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Uma vida dedicada à veterinária

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São Paulo, a terra da seca

 

Por André Meirelles
“Os prêmios vêm como consequência daquilo que você faz e são muito bem-vindos”

“Os prêmios vêm como consequência daquilo que você faz e são muito bem-vindos”

Com mais de 50 anos de FMVZ, João Palermo Neto é exemplo de amor à profissão e dedicação à pesquisa

 

Todo pesquisador tem o reconhecimento de um grupo através das premiações que recebe por seus estudos. E dentro da área da medicina veterinária, João Palermo Neto  é um exemplo desse profissional. Perto de completar 50 anos de compromisso com a pesquisa, o professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) coleciona diversas conquistas em sua carreira.

Os frutos desse trabalho de dedicação podem ser medidos nos inúmeros títulos ganhos, como premiações nos congressos da Fesbe (Federação de Sociedades de Biologia Experimental), menções honrosas pela qualidade de trabalhos publicados além de diversas conquistas internacionais de destaque. “Os prêmios vêm como consequência daquilo que você faz e são muito bem-vindos. Esse é o segredo: fazer algo que ama e gosta. Primeiro porque você não se sente cansado, porque aquilo é um prazer.” Ainda faz questão de lembrar com carinho das homenagens feitas por alunos em formaturas, que, apesar de ser algo simples, significam reconhecimento de uma comunidade por alguém que os marcou profundamente.

No mês de agosto, o professor recebeu o Prêmio Facta – Mérito Técnico e Científico de 2014, concedido pela Fundação Apinco de Ciência e Tecnologia Avícolas, que reconhece o mérito técnico e científico dos profissionais que se destacaram e contribuíram para o desenvolvimento da avicultura no Brasil. “Em função do trabalho que eu desenvolvi, acabei sendo chamado para compor um grupo da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) para estudar qual seria o limite máximo permitido de resíduo de medicamento veterinário em tecidos de frango, leite e ovos”, explica. Dos 25 pesquisadores que estavam no projeto, Palermo era o único latino-americano.

Foi na avicultura que ele encontrou um eco maior e passou a dedicar grande parte de seu tempo ao estudo de resíduos de medicações nas aves que são abatidas. O prêmio coroou todo o seu trabalho e serviu de estímulo para continuar pesquisando mais sobre o assunto, apesar de lamentar estar próximo da aposentadoria compulsória. Palermo resume o que sentiu quando o recebeu: “Eu senti uma emoção profunda, porque não esperava. Foi um momento muito feliz e o que me emocionou mais foi o carinho das pessoas, que vieram me cumprimentar. Esse é um momento que a gente não esquece assim tão fácil.”

 

Vida interiorana

 

O professor recebe o Prêmio Facta 2014, entregue pelo diretor-executivo do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan), Milson Pereira

O professor recebe o Prêmio Facta 2014, entregue pelo diretor-executivo do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan), Milson Pereira

Nascido em Franca, no interior de São Paulo, e de origem italiana, desde pequeno Palermo teve contato com a natureza e o mundo rural. A família de sua mãe tinha uma fazenda na região e, logo cedo, aprendeu a gostar dos animais e ver a importância da vida com eles. O professor relembra que, quando ia para a fazenda, adorava andar a cavalo e sempre ajudava no tratamento com as criações e isso despertou uma enorme curiosidade pela veterinária. “Eu adorava ver meus tios fazer os curativos e, quando um animal morria, a primeira coisa que eu fazia era abrir para ver como era por dentro e isso me despertou um interesse muito grande. Queria saber como medicá-los, o tipo de alimentação que recebiam, por que era assim, por que não era, se podia botar sal [alimento necessário para bois e vacas], se dava vermífugo”, comenta Palermo.

Esse foi o embrião que o levou depois a querer fazer Medicina Veterinária na FMVZ, no ano de 1963. Além disso, sempre teve interesse pela área biológica, tanto que chegou a prestar vestibular para Biologia na USP e foi aprovado. Em seu primeiro ano de faculdade, fazia Biologia à noite, porém, mais tarde, optou pela Veterinária em função do lado médico, que era o que mais o agradava. Também pensou em fazer Medicina, mas sua paixão era mesmo pelos bichos. E lembra: “Eu sempre tive um gosto por pesquisa. Pesquisa em laboratório, com coisas de laboratório”.

 

Estudo e pesquisa

 

Palermo durante a Semana Científica do Departamento de Patologia da FMVZ em 1999

Palermo durante a Semana Científica do Departamento de Patologia da FMVZ em 1999

Logo no primeiro ano do curso, já iniciou seu contato com a área, quando recebeu um convite para fazer um projeto para acompanhar o professor Milton Campos como bolsista de iniciação científica na área de Parasitologia. Aquele seria o começo da relação de Palermo com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que se estenderia até hoje. “O trabalho foi bem-sucedido, resultou numa publicação e isso me motivou mais ainda”, conta.

Como tinha sido bom aluno, recebeu várias propostas para seguir nos departamentos da faculdade depois da graduação. Escolheu a Farmacologia, onde está desde 1969 até hoje, completando 45 anos de docência. Realizou seu mestrado com o professor Elisaldo Carlini, também em Farmacologia, na Escola Paulista de Medicina (Unifesp). Lembra com orgulho que foi o primeiro mestre da Escola Paulista de Medicina. Continuou com Carlini e desenvolveu seu doutorado na área de sistema nervoso central, estudando comportamento na mesma instituição.

Aprimorou-se em comportamento animal em seu pós-doutorado, realizado na Universidade Carnegie Mellon, na Pennsylvania, nos EUA. Presidiu diversos Núcleos de Apoio à Pesquisa e trabalhou no Núcleo de Pesquisa em Ciência Ambiental da USP.  Também participou do grupo de Neurociência e Comportamento da FMVZ, um grupo que existe até hoje, e foi por diversas vezes diretor da faculdade e chefe de departamento.

 

Mantendo um equilíbrio

 

“Desde pequeno aprendi a ir às fazendas, gostar dos animais e a ver a importância dessa vida com eles”

“Desde pequeno aprendi a ir às fazendas, gostar dos animais e a ver a importância dessa vida com eles”

Apesar de ter uma rotina de intensa atividade na faculdade, Palermo procura sempre ter seus momentos de lazer. Casado e com dois filhos, frequenta a academia duas vezes por semana e nada regularmente. “Eu tenho um personal, porque senão, como todo mundo, eu me matriculo e não vou”, brinca. O professor procura aproveitar o máximo que a cidade de São Paulo tem a oferecer, indo ao cinema e ao teatro e, de vez em quando, costuma se reunir com um grupo de amigos para beber um vinho. “Tento manter um certo equilíbrio entre as minhas atividades profissionais que são muitas, mas que são prazerosas. Acho que é importante dizer: [isso] não é um fardo e sim um prazer.  Um pouco de família e lazer, porque você também precisa desse lado.”

Seu próximo evento será em Amsterdã, na Holanda, no começo do mês de outubro, onde vai apresentar as iniciativas da América Latina no estudo do desenvolvimento de resistência bacteriana a medicamentos veterinários. Durante suas viagens ao exterior para congressos e palestras, o professor confessa que aproveita a oportunidade para conhecer museus, exposições e ir a restaurantes. “O lado cultural, como ir a uma exposição, é muito importante. Viajar é algo que eu adoro e, quando vou a um congresso no exterior, aproveito a oportunidade para ir num museu e conhecer outro país.”

Atualmente, presta assessoria na área de resíduos para o Ministério da Agricultura. Apesar de continuar orientando estudos e pesquisas de mestrado e doutorado, não frequenta mais os laboratórios como antes por conta de outras funções assumidas. Sua relação com a Fapesp é forte até hoje, lá coordena um grupo de pesquisa temático que interliga a produção animal e a neuroimunomodulação, responsável por estudar os efeitos do stress sobre a imunidade e o comportamento em animais de produção. “Hoje eles têm que ser bem cuidados e bem tratados. Evidentemente existe toda essa atenção com a manutenção deles e eu estou envolvido profundamente com isso na parte de pesquisa”, resumiu.

 

Uma segunda casa

 

Palermo discursa durante a 1ª Convenção Nacional de Vendas da Intervet, em março de 2000

Palermo discursa durante a 1ª Convenção Nacional de Vendas da Intervet, em março de 2000

Além de ser uma satisfação estudar saúde animal, Palermo acredita que é uma necessidade. A economia do Brasil é sustentada principalmente pelo agronegócio: tanto a produção de grãos em geral como a área de criações. Portanto, é preciso que o País desenvolva estudos que ajudem os produtores a se aprimorarem cada vez mais. A avicultura, área de estudo que o consagrou recentemente, apresenta muitas técnicas e aceita facilmente mudanças que beneficiem a produção.

O vínculo do professor com a faculdade é algo concretizado e que nunca vai morrer. O respeito e a gratidão são mútuos: durante a caminhada até sua sala, é possível ver diversas homenagens a ele nas paredes do corredor. Quando pergunto o que a FMVZ representa em sua vida, responde emocionado e com um sorriso no rosto: “Tudo. Tudo que eu tenho e sou devo à faculdade. Claro que depende do esforço que eu investi, mas a minha vida é aqui. Essa é minha casa e aprendi a gostar da faculdade”.

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