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Laboratório no ICB desenvolve produto que age diretamente nas células cancerígenas
O grupo de pesquisa do professor Luiz Carlos Ferreira, do Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas do ICB-USP , tem avançado no processo de desenvolvimento da vacina contra lesões malignas causadas pelo papiloma vírus humano (HPV), tipo 16. O produto final seria essencial no combate ao câncer de colo de útero, que mata anualmente 400 mil mulheres no mundo e é causado, em 99% dos casos, pelo patógeno (agente biológico capaz de causar doenças).
O HPV é transmitido por contato sexual e possui mais de 200 variantes. Estima-se que 600 milhões de pessoas já foram infectadas. A maior parte dos casos se concentra em países em desenvolvimento, totalizando, nesses locais, 80% das mortes por câncer cervical. No Brasil, entre 60% e 75% da população teve contato com alguma variedade do vírus. O exame de Papanicolau é o procedimento mais utilizado no diagnóstico da doença, que, se detectada no início, é curada na maioria dos casos.
Atualmente, existem no mercado duas vacinas profiláticas que impedem a infecção por alguns tipos virais. A vacina bivalente (previne os tipos 16 e 18), é produzida pelo laboratório Glaxo Smith Kline (GSK) e a quadrivalente (previne os tipos 6,11,16,18) é produzida pelo laboratório Merck Sharp e Dohme, ambos norte-americanos. A Anvisa já aprovou o uso dos dois produtos em meninas e mulheres entre 9 e 26 anos. Porém, caso a infecção já tenha ocorrido, a vacina torna-se ineficaz contra o tipo de vírus detectado na paciente. Além disso, ambas estão disponíveis apenas na rede particular, com um custo total de R$ 1.200,00 (três doses de R$ 400,00, administradas ao longo de seis meses). Considerando que muitos casos estão associados a populações de baixa renda, essa vacina tem pequena abrangência populacional.
Francisco Cariri, Vinicius Santana e Bruna Maldonado pesquisadores do Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas
Os pesquisadores do ICB buscam desenvolver uma vacina de DNA que agirá nos organismos já infectados pelo vírus e que possuam algum tipo de lesão induzida por ele. Esse tipo de vacina é alvo de pesquisas no mundo todo, para prevenção de diversos patógenos, como herpes e HIV. Elas estimulam as células do sistema imunológico a reconhecer as células-alvo e destruí-las.
“O grande problema é que muitas pessoas já estão infectadas pelo vírus”, afirma Vinicius Santana, pós-graduando do ICB e pesquisador do Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas. “Fazer uma vacina profilática não seria suficiente para curar pessoas que já possuem a doença.”
Assim, desenvolveu-se a ideia de produzir uma vacina de DNA, que estimulasse os linfócitos T no combate às lesões malignas das pessoas já portadoras da doença. Como o HPV 16 é responsável por 60% dos casos de tumor, a pesquisa centrou-se no combate aos efeitos desse vírus.
O grupo recebe financiamento da Fapesp, Capes, CNPq e Ministério da Saúde. Testes laboratoriais, aplicados em camundongos, estão sendo realizados com sucesso. A próxima fase será testar o produto em animais maiores e, depois, passar para experimentos com seres humanos. “Todo cuidado é necessário para se observar os efeitos colaterais, desde toxicidade na pele a alterações sistêmicas”, afirma Bruna Maldonado, pós-graduanda e componente do grupo de pesquisa.
A vacina seria indicada, especificamente, para portadores do vírus devidamente diagnosticados. Dessa forma, não seria necessário realizar campanhas de vacinação abrangentes. A princípio, o produto seria destinado a mulheres, já que os casos de câncer de colo de útero são muito mais expressivos em relação ao câncer peniano, que ataca os homens também em decorrência do HPV. A discussão, no entanto, ainda é necessária, pois os homens funcionam como reservatórios da doença, auxiliando a transmissão.
Outra vantagem da vacina de DNA é o seu baixo custo de produção, o que a tornaria mais acessível para a população. Além disso, sua implantação inicial seria feita como complemento aos tratamentos de câncer de colo de útero já existentes hoje.
Além de Vinicius Santana e Bruna Maldonado, participam do grupo Francisco Cariri e Mariana Diniz. Todos eles estão na pós-graduação do Instituto de Ciências Biomédicas da USP.