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Química e sustentabilidade

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Luiz Henrique Catalani

Após receber prêmio por trabalho com fonte renovável, professor do IQ conta como aprendeu a ser químico

Por Isabela Morais

Luiz Henrique Catalani, professor do Instituto de Química (IQ), segundo suas próprias palavras, “aportou no mundo da química por acaso”. Se o início foi marcado pela casualidade, sua posterior carreira sustentou-se por meio do esforço, da dedicação e da paixão. Recentemente, sua trajetória de empenho à química ganhou novo reconhecimento. Em novembro, Catalani e outros três pesquisadores norte-americanos receberam o prêmio internacional Thomas Alva Edison Patent Award 2011, do Conselho de Pesquisa e Desenvolvimento de New Jersey, pela criação de um polímero de fonte renovável.

Catalani no congresso da Fundação Humbolt

A equipe, liderada pelo New Jersey Institute of Tecnology (NJIT), iniciou suas pesquisas em 2004. O trabalho gerou a patente de um novo polímero desenvolvido a partir de derivados do milho. A invenção pode substituir o bisfenol-A – matéria-prima de diversos produtos plásticos e que apresenta riscos à saúde – na composição de resinas epóxi. “Essas resinas têm um uso bastante diverso. Estão presentes principalmente como revestimentos ou como adesivos e placas de circuito impresso nas indústrias de computação, automotiva e eletrônica”, explica.

A patente registrada faz parte de um conjunto de pesquisas denominado Polímeros termofixos derivados de fontes renováveis. As atividades são apoiadas pelo Iowa Corn Promotion Board (ICPB) – espécie de cooperativa de produtores de milho do Estado de Iowa, nos EUA. Com potencial para substituir o bisfenol-A, o novo polímero segue a linha da química sustentável em sua busca pela substituição dos derivados do petróleo.

Após o reconhecimento de um prêmio internacional, é curioso saber que a química foi, na realidade, a segunda opção de Catalani. “Venho de uma família muito pobre e não tinha perspectiva de fazer faculdade. Mas me aventurei no vestibular. Eu precisava entrar na USP, porque era a única universidade gratuita na minha cidade, São Paulo. Meus pais não teriam dinheiro para me sustentar fora. Escolhi uma grande área, as exatas, porque não tinha aptidão para as outras. Dentro das exatas, optei por engenharia, química, física e matemática, nessa ordem. Passei na segunda opção”, conta.

Para Catalani, forçar jovens a definir uma habilidade específica tão cedo na vida é exigir demais. “O jovem tem ideias genéricas do que quer. Eu sou um exemplo disso. Sabia que não tinha aptidão para as outras áreas, então optei pelas exatas, mas sem uma decisão específica.” Durante seu bacharelado, de 1975 a 1979, ele conta que se apaixonou pela área e então passou a ser um químico.

As decisões futuras foram mais pensadas. Catalani revela: “Ao final do meu curso de Química, a indústria nacional na área era muito fraca em termos de pesquisa. Quem ia para a indústria, ou fazia papel de vendedor, ou trabalhava com controle de qualidade. Então, no final de 1979, uma coisa eu sabia: a indústria química não me servia”.

O cenário industrial que, em meados de 1970, parecia não incentivar a pesquisa “mudou da água para o vinho”, conta. “Hoje a indústria química nacional busca uma renovação, tanto de aplicação como de postura. Por isso, investe muito em pesquisa. O doutorando que sai do IQ acha lugar rapidamente no mercado. Na minha época, ele só encontrava lugar no ambiente acadêmico.”

Na época do pós-doutorado em Wurzburg, entre 1984 à 1986

Em 1980, o professor iniciou seu doutorado em química orgânica, na USP, seguido de dois pós-doutorados: em 1984 na Universidade de Würzburg, Alemanha e, em 1986, na Universidade de Harvard, EUA. “Fui contratado como docente da USP em 1988, ligado a fotoquímica, mas ao longo dos anos comecei a tratar da questão da fotoquímica dos polímeros. Por razões diversas, acabei adentrando no âmbito dos polímeros”, conta.

A fim de ganhar mais experiências na área de materiais, em 2004, Catalani decidiu realizar um ano sabático. Foi quando se envolveu com o NJIT e com o projeto que lhe rendeu a premiação. Casado desde 1989 e pai de um filho de 20 anos, estudante de filosofia, Catalani se diz honrado em receber o Thomas Alva Edison Patent Award 2011. “É uma distinção bastante grande que recebemos do Conselho de Pesquisa e Desenvolvimento de New Jersey. É um prêmio muito importante nos EUA.” Sobre o futuro da patente, o professor conclui: “O projeto e suas outras pesquisas têm como objetivo gerar conhecimento e levá-lo para a indústria. Nós somos parte do programa, mas essa patente ainda não está sendo utilizada. Porém, acho que é uma questão de tempo para que se comece a usar as resinas epóxi de fonte renovável na indústria de uso”, relata.

Na época do pós-doutorado em Harvard, de 1986 à 1988

O que são polímeros?

Polímeros são moléculas muito grandes, formadas pela repetição de pequenas unidades químicas (os monômeros). Podem ser naturais, como o amido e a celulose, ou sintéticas.

Por volta da segunda metade do século 19, a produção artificial dessas substâncias ganhou força. Os primeiros polímeros produzidos surgiram a partir de modificações nas macromoléculas naturais. Um grande marco foi a descoberta do processo de vulcanização da borracha, em 1839, a partir do látex.

Somente no início do século 20, os processos de polimerização tornaram-se viáveis para produção em larga escala. O primeiro puramente sintético surgiu em 1907: trata-se do baquelite, o primeiro produto plástico de uso comercial.

Hoje em dia, os polímeros têm presença marcante no cotidiano e estão presentes em diversos produtos como silicones, náilon, acrílicos, teflon, tintas e diversos tipos de plásticos. São majoritariamente derivados do petróleo.

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