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Tratamento de saúde na era digital

 

Por William Nunes

Documento oficial de 1667, escrito a punho. Quanto menos deteriorada está a folha, melhores são a conservação e a qualidade do papel

Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) libera acesso ao novo acervo do geógrafo Milton Santos

Criado em 1962 pelo historiador Sérgio Buarque de Holanda, o Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) guarda cerca de 450 mil documentos em seu acervo completo, número este que continua a crescer. Nele pode-se encontrar desde o manuscrito de Vidas Secas até bilhetes e notas de Carlos Drummond de Andrade. Além de célebres autores, o instituto também conta com materiais de estudiosos e pesquisadores de renome, como Milton Santos, cujo arquivo foi recentemente aberto para acesso do público.

O Fundo Milton Santos foi doado pela mulher do geógrafo, Marie Hélène Tiercelin, e conta atualmente com 2.500 itens disponíveis, havendo ainda mais 18 mil para serem catalogados e documentados. Quem cadastra os documentos do acervo são estagiários de alguns cursos de graduação da USP, como Geografia, História e Letras, trabalho no qual complementam sua graduação. O trabalho consiste em ler cada item e fazer uma descrição de todo o conteúdo.

Manuscrito de A Natureza do Espaço, livro do geógrafo Milton Santos

Manuscrito de A Natureza do Espaço, livro do geógrafo Milton Santos

Os materiais produzidos por Milton Santos que são encontrados no instituto podem ser divididos em duas categorias. A Biblioteca, que conta com livros raros de História e Teoria da Geografia que pertenciam ao geógrafo, e o Arquivo. Este segundo contém uma ampla gama de papéis e produções audiovisuais que reafirmam todo o trabalho em pesquisa feito por ele. Segundo Flávia Grimm, ex-monitora de Santos e autora de uma tese de doutorado sobre o professor, diz que os documentos disponíveis trazem toda a trajetória dele e como ele organizava seu material a partir de suas discussões teóricas. “Agora os pesquisadores vão poder ter acesso a tudo isso, aos seus métodos e o quanto o seu trabalho era muito rico, tanto na elaboração acadêmica quanto nos dados empíricos”, ressalta Flávia. Dentre os documentos dele que estão no instituto, podemos encontrar os rascunhos do seu livro A Natureza do Espaço. As anotações e correções feitas pelo autor ajudam a compreender quão meticulosos eram seu pensamento e seu processo de criação. Flávia acrescenta também que o geógrafo observava muito antes de teorizar, assim como fez nos seus estudos sobre o período militar no Brasil, quando estava exilado na França.

“Eu sou completamente apaixonada pelos arquivos”, diz Elisabete Ribas, supervisora do IEB

“Eu sou completamente apaixonada pelos arquivos”, diz Elisabete Ribas, supervisora do IEB

Além disso, a produção de Milton Santos acessível no IEB não serve apenas para a geografia, mas também para outras áreas das humanidades e para a economia. “Ele é um pensador que se associa muito ao debate teórico, mas ele tinha esse cuidado de estar sempre pensando na teoria e associando-a à realidade do mundo”, completa.

Jaime Tadeu Oliva, também especialista na área e professor do IEB, ressalta a importância do legado que o geógrafo deixou para o estudo da geografia. Ele conta que a Biblioteca disponível no acervo ajuda a compreender todo o embasamento que ele teve para construir suas teorias. Ainda, junto a todo o processo de organização, Milton Santos também revolucionou muitos aspectos da área com seu pensamento crítico e buscou comprovar que o espaço geográfico não é apenas um mero palco para as interações humanas, mas que ele, inclusive, fazia parte delas. “Na época dele, a teoria e a abstração eram consideradas um desvirtuamento. Ele é pioneiro de uma ruptura nesse sentido”, afirma. O professor Oliva também destaca que Santos, apesar de ter tendências esquerdistas, não construía suas ideias a partir de sua ideologia, mas constatava a condição humana através da geografia.

 

Conheça o IEB

 

O Fundo Milton Santos ainda tem mais 18 mil arquivos para serem disponibilizados

O Fundo Milton Santos ainda tem mais 18 mil arquivos para serem disponibilizados

Por abrigar uma grande variedade de acervos, contando com mais de 90 nomes diferentes, o IEB tem a interdisciplinaridade dos estudos brasileiros como princípio fundador, segundo Elisabete Ribas, supervisora técnica do Serviço de Arquivo. Esta política nasceu junto com o instituto e era o principal objetivo do professor Sérgio Buarque de Holanda. “Este tema é transversal e cobre todos os tipos de assunto. Até a nossa equipe é formada de modo interdisciplinar”, conta ela.

Este critério é primordial no momento de selecionar que tipos de coleções devem ou não ser aceitos e, apesar de ter uma política passiva quanto a doações, o IEB requisita que elas estejam dentro das restrições do acervo. Primeiramente, uma das normas é que os documentos perpassem a questão dos estudos brasileiros. Depois é necessário relação com os temas incluídos, como História, Geografia, Antropologia, Sociologia, Literatura, Artes Plásticas e Música.

 

Acesso e visibilidade

 

Manuscrito de Vidas Secas, de Graciliano Ramos

Manuscrito de Vidas Secas, de Graciliano Ramos

Um dos principais objetivos do instituto, além de manter o caráter multidisciplinar, é “democratizar a produção de conhecimento e preservar a memória cultural do País”, segundo o próprio Guia do IEB. Dentro dele há o compromisso de manter acesso irrestrito aos arquivos, dentro das normas de segurança, e obter apoio tanto de instâncias acadêmicas quanto jurídicas.

Apesar da política do livre acesso, Elisabete diz que as pessoas ainda procuram pouco pelos serviços que o instituto pode oferecer e que o principal público são pesquisadores, professores e alunos de graduação e pós. “A gente gostaria que as pessoas usassem o arquivo como se fosse um museu. Inclusive, gostaríamos que pais e filhos viessem visitar”, declara a supervisora. Para ela, é muito importante que os cidadãos desenvolvam um senso de empatia com a história do Brasil e diretrizes como a do IEB dão proximidade entre o acervo e as pessoas.

Para atingir o objetivo de democratizar o Arquivo e divulgar que todos podem ter acesso a ele, segundo Elisabete, o que a equipe faz é atender o melhor possível às pessoas que a buscam. “A gente tenta atender do melhor modo para que ela não desista de procurar o que queria ou para que ela pense logo no nosso acervo quando desenvolver uma pesquisa”, conta ela.

 

Para conhecer os arquivos do IEB basta ligar no número (11) 3091-3427 ou entrar em contato pelo e-mail arquivoieb@usp.br e agendar uma visita.

 

Mais informações e catálogo on-line: http://www.ieb.usp.br/

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