Professor Marcelo Bönecker, atual coordenador do Comitê de Educação Internacional da IAPD

Por Alessandra Goes Alves

A experiência internacional do professor da Faculdade de Odontologia foi fundamental para a sua indicação

Professor de odontopediatria da Faculdade de Odontologia (FO), Marcelo José Strazzeri Bönecker foi o primeiro brasileiro convidado a integrar a International Association Paediatric Dentistry (IAPD), organização que busca discutir técnicas e conhecimentos desenvolvidos na odontopediatria e aperfeiçoar o atendimento na área. “Estou muito honrado. Tenho muito trabalho para fazer, mas é prazeroso”, afirma Bönecker, eleito membro da diretoria e  coordenador do Comitê de Educação Internacional da IAPD.

Paulistano da gema, Bönecker é neto de italianos (do lado materno) e austríacos (por parte de pai). O filho caçula foi o único dos quatro filhos a optar pela vida acadêmica. Apesar de ser dentista, Bönecker confessa ter memórias de infância relativamente traumáticas sobre odontologia. “Tive muitas lesões de cáries quando pequeno. Meu pai nos dava muito chocolate e o lado italiano da minha mãe trazia muito carboidrato. Tudo era à base de açúcar em casa”, conta.

Bönecker no concurso para professor titular em 2010

Optou por Odontologia no fim do colegial, na época do vestibular. “Fiquei em dúvida entre Arquitetura e Odontologia. Optei pela segunda e não me arrependo de modo algum. Hoje não me vejo como arquiteto”. Diz ter sido influenciado por sua melhor amiga na época, que prestava Odontologia, e por Vladimir, dentista de sua família: “Ele me apoiou muito. Quando me formei, fui trabalhar em um consultório dele, que ficava em uma fábrica em São Paulo. Foi lá que ganhei experiência”.

A odontopediatria veio apenas no último ano de faculdade, quando ele se destacou pelas notas e pelo atendimento que prestou. Após fazer um estágio na área, começou a participar de um grupo de estudos de prevenção de cáries enquanto trabalhava na Prefeitura de São Bernardo do Campo. Yvonne Buischi, especialista em periodontia e ex-presidente da Associação Brasileira de Odontologia Preventiva, fazia parte do grupo e o convidou para trabalhar como odontopediatra em seu consultório. “Aceitei. Gostei da área e decidi iniciar o mestrado na USP”, diz o professor.

Nessa etapa, ele estudou a epidemiologia de cáries dentais em crianças com menos de cinco anos de idade. O coordenador de Saúde Bucal de Diadema lhe sugeriu que realizasse o estudo no município. “No dia da campanha nacional de vacinação, íamos aos postos de saúde e fazíamos o exame de cavidade bucal. A alta adesão das crianças à campanha nos ajudou a conseguir uma amostra representativa dessa população”, conta o professor. Ele continuou esses estudos durante o doutorado e, quando foi para Londres, levou os dados dessa pesquisa.

Professor chegando à comunidade na periferia de Johannesburgo

Os estudos sobre as crianças de Diadema fizeram Bönecker ser, atualmente, o único pesquisador no Brasil a ter uma série de estudos sobre os agravos de saúde bucal na população dessa faixa etária. Hoje, esse histórico é composto por oito estudos. Ele diz que essa sequência é importante para avaliar a progressão e os agravos da saúde bucal dessa população.

Já com o título de mestre, iniciou o doutorado, quando estudou por um ano no Departamento de Epidemiologia e Saúde Pública da University College London. Lá, continuou seus estudos epidemiológicos, utilizando os dados de sua pesquisa em Diadema. Em parceria com professores ingleses, a pesquisa foi tema de seu primeiro artigo internacional, publicado na época.

Marcelo Bönecker atendendo criança na África do Sul, durante o pós-douturado

Sua vida acadêmica continuou após uma viagem de férias que fez com amigos à África do Sul, depois do doutorado. “Terminadas as férias, marquei uma entrevista com o professor Peter Cleaton-Jones, do Instituto de Pesquisa Dentária da Universidade de Witwatersrand. Ele se interessou pelo meu currículo e, depois de fazermos uma pesquisa em conjunto, minha bolsa de pós-doutorado foi aprovada pelo governo sul-africano.”

Bönecker fala sobre a diferença entre as experiências vividas nos dois países: “As duas foram muito importantes. Em Londres, ficava em um escritório, pude conhecer a sociedade. Já na África do Sul vivi mais perto da comunidade, pois tratava de crianças carentes em uma região periférica que não tinha consultório odontológico”.

Em 2005, obteve o título de livre-docente em odontopediatria na USP. Além de professor, foi presidente da CRInt (Comissão de Relações Internacionais) da Faculdade de Odontologia – um dos trabalhos que mais gostou de fazer.

Sua entrada para a Associação Internacional de Odontopediatria (IAPD) foi mais uma conquista em sua vida acadêmica. Em 2011, houve eleições para escolher os membros da diretoria e ele foi indicado. “Foi prazeroso ser o primeiro brasileiro a ocupar um cargo nessa associação. Estou muito feliz”.  Ele relata que uma das condições para integrar a diretoria é ser indicado por associações de odontopediatria de outros países, principalmente da região onde mora. Bönecker recebeu apoio de associações do Peru, Argentina, Paraguai, Uruguai e Chile, países onde deu aulas e palestras como professor da USP.

Em outubro, viaja à Rússia juntamente com outros diretores da IAPD para tratar do congresso da Associação que ocorrerá em 2012. Além de planejar os temas das aulas, eles devem selecionar docentes e verificar a infra estrutura local.