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Uma vida dedicada ao desenvolvimento da engenharia

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Programa USP Internacional

 

Por Ana Luiza Tieghi

ReproduçãoTrabalho realizado pelo ex-diretor do IEE foi fundamental para o crescimento da instituição e até mesmo do Estado

“Sinta-se à vontade para cancelar tudo e partir para outro personagem.” Foi assim que Euclydes Paschoal Casella terminou uma mensagem enviada para esta reportagem. O senhor de 84 anos tem como característica mais marcante uma grande modéstia. Engenheiro mecânico eletricista formado pela USP em 1952 e reconhecido por ter dirigido o atual Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE) por uma década, entre os anos de 1976 e 1986, Casella possui uma história muito rica.

O engenheiro recebeu no dia 20 de março uma homenagem feita pela Escola Politécnica e pelo IEE por sua importante contribuição para o instituto. “Tive a honra de passar por ele em alguns momentos, que foram marcantes para mim”, disse na ocasião José Roberto Cardoso, diretor da Poli. O diretor do IEE, Ildo Luís Sauer, também discorreu sobre a relação positiva de Casella com o instituto. “O presente é uma contribuição dos que vieram antes. Nós herdamos o seu trabalho e estamos conduzindo-o com orgulho.”

Euclydes Casella foi diretor do Instituto de Eletrotécnica e Energia durante uma década

Euclydes Casella foi diretor do Instituto de Eletrotécnica e Energia durante uma década

Durante a direção de Casella, o IEE se chamava apenas IE (Instituto de Eletrotécnica). Sua gestão atuou de forma prática, ajudando o governo estadual paulista a solucionar problemas imediatos. No governo de Lucas Nogueira Garcez, por exemplo, entre os anos de 1951 e 1955, foi construída a usina hidrelétrica de Salto Grande. Segundo Casella, “sem equipe treinada para os ensaios de recebimento dos equipamentos importados, a Uselpa (Usinas Elétricas do Paranapanema S.A.), empresa criada pelo Estado para o empreendimento, recorreu aos engenheiros e técnicos do IE para a aferição de todos os instrumentos de medida e a verificação do sistema de proteção”. A participação do Instituto foi fundamental para que a obra pudesse ser concluída e a usina entrasse em operação. “Este mesmo trabalho continuou por alguns anos nas demais usinas construídas, até que a empresa, já com o nome de Cesp (Companhia Energética de São Paulo), organizasse sua própria equipe”, afirmou Casella durante o discurso no evento em sua homenagem.

A contribuição para o Estado também foi importante durante o governo de Jânio Quadros, entre os anos de 1955 e 1959, quando ocorreu um problema sério com a manutenção e operação dos aparelhos de raio-x dos hospitais e centros de saúde. “Por determinação do governador, o IE estruturou equipe e passou a desempenhar essa tarefa com grande eficiência e economia para os cofres estaduais”, relembra.“A atuação do instituto foi sempre pé no chão, objetiva e prática, resolvendo problemas de interesse direto da indústria, na época em que foram dados os primeiros passos que levaram ao desenvolvimento alcançado”, afirma o engenheiro.

Usina hidrelétrica de Salto Grande, que contou com aajuda dos engenheiros do IE para entrar em operacão

Usina hidrelétrica de Salto Grande, que contou com a
ajuda dos engenheiros do IE para entrar em operacão

Esse tipo mais prático de abordagem da engenharia não era bem-aceito por todos os membros do IE, por pensarem que o instituto deveria se dedicar mais à parte acadêmica e menos às questões do Estado. Porém, como conta Casella, “acabou prevalecendo o entendimento de caber ao instituto a obrigação de auxiliar a resolver tais problemas concretos, mesmo tendo consciência que essas atividades jamais poderiam contribuir para a preparação de artigos dignos de publicação em revistas científicas de alto nível”. Ao optar por não focar na área acadêmica, o IE teve papel importante no desenvolvimento do Estado.

Formação

O interesse pela parte prática da engenharia está ligado à infância de Casella, em uma época na qual profissão era vista como algo simples, com a função de montar e consertar aparelhos. “Até onde me lembro, pensei sempre em ser engenheiro”, conta. O ex-diretor do IEE cresceu acompanhando as atividades de um senhor que trabalhava com seu pai, em uma pequena empresa de móveis. “Ele era extremamente habilidoso e fazia todo tipo de serviço, incluindo elétrico e mecânico, sob meu olhar infantil e encantado.”

Formado pela Poli em 1952, Casella logo entrou no IEE, onde permaneceu até se aposentar

Formado pela Poli em 1952, Casella logo entrou no IEE, onde permaneceu até se aposentar

Após formar-se pela Poli, a história do engenheiro se entrelaça com a do próprio IE, tendo começado a trabalhar nele logo após sua formatura, já em 1953, como engenheiro electrotecnologista. Foi também chefe da Seção de Aferições e Medidas entre 1955 e 1976, quando assumiu a diretoria do instituto, cargo em que ficaria até 1986, ao se aposentar. Casella é um raro exemplo de profissional dedicado a uma única instituição. Ele acompanhou o crescimento e as mudanças do Instituto de Eletrotécnica durante mais de 30 anos, possuindo um conhecimento ímpar sobre seu funcionamento.

O amor pela engenharia, porém, não restringiu seu interesse por outras áreas do conhecimento. “A partir dos anos 1950, quando comecei a trabalhar no instituto, passei a frequentar assiduamente uma livraria no Brás que dispunha de grande estoque de livros encalhados, onde descobri preciosidades como edições antigas de Mario de Andrade, Manuel Bandeira, Drummond, Guimarães Rosa, Antonio de Alcântara Machado e tantos outros”, conta. A música clássica também atraiu seu interesse. “Frequentei uma ótima loja de discos na rua Direita. Lá comprei meu primeiro disco de Bach.”

Contribuições

Casella participou, juntamente com o IE, da elaboração das primeiras normas técnicas para equipamentos elétricos, realizada na Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Também colaborou com o Conselho Nacional de Pesquisa, atual CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) na análise e acompanhamento de projetos de pesquisa, em especial relativos ao Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Padct).

O engenheiro recebeu homenagem do IEE e da Poli por seus 30 anos de dedicação ao instituto

O engenheiro recebeu homenagem do IEE e da Poli por seus 30 anos de dedicação ao instituto

Com a intenção de colher subsídios para a construção da nova sede do IEE, na Cidade Universitária, viajou para a Europa e Estados Unidos, nos anos 70. Nesses locais, visitou laboratórios de padrões e medidas elétricas de universidades, institutos oficiais, empresas de eletricidade e fabricantes de instrumentos. Foi uma viagem que causou uma grande impressão no engenheiro e contribuiu para a evolução do Instituto. “Impressionou-me tanto a qualidade dos equipamentos quanto a competência do pessoal com que tive contato. Fiquei conhecendo algumas indústrias fabricantes de instrumentos ignoradas até então no Brasil”, relembra.

Em 1986 o instituto foi reestruturado e renomeado, transformando-se em Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE), configuração que lhe garantiu o título de Instituto Especializado da Universidade de São Paulo. Casella já não possui vínculos com a instituição, mas, como prova a homenagem que recebeu, sua contribuição para o desenvolvimento do instituto perdura até hoje.

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