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Marco Antonio Zago, reitor da USP, entrou na Universidade como aluno de Medicina na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) nos anos de ditadura no Brasil e vivenciou a primeira reforma universitária, numa época difícil para a sociedade brasileira. Em 1973, obteve o título de mestre e tornou-se docente no Departamento de Clínica Médica, e em 1975 recebeu o título de doutor pela mesma instituição.
Nascido na cidade de Birigui, localizada a 500 km da capital paulista, onde o destino dos jovens quando terminavam o colegial era partir para um grande centro a fim de cursar uma faculdade. Zago diz que a distância naquele tempo era muito maior pela precariedade da época. “Eu pensava que vivíamos num mundo à parte, hoje percebo que não era tão provinciano quanto pensava.”
Avaliando a escola em que estudou o segundo grau, diz que era muito boa. “A língua portuguesa era bem tratada e a matemática muito valorizada. Tive uma professora de biologia que tinha sido aluna de Felix Kurt Rawitscher, um dos primeiros professores de botânica da USP.”
Em 1965, partiu para a cidade de Ribeirão Preto para fazer o curso de Medicina na FMRP, e diz que o acaso o levou a escolher essa área. “Na época não tínhamos teste vocacional, nós procurávamos profissões que fossem valorizadas socialmente. Então nossas opções eram sempre Medicina, Engenharia, Direito”, lembra.
“Entrei na USP um ano depois do golpe de 64, foi o início da ditadura e de intervenção na Universidade”, enfatiza Zago. Era um momento muito conturbado na vida de todos os brasileiros, mas a Universidade de São Paulo sofria grande pressão e, segundo ele, que aparecia de todas as formas.
Em 1967, o então reitor professor Luís Antônio Gama e Silva foi conduzido ao cargo de ministro da Justiça, e um dos seus primeiros atos foi editar o AI5 (Ato Institucional nº 5), que atribuiu ao Executivo a concentração de poderes excepcionais, transformando o regime político numa ditadura, e a fase mais violenta e repressiva estendeu-se até 1974. Com a saída do reitor Gama e Silva, assumiu a gestão da Universidade o professor Hélio Lourenço de Oliveira, o vice-reitor em exercício, que foi um dos fundadores da FMRP e criador do Departamento de Clínica Médica, no qual Zago atua hoje.
A pressão por uma reforma universitária na década de 60 veio por dois caminhos. O primeiro do governo militar que reconhecia que a Universidade não respondia às necessidades da economia por recursos humanos qualificados, e procurou implantar mudanças na estrutura. Por outro lado, estudantes e setores progressistas da Universidade não concordavam com o modelo implantado, defendendo uma reforma que propiciasse uma Universidade crítica e transformadora da sociedade.
Para Zago, este foi um período muito marcante em sua vida e com um componente de ordem pessoal; ele era amigo de turma do filho do então vice-reitor em exercício e viveu de perto todas as emoções da época. “O professor Hélio Lourenço de Oliveira conduziu a primeira reforma universitária, que extinguiu cátedras e criou a representação dos estudantes nos diferentes colegiados e reorganizou os colegiados”, lembra. Esta reforma foi publicada em 1969, e o então vice-reitor foi cassado pelo ministro da Justiça Gama e Silva.
Ao terminar o curso de graduação, fez pós-graduação em RP e foi contratado no Departamento de Clínica Médica, onde está até hoje. Em 1976, seguiu para Inglaterra para fazer o pós-doutorado. Atua na área de hematologia, e diz que por influência de dois professores: Hélio Lourenço catedrático da área e Cássio Bottura seu assistente. “O professor Bottura tinha um perfil de investigação e me influenciou muito neste aspecto”, diz.
Na sua longa trajetória na USP, além dos anos dedicados ao ensino da graduação, Zago criou um grupo de pesquisa que foi se fortalecendo e hoje está consolidado. O Centro de Terapia Celular que é um dos Cepids (Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão) ligados à Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
Em 2007, foi indicado para a presidência do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) mudando um pouco o enfoque de sua trajetória. “Desse momento em diante, passei a tratar de política científica, não era mais fazer ciência num grupo especializado, competindo e produzindo o máximo possível, mas era o inverso”, diz.
O professor lembra que naquele momento o País teve um aumento significativo de recursos, criando um otimismo geral e os aumentos dos projetos aconteceram, aparecendo cada vez mais. O que, segundo ele, fez aumentar o número de bolsas concedidas pela instituição, que é um instrumento importante de promoção da pesquisa no País.
Duas outras inciativas importantes em sua gestão foram implementadas. Uma delas foi um processo de cooperação com as Fundações de Amparo à Pesquisa (FAPs) nos Estados, iniciado na gestão do professor Erney Plessmann de Camargo. Foram criados programas envolvendo as fundações do País inteiro, fazendo com que os Estados que não tinham criassem sua fundação, “isto mudou muito o panorama”, diz.
A outra iniciativa foi a criação do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT). “Este programa era herdeiro de algo que já existia e era chamado de Instituto dos Milênios, mas que não tinha tomado grande dimensão.”
Segundo Zago, na criação do INCT houve muita influência dos Cepids da Fapesp, na concepção de um programa que necessitava ser amplo, envolver pesquisa, ter transferência de conhecimento para a sociedade e interagir com associação de grupos. “Foi financiado por um grande leque de instituições além do CNPq. Teve o apoio dos Ministérios da Educação e da Saúde, BNDES, Petrobrás e FAPs. Somando todos os recursos injetados no programa, era o maior investimento em ciência e tecnologia já feito no País”, enfatiza.
“Este foi, do meu ponto de vista, um programa muito bem-sucedido. Mudou de certa forma o panorama de ciência e tecnologia no Brasil, e numa escala menor influenciou o que fizemos na Pró-Reitoria de Pesquisa, que foi a criação dos núcleos de apoio à pesquisa. Estávamos dentro de cada ambiente, reproduzindo o mesmo modelo de cooperação de gestão do instituto”, completa.
Agora como reitor diz que pretende dar novas formas de resposta à sociedade. Entre suas metas está o ensino de graduação que será um foco permanente de trabalho, em todos os sentidos com mudanças significativas. “Para que isto ocorra é necessário descentralizar e dar mais autonomia às unidades para fazerem sua gestão e suas modificações, sem que tenham que ficar presas a um modelo único. Sem que a tramitação de documentos seja demorada nos diferentes órgãos centrais. A administração precisa ser modernizada. Espero que um processo de desburocratização da Universidade leve a uma maior fluidez na gestão”, enfatiza.
Zago considera que o segundo ponto de sua gestão é fazer uma Universidade mais democrática. Um assunto muito discutido nos últimos meses foi o processo eleitoral para reitor, na expectativa de que seja uma eleição direta. “Eu acho isso um sintoma por que o reitor se transforma na figura central, que controla tudo o que acontece na Universidade, então a ênfase na eleição é grande. Portanto não é apenas democratizar o processo eleitoral, mas sim democratizar a gestão.”
Segundo ele, a visão antiga de que o vice-reitor é o substituto do reitor será mudada. “O vice tem que ser um membro ativo da administração com responsabilidades definidas, de tal maneira que ele possa cooperar na administração da Universidade”, esclarece.
Ainda sobre as carreiras dos servidores técnico-administrativos e docentes, Zago diz que pretende dar continuidade ao processo de mudança das carreiras. “A carreira dos servidores não docentes sofreu uma modificação significativa e agora precisamos apreciar a evolução disto. Não podemos mudar o que acabou de ser modificado.”
Com relação à carreira dos docentes, é necessário avaliar a diversidade de atividades na Universidade em termos de formação, exigindo estruturas diferentes e carreiras diferentes. “Professores com interesses distintos e, portanto, não só estrutura didática diversa, mas estrutura da carreira docente diferenciada”, enfatiza.
Para ele, os variados perfis estão em proporções diferentes nas diversas áreas da Universidade: profissionalizante, ciências, humanas e artes. Então, essas diferenças precisam de alguma forma ser reconhecidas e regularizadas, para que a carreira docente seja mais realista, em virtude das atividades realizadas na Universidade.
O professor Zago é casado, com uma docente aposentada da Escola de Enfermagem de RP e tem dois filhos que moram em São Paulo. “Minha esposa resistiu e continuou em Ribeirão Preto, mesmo quando fui para Brasília, para trabalhar no CNPq. Eu acho que ela estava certa, porque me obriga a voltar para a cidade, onde nós temos nossas raízes e nossos amigos.”
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