento de leitura, com conteúdo e a reflexão que ele possibilita.”

O livro existe há milhares de anos e vai continuar existindo. A internet é um auxiliar, e os dois podem conviver. Para ler é necessário tempo, e este é o grande inimigo do livro. Para nós usuários de computador, a lentidão para abrir um arquivo é algo que não admitimos. Contudo com a leitura não podemos ter essa pressa. Entregar-se à leitura é um excelente passatempo, experimente!

Um comentário sobre “O livro e o tempo como inimigo”

  1. Tenho saudades dos tempos de Ginasial; o aroma que exalava dos livros até hoje não me saem das entranhas. Lembro-me até das pessoas que pela bibliotéca passavam. Não era permitido levar para casa, tinha que usar a sala e com todo silencio. Os serventes na minha época precisavam expulsar os alunos das bibliotécas. Como havia cursos noturnos, eu extrapolava, como aquele filme que se assiste duas vezes em seguida.Que saudades de Monteiro Lobato entre outros.

    Hoje pergunta-se a um aluno, – Quantos livros lê por ano? – Resposta – Nenhum.

    A Internet facilitou muito sobre a pesquisa, mas parece que contribuiu com o emburrecimento de muitos.

    Certa vez questionei um familiar jovem, advogado. – Por que você tão jovem; doutor e mestre, é procurado por magistrados também jovem e alguns idosos com vasta experiência. Respondeu-me – SEBO, alí está a resposta. Ninguém está mais perdendo tempo em ler uma lei antiga; um decreto; ou ensaios importantíssimos.

    Eu já estou mais para ouvir que falar, mas leitura direta de uma obra, É UM ENORME PRAZER.

    Abraços.

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