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Brincar para aprender

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Bonecas são vestidas com roupas de recém-nascidos do hospital para ficarem iguais aos pacientes

Jogos e brincadeiras não servem apenas como atividade lúdica de diversão, mas também para o aprendizado e o desenvolvimento das crianças. Especialistas contam como isso acontece.

Por Daniela Bernardi

Quem não gosta de brincar? Atividades lúdicas estão presentes em todo o momento de nossas vidas: artesanato, esportes, filmes, livros e, principalmente, jogos e brincadeiras infantis. Mas não só como distração e diversão, elas também podem servir para o aprendizado. “Os jogos são uma ferramenta muito importante para o processo de aprendizagem, além de trabalharem os assuntos escolares, eles também influenciam no desenvolvimento da criança”, conta Lino de Macedo, professor titular de Psicologia do Desenvolvimento do Instituto de Psicologia (IP).

Para ele, este tipo de atividade deveria ser usado com mais frequência nas escolas. Porém, o extenso currículo escolar exige que os professores deem muita matéria em um curto período de tempo. “Com os jogos, as mesmas atividades e raciocínios são repetidos inúmeras vezes até que o participante aprenda de verdade”, compara. Segundo Macedo, a escola é uma máquina de respostas, onde os professores dão todas as soluções; já os jogos são máquinas de problemas, onde o jogador é obrigado a aprender as regras e procurar resolvê-las por conta própria.

A psicopedagoga Daniela Linhares na brinquedoteca do HU

Ao utilizar jogos de raciocínio, é possível perceber como a criança reage na medida em que são tomadas decisões. Com isso, são apontadas também as áreas de dificuldade de aprendizado. “Ao observar a criança jogando, conseguimos ver o tempo que ela precisou para tomar uma decisão, ou se previu os próximos passos, o quão confiante estava, a paciência, entre outros fatores”, exemplifica Macedo.

Mas não é apenas o raciocínio lógico que é explorado nas brincadeiras; sentimentos, cognição e coordenação também são desenvolvidos. Em jogos de regra, é preciso aprender a convivência com o outro. “Eu quero ganhar de você, mas é só no final que algum de nós vencerá. Então, temos que seguir todas as regras para chegar à vitória”, conta Macedo. Em uma partida, a criança é obrigada a seguir regras: convencer o parceiro a brincar, saber perder ou vencer, esperar a vez para jogar e outras exigências que servirão como um exercício de disciplina que refletirá na vida adulta da criança.

Para a psicopedagoga Daniela Linhares, técnica de apoio educativo do Hospital Universitário (HU), quem dá o significado dos jogos são os adultos; as crianças apenas gostam de brincar. “A criança que não brinca está triste, pois a atividade é própria da idade. Pode ser que tenha algo de errado com ela”, comenta. Para crianças pequenas, o mundo é como se fosse uma viagem para um lugar desconhecido: tudo é novo e deve ser explorado. Por isso, para elas, os jogos ideais são aqueles que mexem com os cinco sentidos; que consigam pegar, encaixar, sentir, lamber, ouvir, entre outras características, como serem coloridos.

Já dos 2 aos 7 anos, as crianças gostam de imaginar, criar e representar. Ou seja, bonecas, casinhas, espadas, fantasias e desenhos são sempre os principais pedidos. Nessa fase, é possível perceber como a criança vê o mundo. “Ela pode fantasiar, que é o caso de super-heróis, ou representar, que é quando, por exemplo, ela brinca com a boneca da mesma forma que é cuidada em casa”, explica Daniela.

Professor Lino de Macedo mostra o Jogo Quarto, que é usado como exercício de lógica e raciocínio

Já depois dos 7 anos, a criança gosta de jogos de desafios e raciocínios. Nesse período, os aspectos sociais, cognitivos e sentimentais se intensificam durante as partidas. “Na medida em que a criança fica mais velha, ela passa a dominar outras formas de brincar”, conta Macedo. Ele dá como exemplo o brincar com uma bola: primeiro a criança apenas a toca e a lambe, depois já engatinha até a bola. Após os primeiros passos, o objetivo da criança passa a ser ir até a bola e jogá-la para outro local. Já mais velha, a imitação da realidade do jogador profissional é sempre utilizada. E por fim, numa idade maior, a criança passa a querer enfrentar o desafio do gol, do jogo e da competição.

O brincar no hospital

No HU, a área pediátrica possui 36 leitos para crianças de 0 a 15 anos incompletos. Lá, todas têm acesso aos brinquedos da brinquedoteca. Quando estão isoladas por causa da doença, os brinquedos é que vão até os quartos. Eles ajudam a criança a se adaptar à vida hospitalar. Isto porque, a atividade lúdica se transforma numa válvula de escape. “Quando você chega ao hospital, toda sua rotina é alterada: tem horário para dormir, tomar remédio, entre outras obrigações, que, agora, não são só cobradas pela sua mãe, mas por um monte de funcionários do hospital”, conta Daniela.

Em 2005, uma pesquisa feita pelo HU mostrou que 98% dos adultos gostariam de fazer uma atividade lúdica enquanto estavam internados. Por conta disso, foi criada uma área de lazer onde é possível fazer artesanato, ler livros, assistir a filmes, entre outras atividades. Os adolescentes que estão no hospital, também têm uma área só para eles com livros, filmes, video game e computadores.

No hospital, a dramatização é um brinquedo terapêutico; a criança expõe seus medos e sentimentos em relação à internação e aos procedimentos invasivos por que está passando. O HU conta com uma família de bonecas cuja vestimenta são roupas do hospital. “As crianças podem usar equipamentos hospitalares de brincadeira nas bonecas. Elas expõem o que pensam e brincam com a própria realidade”, conta a psicopedagoga, que também lembra o caso da menina que teve meningite e por isso, sua perna foi amputada. “Isso aconteceu há dez anos, nós pegamos uma bonequinha que ela gostava muito e também fizemos uma cirurgia nela; a boneca ficou sem perninha”, relembra. Vivendo a mesma realidade que a sua boneca, a paciente enfrentou a doença e suas consequências com mais tranquilidade, pois não se via como a única com uma perna amputada.

Além disso, o jogo educativo no hospital também é importante para que a criança possa aprender sobre a patologia que a levou à hospitalização. “Nós temos um jogo de memória sobre diabete, com perguntas e respostas sobre a doença. Ele foi confeccionado por três meninas diabéticas que estavam internadas no mesmo período. Hoje, as crianças internadas aprendem sobre a própria doença jogando”, conta a psicopedagoga.

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