Cinema

O cinema português essencial

Sapatos

Quem Espera por Sapatos de Defunto Morre Descalço

Promovida pelo Cinusp, com apoio do Instituto Camões, começou, dia 1o de junho, a mostra cinematográfica “João César Monteiro”, realizador português tido como imprevisível, lírico e essencial. O cineasta, que nasceu em 1939, chegou meio por acaso ao mundo do cinema. “Em 1963, na injusta qualidade de bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, parti para Londres a fim de frequentar a London School of Film Technique”, como ele próprio conta. Em 1965 tentou colocar em prática seu projeto em 16 mm Quem Espera por Sapatos de Defunto Morre Descalço, que só se concretizou cinco anos mais tarde. O filme, que foi mal recebido junto à crítica, fala sobre cinema, sobre jovens e inexperientes atores e sua relação com a câmera, suas aventuras e desventuras em Lisboa.
Um pouco antes, em 1969, João César Monteiro lança sua primeira obra como realizador, afirmando que “foi, pois, na mais desregrada euforia que fiz o filmezinho sobre Dona Sophia”. Sophia de Mello Breyner Andresen retrata a vida e a obra da poetisa, privilegiando aspectos do cotidiano, inclusive com depoimento pessoal. O diretor empresta ainda voz às leituras de A Menina do Mar, Esta Gente e Inscrição, em consonância à música de Johann Sebastian Bach, além de prestar uma homenagem à memória de Carl Theodor Dreyer.
Depois de terminado Sapatos, dá início à A Sagrada Família, que considera uma experiência relativamente importante, “se não, e com certeza que não, no plano global de um cinema português, pelo menos no plano particular do meu próprio cinema, e na exata medida em que, por um lado, discute e corrige dialeticamente o filme anterior e, por outro, prepara já o filme seguinte”. Fragmentos de um Filme-Esmola: A Sagrada Família (1972), filmado em 8 mm, por uma criança, mostra o cotidiano da família: Maria, que trabalha em uma fábrica de chapéus-de-chuva, e João Lucas, que vive literalmente na cama.

Sagrada Família

Sagrada Família

A história de Silvestre (1981) foi inspirada em dois romances portugueses tradicionais: A Donzela que Vai à Guerra, de origem judaica peninsular, e A Mão do Finado, narrativa que faz parte do ciclo do Barba Azul. O filme, que lançou a atriz Maria Medeiros no cinema, é ambientado no século 15, quando Dom Rodrigo, já velho e sem herdeiro, arranja um casamento para a filha, depois parte em viagem, e coisas estranhas começam a acontecer. À Flor do Mar (1986), com uma trama policial que envolve uma família e um assassinato de um líder palestino, incluindo outros elementos, como um misterioso veleiro, um assalto feito por um grupo armado, explosão e fogo.

Destaque ainda para Recordações da Casa Amarela (1989), Leão de Prata no Festival de Veneza, que consagrou o diretor internacionalmente, filme que se passa em Lisboa contando a história de um homem de meia-idade. E os recentes Branca de Neve (2000, colorido/preto-e-branco), um filme sem imagens, em que se ouvem apenas vozes interpretando o poema do escritor suíço Robert Walser, uma versão moderna de “Branca de Neve”, em que a história começa exatamente onde termina o relato dos irmãos Grimm; e Vai e Vem (2003), finalizado pouco antes da morte do diretor, que mostra o cotidiano de um viúvo que tem um único filho preso por inúmeros crimes, e sua rotina se baseia em viagens que faz na linha do ônibus 100, em Lisboa, até que o filho sai da prisão e sua vida sofre uma reviravolta. Construído com planos-sequência depurados, Vai e Vem fecha uma das mais incômodas obras do cinema contemporâneo.

A mostra vai até 19 de junho, com sessões às 16h e 19h, no Cinusp (r. do Anfiteatro, 181, favo 4 das Colmeias, Cidade Universitária, tel. 3091-3540). Programação completa no site www.usp.br/cinusp. Grátis.

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