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Documento oficial de 1667, escrito a punho. Quanto menos deteriorada está a folha, melhores são a conservação e a qualidade do papel
Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) libera acesso ao novo acervo do geógrafo Milton Santos
Criado em 1962 pelo historiador Sérgio Buarque de Holanda, o Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) guarda cerca de 450 mil documentos em seu acervo completo, número este que continua a crescer. Nele pode-se encontrar desde o manuscrito de Vidas Secas até bilhetes e notas de Carlos Drummond de Andrade. Além de célebres autores, o instituto também conta com materiais de estudiosos e pesquisadores de renome, como Milton Santos, cujo arquivo foi recentemente aberto para acesso do público.
O Fundo Milton Santos foi doado pela mulher do geógrafo, Marie Hélène Tiercelin, e conta atualmente com 2.500 itens disponíveis, havendo ainda mais 18 mil para serem catalogados e documentados. Quem cadastra os documentos do acervo são estagiários de alguns cursos de graduação da USP, como Geografia, História e Letras, trabalho no qual complementam sua graduação. O trabalho consiste em ler cada item e fazer uma descrição de todo o conteúdo.
Os materiais produzidos por Milton Santos que são encontrados no instituto podem ser divididos em duas categorias. A Biblioteca, que conta com livros raros de História e Teoria da Geografia que pertenciam ao geógrafo, e o Arquivo. Este segundo contém uma ampla gama de papéis e produções audiovisuais que reafirmam todo o trabalho em pesquisa feito por ele. Segundo Flávia Grimm, ex-monitora de Santos e autora de uma tese de doutorado sobre o professor, diz que os documentos disponíveis trazem toda a trajetória dele e como ele organizava seu material a partir de suas discussões teóricas. “Agora os pesquisadores vão poder ter acesso a tudo isso, aos seus métodos e o quanto o seu trabalho era muito rico, tanto na elaboração acadêmica quanto nos dados empíricos”, ressalta Flávia. Dentre os documentos dele que estão no instituto, podemos encontrar os rascunhos do seu livro A Natureza do Espaço. As anotações e correções feitas pelo autor ajudam a compreender quão meticulosos eram seu pensamento e seu processo de criação. Flávia acrescenta também que o geógrafo observava muito antes de teorizar, assim como fez nos seus estudos sobre o período militar no Brasil, quando estava exilado na França.
Além disso, a produção de Milton Santos acessível no IEB não serve apenas para a geografia, mas também para outras áreas das humanidades e para a economia. “Ele é um pensador que se associa muito ao debate teórico, mas ele tinha esse cuidado de estar sempre pensando na teoria e associando-a à realidade do mundo”, completa.
Jaime Tadeu Oliva, também especialista na área e professor do IEB, ressalta a importância do legado que o geógrafo deixou para o estudo da geografia. Ele conta que a Biblioteca disponível no acervo ajuda a compreender todo o embasamento que ele teve para construir suas teorias. Ainda, junto a todo o processo de organização, Milton Santos também revolucionou muitos aspectos da área com seu pensamento crítico e buscou comprovar que o espaço geográfico não é apenas um mero palco para as interações humanas, mas que ele, inclusive, fazia parte delas. “Na época dele, a teoria e a abstração eram consideradas um desvirtuamento. Ele é pioneiro de uma ruptura nesse sentido”, afirma. O professor Oliva também destaca que Santos, apesar de ter tendências esquerdistas, não construía suas ideias a partir de sua ideologia, mas constatava a condição humana através da geografia.
Conheça o IEB
Por abrigar uma grande variedade de acervos, contando com mais de 90 nomes diferentes, o IEB tem a interdisciplinaridade dos estudos brasileiros como princípio fundador, segundo Elisabete Ribas, supervisora técnica do Serviço de Arquivo. Esta política nasceu junto com o instituto e era o principal objetivo do professor Sérgio Buarque de Holanda. “Este tema é transversal e cobre todos os tipos de assunto. Até a nossa equipe é formada de modo interdisciplinar”, conta ela.
Este critério é primordial no momento de selecionar que tipos de coleções devem ou não ser aceitos e, apesar de ter uma política passiva quanto a doações, o IEB requisita que elas estejam dentro das restrições do acervo. Primeiramente, uma das normas é que os documentos perpassem a questão dos estudos brasileiros. Depois é necessário relação com os temas incluídos, como História, Geografia, Antropologia, Sociologia, Literatura, Artes Plásticas e Música.
Acesso e visibilidade
Um dos principais objetivos do instituto, além de manter o caráter multidisciplinar, é “democratizar a produção de conhecimento e preservar a memória cultural do País”, segundo o próprio Guia do IEB. Dentro dele há o compromisso de manter acesso irrestrito aos arquivos, dentro das normas de segurança, e obter apoio tanto de instâncias acadêmicas quanto jurídicas.
Apesar da política do livre acesso, Elisabete diz que as pessoas ainda procuram pouco pelos serviços que o instituto pode oferecer e que o principal público são pesquisadores, professores e alunos de graduação e pós. “A gente gostaria que as pessoas usassem o arquivo como se fosse um museu. Inclusive, gostaríamos que pais e filhos viessem visitar”, declara a supervisora. Para ela, é muito importante que os cidadãos desenvolvam um senso de empatia com a história do Brasil e diretrizes como a do IEB dão proximidade entre o acervo e as pessoas.
Para atingir o objetivo de democratizar o Arquivo e divulgar que todos podem ter acesso a ele, segundo Elisabete, o que a equipe faz é atender o melhor possível às pessoas que a buscam. “A gente tenta atender do melhor modo para que ela não desista de procurar o que queria ou para que ela pense logo no nosso acervo quando desenvolver uma pesquisa”, conta ela.
Para conhecer os arquivos do IEB basta ligar no número (11) 3091-3427 ou entrar em contato pelo e-mail arquivoieb@usp.br e agendar uma visita.
Mais informações e catálogo on-line: http://www.ieb.usp.br/