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Digitalização de arquivos, entre a preservação de acervo e universalização do conhecimento

Mudar o meio em que transitam as informações é visto como desafio e uma  necessidade do saber

Por Marcia Scapaticio

Maria Lucia Beffa

Maria Lúcia Peffa

A digitalização de acervos é o modo de transferir o conteúdo da informação de um suporte físico, no caso livros e documentos, para o meio virtual, estendendo-se do catálogo on-line de comércio eletrônico aos programas de computadores responsáveis pelo armazenamento dos dados.Tal mecanismo ganha destaque, revelando a necessidade de se adequar as atividades profissionais, educacionais e culturais ao novo paradigma trazido pelas tecnologias.

Gráfico publicado na Revista da USP, exemplar 80, comparando o número de documentos impressos com os documentos eletrônicos no Brasil, de 2000/2007, revela 3.036 eletrônicos, contra 1.354 impressos. Tal gráfico é mais um exemplo do quanto essa transferência do papel ao digital já faz parte da nossa realidade. Um acordo firmado entre a Microsoft Corporation, e a Faculdade de Direito (FD), com o objetivo de estabelecer o projeto de digitalização da biblioteca da faculdade, é um dos acontecimentos que mostra a relevância dos mecanismos digitais no cotidiano de diversas áreas do conhecimento.

Para Maria Lúcia Peffa, diretora técnica da Biblioteca da FD, o caminhar do processo é importante, tendo em vista a questão dos livros de domínio público e dos livros raros: “Os de domínio público despertam o interesse de pesquisadores, com grande procura por determinados títulos e, com a digitalização, será possível disponibilizá-los a um número maior de pessoas, preservando o conteúdo do original. Quanto à raridade do acervo, a biblioteca é mais antiga do que a faculdade, assim, algumas obras literárias são só encontradas aqui; há livros que fazem parte do acervo e não estão disponíveis em nenhuma biblioteca no Brasil”.

O Sistema Integrado de Bibliotecas da USP (Sibi) disponibiliza 42 obras já digitalizadas. Maria Lúcia menciona que cada unidade de ensino selecionou as obras por critérios  de importância, como a data de publicação, estado de conservação e a raridade. A Faculdade de Direito optou pelo livro Ordenações de D. Manuel, datado de 1539, uma das obras jurídicas mais antigas pertencentes ao acervo.

Toda nomenclatura e processo que remete ao uso de novos conhecimentos são tema de discussão, seja pelos métodos de aplicação, vantagens, desvantagens e suportes tecnológicos necessários para assegurar seu desenvolvimento. Exemplo disso são os acervos das bibliotecas tradicionais e das futuras bibliotecas digitais, em instituições vinculadas às artes visuais e plásticas, como é o caso do Instituto de Arte Contemporânea (IAC), ligado ao Centro Universitário Maria Antonia, e a sua recente exposição “Desenho e Design: Amilcar de Castro e Willys de Castro”, a qual foi realizada tendo como base os documentos e acervos digitalizados de cada artista.

Marcos Roberto Gorgati

Marcos Roberto Gorgati

Em temporada no IAC, a exposição foi baseada no acervo digital de ambos.  Esse processo foi executado por Marcos Gorgati, que responde pelo Departamento de Mídias Audiovisuais do instituto, responsável pela digitalização dos documentos e por Mariane Tomie Sato, que administra o núcleo de pesquisas.

De acordo com o curador da exposição e professor do Departamento de Filosofia da FFLCH, Lorenzo Mammi, “a digitalização realizada pelo IAC facilitou o seu trabalho de apuração e a seleção do que faria parte do evento, permitindo uma visão completa do arquivo e diminuindo o manuseio do material, que é sempre muito delicado“. O professor menciona que além de trazer o público à exposição, o objetivo é disponibilizar o material digitalizado para consulta e transformar o IAC num espaço de pesquisa sobre os artistas. “A digitalização do material do instituto é uma ideia antiga, motivada pela noção da preservação dos documentos e de facilitar o acesso dos pesquisadores”, diz Gorgati, que acompanhou a transformação do papel ao digital.

Uma preocupação mencionada pela diretora da Biblioteca da FD e pelos profissionais do IAC,  refere-se ao equipamento que armazena as informações nesse novo formato. Maria Lúcia diz que: “A tecnologia muda rapidamente, por isso, é necessário que os mecanismos digitais evoluam na mesma velocidade, para que os documentos originais sejam preservados e o acesso à informação democratizado”.

Mariane Tomi Sato

Mariane Tomie Sato

Uma questão importante corresponde à preservação e armazenamento de documentos administrativos, como o decreto de fundação da Universidade, Institutos e Atas de Conselho, por exemplo. A docente da ECA e diretora técnica do Arquivo Geral da USP (Sausp), Johana Wihelmina, diz acompanhar discussões não do ponto de vista tecnológico, mas relacionadas à autenticidade dos documentos para garantir que o digital seja fiel ao original. “O Arquivo é um espaço em construção e elabora normas para as unidades no que se refere aos documentos administrativos de cada uma delas. Essa organização conta a história da USP através do papel, mas é escolha de cada instituto a transformação e disponibilização dos documentos para o formato digital.”

A professora atenta à diferença existente entre os arquivos de bibliotecas e os documentos administrativos que serão armazenados , tanto no modo de circulação da informação quanto à disponibilização aos interessados. No  IAC, Mariane e Gorgati dizem “que ainda está em debate o mecanismo de disponibilização do acervo, entretanto, os visitantes já têm acesso ao material nos computadores do  instituto e a intenção é ampliar o contato entre os estudiosos e o acervo, tomando como modelo a Biblioteca Nacional, na qual o usuário paga um valor específico ao acessar determinada obra”.

O Sausp também disponibilizará exposições e cursos voltados para os funcionários da USP que lidam com os documentos, tanto na questão do papel, quanto dos procedimentos digitais. Johana diz que processos com rotinas específicas, como o cadastro de fornecedores, já funcionam com esse auxílio.

Para Marcos Gorgati, do IAC, “um benefício, no caso das fotografias, foi a descoberta dos negativos, pois, quando você escaneia uma imagem, ganha uma nova, com outro viés; além da maior intimidade do profissional com o material em estudo”.

Na Faculdade de Direito, é comum os alunos fotografarem livros que não podem ser fotocopiados. “Os estudantes fotografam as páginas e depois fazem uma cópia, porque alguns livros se encontram em estado tão frágil que não suportariam o contato com a máquina de xerox”, relata a diretora que já viu muitas situações como esta.

Instituições governamentais também disponibilizam dados no formato digital. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), além de exibir suas pesquisas, direcionou o formato a públicos específicos, como crianças e  adolescentes. Nos links IBGE 7-12 e IBGE Teen estão disponíveis mapas, censos e outras informações a respeito do Brasil.

As experiências das instituições e bibliotecas servirão de exemplo para se avaliar o real impacto do meio virtual na sociedade. O mecanismo digital  se mostra como uma boa opção para conservar e democratizar o acesso à informação. Por enquanto, o momento de transição retrata a adaptação dos usuários aos recursos virtuais e aos produtos disponíveis na rede mundial de computadores.

Um comentário sobre “Digitalização de arquivos, entre a preservação de acervo e universalização do conhecimento”

  1. Seria muito importante vermos ser contemplado no projeto de digitalização do acervo da Universidade também os acervos audiovisuais. Além de possuir um enorme e relevante acervo de filmes, programas de rádio e de televisão, nos arquivos audiovisuais da USP certamente existem registros de importantes eventos que marcaram seus 75 anos de história.

    O amplo acesso aos meios de produção audiovisual percebido nos últimos anos se reflete hoje no meio acadêmico através do uso exponencial do vídeo como suporte às atividades fins da própria universidade.

    Deixo então aqui a sugestão para que o Arquivo Geral da USP também passe a tratar da preservação e da disponibilização do acervo audiovisual produzido pela Universidade de S. Paulo.

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