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Iniciativa na busca pelo tratamento é fundamental para vencer o TOC

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A família pode ajudar, mas motivação do portador do distúrbio é que define o tratamento

Por Márcia Scapaticio

Desenvolver um comportamento repetitivo e estereotipado para aliviar algum desconforto. Em linhas gerais, essa é a descrição do TOC, sigla usada para definir o Transtorno Obsessivo Compulsivo, um transtorno psiquiátrico que atinge 2% da população brasileira.

Médica do Instituto de Psiquiatria e coordenadora do grupo Protoc, (Projeto Transtornos do Espectro Obsessivo-compulsivo) que trabalha em pesquisas e atendimento aos que sofrem com esse distúrbio silencioso, Roseli Gedanke Shavitt enumera os sintomas típicos do TOC, conhecidos como obsessões e compulsões. “As obsessões são pensamentos ou ideias, impulsos ou imagens que invadem a mente do paciente, causando desconforto e aumento da ansiedade. Já as compulsões são comportamentos repetitivos ou atos mentais usados para diminuir a ansiedade gerada pelas obsessões e a palavra leiga para isso é mania, então dizemos mania de lavar as mãos, mania de contar os azulejos ou verificar se a porta está trancada.”

No meio dessa variedade de termos, por vezes a palavra mania é utilizada de forma incorreta. Tal situação pode ser exemplificada relacionando o TOC e o Transtorno Bipolar (variação estremada de humor). De acordo com Roseli, no bipolar há a oscilação entre a depressão e a fase eufórica, chamada mania. “Por isso mania pode ser usada com dois significados em psiquiatria, referindo-se ao transtorno bipolar ou ao comportamento repetitivo do TOC, só que é completamente diferente uma coisa da outra. Simplificando, é um termo mais leigo para a compulsão do TOC e um termo mais científico para o transtorno bipolar.”

A transmissão genética da doença ocorre pelo componente hereditário e orisco de ter um filho com o transtorno chega a 10%. Por isso, o diagnóstico precoce é importante para que o TOC seja controlado. Segundo dados do Protoc, o diagnóstico demora, em média, dez anos. “Há comportamentos visíveis e o que chama atenção é o excesso e repetição desnecessária de gestos e ações. Por exemplo, passar pelo batente, não pisar na risca dos ladrilhos.” O principal é que o portador do distúrbio esteja motivado para o tratamento. “A iniciativa é importante, bem como a colaboração na psicoterapia e na disciplina com os medicamentos”, alerta Roseli. Quando ocorre a desistência do tratamento, “é comum que a pessoa tenha depressão associada ao TOC, revela.

Outro aspecto complementar é a atitude da família. “Infelizmente, existe o que chamamos de acomodação familiar.” O portador consegue tornar os mais próximos cúmplices dos seus rituais. “Há casos em que são tão perfeccionistas que um parente repete a tarefa para não perder tanto tempo. Chamamos isso de complicação, pois quanto mais condescendente, pior o prognóstico. Portanto a família não pode participar dos rituais, mas a tendência é que o paciente peça ajuda.”

Roseli Gedanke Shavitt

O TOC é motivado por um fator produzido internamente na mente da pessoa. Um acontecimento externo como um trauma, uma perda, separação ou até algo alegre pode desencadear os primeiros sintomas. Do mesmo jeito que um acontecimento triste é estressante, um acontecimento positivo também pode ser, pois implica em mudança. “Então interromper a rotina para tirar férias, os preparativos para um casamento, ambos podem ser vistos como motivo de stresse, mesmo que tenha uma emoção positiva relacionada”, completa Roseli.

Os sintomas mais comuns são preocupações de provocar algum dano para alguém e ter comportamentos de verificação, como checar várias vezes se a porta está fechada e preocupações com contaminação, sujeira ou vermes que podem provocar doenças.

“Depois vem a preocupação com simetria, ordem e compulsões de organização, como aqueles guarda-roupas arrumados seguindo ordem das cores, com cabides para o mesmo lado; livros na estante seguindo regra”, enumera Roseli.

Mas quem sofre desse distúrbio geralmente pode alcançar bons resultados, dedicando-se à associação de terapia com medicamentos. Segundo Roseli, a medicina com o auxílio da tecnologia vem trabalhando para avançar nesta área. “Há tentativas  para ver o cérebro em ação, o que é ativado e quais as regiões relacionadas aos sintomas. Também buscamos através de estudos em genética e em neuro imagem, além da associação de medicamentos. Esses procedimentos são feitos no IPq, infelizmente, devido a problemas técnicos, não foi possível realizar nenhum experimento em 2010”, confirma.

Mas para os portadores do TOC e familiares, o Instituto oferece tratamento gratuito em troca de participar do projeto de pesquisa. Além da tradicional associação entre terapia e medicamento, o IPq está aberto a outras experiências, como o teste de técnicas de meditação, voltado aos adultos. “Não há estudos específicos, contudo queremos confirmar se a prática da meditação pode ajudar a pessoa a ter mais controle sobre os rituais.”

Serviço:

Fone: (11) 3069-6972

Site: http://www.protoc.com.br/

Um comentário sobre “Iniciativa na busca pelo tratamento é fundamental para vencer o TOC”

  1. Cibele disse:

    O problema é que na prática o sistema público de saúde, sobretudo o IPq – HC não oferece de fato suporte necessário ou oportunidades de vagas suficientes para terapias psicológicas ou técnicas alternativas para lidar com a doença. O paciente só é medicalizado – para lidar com o problema passa a ser dependente eterno de psicotrópicos.

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