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Descobertas das nuvens às estrelas

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Pesquisadoras do IAG têm seu trabalho reconhecido pela Ordem Nacional do Mérito Científico

Por Thaís Viveiro

Recentemente, por meio de decreto presidencial, a Ordem Nacional do Mérito Científico anunciou seus novos membros. Com o presidente da República como grão-mestre, a Ordem é constituída por personalidades nacionais e estrangeiras que tenham importantes contribuições à Ciência e Tecnologia. Entre os novos membros, está Maria Assunção Faus da Silva Dias, professora do Departamento de Ciências Atmosféricas do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas. Do mesmo instituto, a professora Beatriz Barbuy, do Departamento de Astronomia, que havia sido admitida na Ordem em 2005, foi promovida à Classe Grã-Cruz, a honraria mais elevada.

Movidas pela curiosidade, uma olha para as nuvens e vê o amanhã, a outra olha para as estrelas e vê o nosso passado mais remoto. Conhecendo um pouco o trabalho dessas duas pesquisadoras, podemos ver o quanto já sabemos – e o quanto ainda falta saber. Beatriz Barbuy deixa o seu recado: “o futuro é a ciência mesmo”.

Nas nuvens

Maria Assunção ajudou na criação do Departamente de Meteorologia do IAG

A trajetória da professora Maria Assunção Faus da Silva Dias coincide com a história do Departamento de Ciências Atmosféricas do IAG e com a evolução das áreas de Meteorologia e Ciências Atmosféricas no Brasil. A pesquisadora e seu marido, Pedro Leite da Silva Dias, formados em Matemática Aplicada, foram uns dos primeiros professores do Departamento de Meteorologia do IAG, criado em 1972. “A Meteorologia no Brasil estava no início. A gente tinha que basicamente construir o departamento, toda a sua parte instrumental e computação”, conta a professora.

“Umas das coisas que a gente percebia é que faltavam, no País, medidas mais específicas, necessárias para entender os fenômenos climáticos”. Pesquisas sobre o clima da Amazônia, por exemplo, só foram desenvolvidas, com maior frequência, a partir dos anos 90, com o Experimento de Grande Escala da Atmosfera-Biosfera na Amazônia, grupo de pesquisadores brasileiros e estrangeiros. Com a colaboração da Nasa, Maria Assunção liderou a primeira campanha do grupo em Rondônia, em 1999, e voltou à floresta em 2002 para estudar o papel das queimadas. “Foi um grande salto na nossa capacidade de entender como a floresta funciona e como ela interage com as nuvens para formar a chuva”, conta a pesquisadora, que apelidou a floresta de “mar verde”, devido à semelhança de suas nuvens com as que se formam sobre o mar.

Entre 2003 e 2009, a professora foi coordenadora do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Para quem tem dúvidas se deve ou não consultar a previsão do tempo antes de sair de casa, esses são alguns dados a serem considerados: a previsão para as próximas 24 horas têm 97% de acerto; para o segundo dia, a chance de acerto cai para 85% e, no terceiro, 77%. “Isso porque a gente não conhece tudo ainda. Estamos sempre correndo atrás de melhorias”, conta a professora. Durante o seu trabalho no CPTEC, Maria Assunção incentivou a arrecadação de recursos para novas tecnologias. “Sem computador, você adivinha o amanhã. Com um supercomputador, você tem uma projeção, e então temos que interpretá-la.”

A pesquisadora foi pioneira no estudo do clima da Amazônia

Nessa época, Maria Assunção teve 400 pessoas trabalhando sob seu comando. Atualmente, ela leva uma vida mais tranquila e dedica o seu tempo a questões que atiçam sua curiosidade, como a própria cidade de São Paulo, já não mais terra da garoa. “As chuvas intensas ocorrem mais hoje do que na década de 40. O aquecimento global tem uma culpa aí, mas o próprio crescimento da cidade pode ser responsável por isso”, considera. A pesquisadora, que faz parte do grupo que trabalha sobre o próximo relatório do Painel Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas (IPCC), da ONU, tem sempre um pé atrás quando o assunto é aquecimento global. “Antes de concluir que é aquecimento global, tenho que estar convencida de que não pode ser outra coisa.”

Desde que começaram os trabalhos na Amazônia, Maria Assunção desenvolveu o que chama de seu “lado rural”. “Quando fazia matemática, não sabia nada de ecossistema. A pesquisa na Amazônia era muito interdisciplinar e então comecei a entender e me interessar muito pelo funcionamento do ecossistema.” Hoje, a professora passa o seu tempo livre na fazenda da família, em Minas Gerais. “Gosto muito da agricultura e de fazer longas caminhas”, conta.

Nas estrelas

Se as nuvens parecem distantes, Beatriz Barbuy vai bem além, no tempo e no espaço, com o seu objeto de pesquisa: as estrelas velhas. São estrelas que se formaram há 13 bilhões de anos e continuam evoluindo até hoje. O assunto, no entanto, é bem mais próximo de nossa realidade do que aparenta ser. “Dentro das estrelas se formam todos os elementos químicos. Tudo veio das estrelas”, explica a professora. “A Astronomia tem uma conexão com as perguntas fundamentais: de onde viemos? e para onde vamos? É uma vertente científica para essas questões gerais”, conclui.

Beatriz Barbuy se interessou pela Astronomia aos 16 anos. Até hoje, é fascinada pela profissão

Beatriz Barbuy se decidiu pela profissão aos 16 anos, quando leu o livro Um, Dois,Três… Infinito, do físico George Gamow. A jovem, interessada por diversas áreas do conhecimento, leu até mesmo a obra completa de Freud, mas isso apenas confirmou sua preferência pelas exatas. Formou-se em Física na USP, em 1972, e emendou o mestrado no IAG. O doutorado fez na França, destino de grande parte dos profissionais do instituto na época. “Daí, foi de vento em popa”, conta a professora, completando que foi em Paris que começou a investigar a composição química de estrelas antigas.

Por trás do trabalho de observação de estrelas está o mesmo princípio presente no arco-íris: o espectro. No lugar de cores, no entanto, a luz das estrelas, vistas através de um telescópio com espectrógrafo, é decomposta em linhas, cada uma referente a um elemento químico. A partir da razão dos elementos presentes na estrela, é possível definir a sua idade. Esse é o objetivo do trabalho da pesquisadora: identificar as primeiras estrelas, as primeiras galáxias. “A gente reconstrói a história da evolução química e da evolução do universo”, explica.

Beatriz Barduy recebeu o prêmio L´Oréal-Unesco em 2009. Na foto, demais premiadas e o diretor da Unesco

Reconhecida internacionalmente (Beatriz ganhou o prêmio Trieste, em 2008, oferecido pela Academia de Ciências do Mundo em Desenvolvimento, e, em 2009, o Prêmio L’Oréal-Unesco, na categoria Mulheres na Ciência), a pesquisadora conhece também bastante o planeta Terra. Seu destino mais frequente é o Chile, onde está concentrada a maior parte da tecnologia que o Brasil detém. “O Brasil não tem céu. É muito úmido”, explica a professora, que já foi mais de 50 vezes aos Andes chilenos. Lá estão os telescópios Gemini e Soar, construídos em consórcio com outros países, e será construído o European Extremely Large Telescope (E-ELT), maior do que todos já existentes. “O Brasil vai participar, inclusive da parte tecnológica”, conta, com entusiasmo, a professora.  Ela ressalta, afinal, que Astronomia “não é nada desse negócio romântico de ficar olhando o céu. É tecnologia de ponta mesmo.”

“Com a evolução dos instrumentos, a gente consegue ter dados para responder melhor às perguntas que sempre tivemos”, afirma Beatriz Barbuy, ainda fascinada com a profissão que escolheu. “Você sempre vê mais longe, sempre vai evoluindo. É uma coisa galopante.” Sua vida é dedicada ao trabalho, mas a professora continua interessada pelas mais diversas áreas – da medicina às artes. “Leio o que posso, porque a gente sabe muito pouco, não é?”

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