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Tratamento especializado para pacientes especiais

“Esses pacientes especiais merecem um tratamento especializado”, diz a coordenadora do Cape

O Centro de Atendimento a Pacientes Especiais (Cape)  oferece tratamento dentário para pessoas com problemas sistêmicos.

Por Roberta Figueira

“Eu estava com o dente inflamado e ninguém queria me atender, fui ao posto de saúde e eles me encaminharam para o Cape” declara Paula Ramos, portadora de diabetes tipo 1, paciente do Centro de Atendimento a Pacientes Especiais da Faculdade Odontologia (Cape – FO) há dois anos. O objetivo do centro é ajudar pessoas como Paula, que não conseguem atendimento em clínicas odontológicas tradicionais que não possuem profissionais preparados para cuidar de pacientes comprometidos sistemicamente.

O Cape foi idealizado pelo professor Ney Soares de Araújo, em meados da década de 1980, em decorrência do grande número de pacientes infectados pelo HIV(vírus da imunodeficiência humana). “Naquele tempo a comunidade científica não tinha muito conhecimento sobre o vírus da Aids, então todos os profissionais tinham medo de atender esses pacientes. Foi nesse momento que surgiu o projeto de uma clínica odontológica especializada no atendimento a esses pacientes” conta a doutora Marina Gallottini de Magalhães, atual professora coordenadora do centro.

Junto com os pacientes soropositivos surgiram rapidamente outros com necessidades especiais diversas e assim nasceu, em 1989, o Cape. “Hoje nosso centro é um ambulatório que provê atendimento odontológico a pacientes que têm algum problema além do dentário”, explica a doutora Marina.

A doutora Maria Gallottini de Magalhães é professora coordenadora do Cape

Os pacientes são divididos em três categorias que regularizam o que é considerado pelo Cape um paciente com necessidades especiais. O primeiro grupo é de pacientes portadores de doenças psicomotoras, como deficiências mentais, deficiências físicas, paralisia cerebral, síndromes de malformação, autismo etc.

Outra categoria é a de portadores de doenças infectocontagiosas, como Aids, hepatite B, hepatite C, tuberculose e HTLV(retrovírus da família do HIV). E por fim são atendidos também os chamados pacientes portadores de doença sistêmica crônica, grupo que mais cresce em termos de número absoluto, como cardiopatia, diabetes, doenças autoimunes, insuficiência renal crônica, transplantados e irradiados na região de cabeça e pescoço.

Segundo a doutora, o dentista em sua formação usual fica inseguro de atender esse paciente no consultório porque não está preparado. Um dos objetivos desse centro é justamente espalhar esse tipo de conhecimento e fazer com que o dentista, como profissional de saúde, atenda não apenas aos pacientes saudáveis. “Estamos abertos para receber colegas formados. Promovemos cursos de especialização nessa área. Às vezes recebemos dentistas de outros Estados que depois abrem centros similares em suas cidades. Passando esse conhecimento a gente multiplica a capacidade de atendimento a essas pessoas que normalmente são prejudicadas pelo sistema de saúde”, diz Marina.

"O Cape é considerado o braço clínico da Patologia da Faculdade de Odontologia"

O Cape é ligado à disciplina de Patologia da Odontologia (FO). Isso se dá por uma questão histórica, já que o professor Araújo, criador do centro, era professor titular dessa disciplina e as atuais coordenadoras do projeto, as professoras Marina Gallottini de Magalhães e Karem Lópes Ortega, também fazem parte da área. “Costumamos dizer que ele é o braço clínico da Patologia”, conta.

Segundo Marina, no Cape a pesquisa, o ensino e o atendimento são intimamente ligados. “Se o caso é raro, ou estamos testando uma nova forma de tratamento e queremos colocar o paciente no protocolo de pesquisa, o projeto é submetido ao comitê de ética e o paciente assina um termo de consentimento livre-esclarecido. Se ele não concorda é atendido da mesma maneira, mas se concorda, além do atendimento faz parte do projeto de pesquisa”, explica. O centro faz qualquer tipo de atendimento odontológico com exceção de implante e ortodontia, que são feitos apenas quando fazem parte de alguma pesquisa.

O atendimento é feito por dentistas formados, que estão fazendo especialização ou programa de atualização, sempre sob supervisão. O centro também fará parte em breve de uma disciplina optativa da graduação.

A triagem para novos pacientes acontece anualmente no mês de março, mas elas estão suspensas atualmente. “Estamos agora com 127 pessoas na fila de espera então não vamos fazer triagem por enquanto, porque temos que zerar essa lista antes de receber novos pacientes”, informa Marina. Segundo ela, os tratamentos geralmente são demorados e existem alguns pacientes que não podem ficar na fila de espera porque precisam de atendimento antes de uma radioterapia ou coisa similar. Além do tratamento imediato os pacientes também fazem um acompanhamento posterior para prevenir outros problemas. “Organizamos mutirões também para dar uma limpada na lista”, explica a doutora. O direito ao tratamento no Cape pode ser perdido em alguns casos, como três faltas sem justificativa.

Além de atendimento o Cape também realiza cursos de especialização para dentistas formados

Sobre os critérios utilizados na triagem a doutora explica que é muito subjetivo, pois dentro dessas três categorias existem inúmeras variações e casos que precisam ser avaliados individualmente. “Vou participar de fórum em Brasília para definir melhor essa lista”, informa ela.

Em casos de urgência o Cape geralmente realiza o atendimento imediato, mas há uma avaliação para confirmar essa necessidade. “Quando o caso é sério e urgente nós atendemos, mas depois a pessoa é mandada para o final da fila”, explica Marina. Segundo a doutora, apesar do grande número de pacientes o Cape é pouco conhecido até mesmo dentro da USP.

Centro de Atendimentos a Pacientes Especiais (Cape)
Local: Av. Prof. Lineu Prestes, 2.227, Cidade Universitária
Fone: (11) 3091-7859
E-mail: klortega@usp.br/mhcgmaga@usp.br
Horário: segunda a sexta, das 8h às 17h

3 comentários sobre “Tratamento especializado para pacientes especiais”

  1. Carmen Cecilia Morei disse:

    Quero parabenizar o trabalho de vcs, porque sei a importância desse trabalho, e as dificuldades que essas pessoas encontram na sociedade para obter esses atendimentos, trabalho na Fac. de Farmácia em Rib. Preto e acompanho o trabalho da FORP para pacientes especiais é muito legal e gratificantes…

    deixo um abraço a toda equipe de vcs.

  2. Eliane G. Cunha disse:

    Obrigada pelas informações, mas preciso saber se meu esposo está inserido em um destes grupos no tratamento dentário no CAPE.

    Ele é aposentado ha 10(dez)anos por invalides por bipolaridade, depressão e trantorno de humor.

    Aguardo sua resposta.

    Eliane G. Cunha

    • admin disse:

      seu esposo parece ter características que se encaixam um dos grupos de pacientes que podem receber atendimento no CAPE. No entanto, segundo a doutora Marina Gallottini de Magalhães, cada caso é avaliado individualmente.
      No momento o centro não está aberto para triagem, mas recomendo que você entre em contato diretamente com o CAPE para confirmar essa questão. Os telefones de contato são (11) 3091-7859 ou (11) 3091-7838.

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