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Sociólogo da área de recursos humanos e questões trabalhistas, professor da FEA participou de momentos importantes da Universidade e do País
Em 2014, José Pastore comemora 50 anos como docente da Universidade de São Paulo. Formado em Sociologia pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), interessou-se desde o início pelas relações do trabalho e economia, área que seguiu durante toda sua vida acadêmica.
Pastore é professor aposentado da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) e participou de grandes momentos da economia brasileira, tendo ajudado até mesmo ministros a orientar suas políticas públicas. Por sua contribuição à faculdade, recebeu uma homenagem no dia 27 de novembro de 2013. Estavam presentes amigos, familiares e docentes que conhecem e respeitam a trajetória do professor. “Eu fiquei muito tocado porque houve um reconhecimento que senti ser sincero”, conta.
Além do evento na FEA, um de seus três filhos, José Eduardo Pastore, lançou no final do ano passado o livro Uma Reflexão sobre as Relações de Trabalho – Homenagem ao Professor José Pastore, que reúne artigos de diversos profissionais sobre as questões trabalhistas.
História. O professor nasceu em São Paulo, em 1935. O gosto por ensinar entrou em sua vida desde cedo. “Eu comecei a dar aula com 15 anos de idade, no curso de admissão ao ginásio, ensinava matemática para adolescentes”, conta. Pastore é reconhecido por sua formação sociológica, mas sua primeira graduação na verdade foi na área das ciências biológicas. “Fiz o curso de Saúde Pública pela USP”, explica, e foi durante este período que entrou em contato com a sociologia. Segundo conta, na graduação lidava muito com questões das humanidades. “Fui atraído para elas.”
Na FFLCH, Pastore percebeu que no Brasil faltavam profissionais que trabalhassem na área de recursos humanos, e viu nisso um caminho a ser seguido. Escolha que foi acertada, como mostra sua vasta produção sobre o tema. O professor é autor de mais de 30 livros sobre recursos humanos e questões trabalhistas, além de centenas de artigos. “Minha atividade de escritor foi permanente. Desde jovem escrevi muitos processos de pesquisas e isso me deu prática para escrever”, afirma o sociólogo que, desde 2003, é membro da Academia Paulista de Letras.
Em 1964, Pastore foi para os Estados Unidos fazer seu doutorado em sociologia pela Universidade de Wisconsin, experiência que mudou sua forma de encarar os estudos. “Eu tive um grande susto, porque o ensino lá é muito puxado”, afirma. Como era bolsista, não poderia ter notas baixas, ou perderia sua bolsa. “Não tive remédio, fui estudando e acabei me destacando por lá.” Passado o susto, o sociólogo recebeu inclusive prêmios de melhor aluno durante sua temporada no exterior e afirma ter aprendido a gostar dos estudos intensos.
O alto nível de cobrança ao qual foi exposto pode ser percebido em sua forma de dar aulas na FEA. “Eu puxava muito nas minhas aulas, dava prova toda semana, para eles poderem manter um ritmo grande”, lembra. Pastore se recorda com carinho de quando lecionava para a graduação. “Eu sempre gostei muito dos calouros”, conta. “Eles eram curiosos, faziam perguntas instigantes, eram criativos, não tinham medo.”
O professor também dava aulas para a pós-graduação da FEA, lecionando Metodologia de Pesquisa. Sua formação nas ciências humanas não foi obstáculo para adotar a FEA como sua casa. “Eu fui muito bem recebido porque existiam muitos projetos de pesquisa em recursos humanos e não havia professores para eles”, explica. Pastore chegou a retornar para a FFLCH, agora como professor de Metodologia de Pesquisa e Estatística Aplicada às Ciências Sociais, mas apenas durante um curto período de tempo. A aposentadoria da USP não representou um ponto final para a carreira de docente do sociólogo, que hoje em dia ministra aulas de Relações do Trabalho no MBA da Fundação Instituto de Administração (FIA), entidade formada por professores da FEA no início dos anos 80. “São aulas muito cativantes para mim”, conta. Como seus estudantes já estão ativos no mercado de trabalho, é possível juntar conhecimentos e assim compreender melhor os problemas atuais. “Posso trocar experiências com os profissionais que são meus alunos.” Pastore também continua frequentando a Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade. Pelo menos duas vezes por mês vai até a biblioteca da unidade, “assim vou matando as saudades, que são muitas”, afirma.
Contribuições
Pastore teve papel decisivo na criação da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), entidade sem fins lucrativos criada em 1973 para estudar fenômenos econômicos e sociais com base na economia, ligada à FEA. Ela surgiu da necessidade de se ter mais liberdade para realizar pesquisas, contratar professores e enviar estudantes para o exterior, pois a burocracia da Universidade dificultava o andamento desses pedidos. Pastore foi responsável por analisar outras fundações existentes na época, e ele se focou especialmente na da Escola Politécnica. Após a realização da pesquisa, “o projeto foi criado e hoje é uma fundação que brilha no País”, lembra. Com a Fipe foi possível captar recursos para projetos e investir na formação dos estudantes. “Durante muitos anos contratamos professores e também criamos a maior biblioteca de economia do Brasil”, afirma. O sociólogo foi diretor acadêmico da instituição entre 1974 e 1977.
A partir da Fipe, Pastore também pôde contribuir com a criação da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). Como conta, a Fipe começou a ser demandada pelo governo para ajudar na criação de políticas públicas, e Pastore foi chamado para analisar a questão da pesquisa agrícola no Brasil. “Mostrei que para o País avançar era preciso criar uma instituição com muitos talentos, gente capacitada e que fosse leve do ponto de vista burocrático”, explica. O professor da FEA liderou a equipe que criou um projeto que, após ser aprovado, resultou na criação da Embrapa. “Muitos brasileiros foram para o exterior, voltaram e trouxeram professores”, comenta Pastore sobre um dos resultados positivos do advento da empresa.
Além de auxiliar na criação de entidades do governo, Pastore também tem grandes histórias envolvendo lideranças do País. Em 1968, o então ministro da Educação Jarbas Passarinho encomendou ao Instituto de Pesquisas Econômicas da FEA uma pesquisa sobre a demanda de profissionais especializados no mercado de trabalho. Pastore foi encarregado de conduzir a pesquisa, que chegou a um resultado que ia contra as expectativas do ministro.
Passarinho tinha planos de introduzir a profissionalização em todas as escolas públicas secundárias do Brasil, para formar técnicos em várias áreas. “Tinha uma grande pressão para apresentar esses resultados”, conta Pastore. O governo era militar, em plena ditadura, o que tornava a situação ainda mais tensa. A pesquisa apontou que não havia a demanda necessária para a concretização dos planos do ministro. “A demanda era muito pequena para uma aventura desse tipo”, explica.
Ao saber do resultado, Passarinho ficou inconformado e ordenou a reavaliação dos dados encontrados. Para isso, Pastore e vários assessores ficaram dias em Brasília analisando os resultados. “Por mais que nós torturássemos esses dados, não dava para chegar a um resultado diferente”, conta. Finalmente convencido, o ministro aceitou que sua proposta não iria adiante. “Acabamos nos tornando amigos”, ressalta o professor da FEA.
Pastore ainda auxiliou outro ministro, desta vez do Trabalho. Murilo Macedo, que assumiu o cargo em 1979, durante o governo de João Batista Figueiredo, convidou-o para ser seu braço direito. O professor assessorou o político e ajudou-o a colocar em prática as novas diretrizes da política trabalhista nacional. “Na minha opinião, ele era mais ministro do que o ministro. Minha homenagem é chamá-lo de ministro do Trabalho José Pastore”, disse o professor da FEA Marcos Cortez Campomar, durante o evento da faculdade.
Outro ex-colega de Pastore também relembrou contribuições importantes do professor. “No início dos anos 80, Pastore se atreveu a falar em administração de conflitos trabalhistas, quando o tema era tratado ou como luta de classes, ou litígio jurídico”, comentou Hélio Zylberstajn. O docente ainda afirmou que Pastore foi o formulador da política salarial que garantiu a reposição da inflação aos trabalhadores e abriu espaço para a negociação de aumentos anuais reais, que na época eram chamados de aumentos pela produtividade. “Eram ideias arrojadas para aqueles tempos”, disse.
Atualmente Pastore é ainda colaborador do jornal O Estado de S. Paulo, onde escreve uma coluna sobre questões trabalhistas. “Eu procuro levar para os meus leitores as minhas preocupações, o modo como eu vejo os problemas e apresentar sugestões”, conta. O professor afirma receber muitas respostas por seus textos, tanto de pessoas que concordam, como daqueles que discordam de suas ideias, e que sempre busca responder aos comentários enviados a ele. Dentro ou fora da sala de aula, continua auxiliando na construção do conhecimento.
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