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Núcleo dos Direitos propõe-se a construir uma sociedade em que discriminação e exclusão social sejam combatidas
Empatia é a capacidade humana de saborear a vivência alheia, isto é, colocar-se no lugar do outro e enxergar o mundo a partir dele. Essa atitude aberta, disponível e sem preconceitos não é muito comum em nossa sociedade. Cada um é um ser plural, com suas próprias contradições, experiências e individualidades, por isso é preciso desenvolver uma vida social respeitosa à diversidade, mas que não permita que esta se transforme em desigualdade.
“Lutar pela igualdade sempre que as diferenças nos discriminem e lutar pelas diferenças sempre que a igualdade nos descaracterize.” Assumindo claro apoio à diversidade, seja racial, de gênero, religiosa ou sexual, a expressão do sociólogo Boaventura de Souza Santos sintetiza o objetivo de ação do Núcleo dos Direitos da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão. Em tempos de indiferença egoísta e protesto violento, o núcleo acredita no diálogo interdisciplinar, tendo como referência os direitos humanos na busca para a superação de preconceitos e de estigmatização de indivíduos.
Constituído na gestão da pró-reitora de Cultura e Extensão, Maria Arminda do Nascimento Arruda, o núcleo congregou programas antigos da Universidade na área de direitos, mas que estavam dispersos ou ligados à extinta Coordenadoria Executiva de Cooperação Universitária e de Atividades Especiais (Cecae), como o USP Legal e o Avizinhar, que precedeu o Aproxima-Ação. Com o intuito de racionalizar a logística de administração, mas também de proporcionar o contato entre os diversos programas, a organização foi criada há pouco mais de um ano. Para Maria Arminda, a união e a junção de organismos afins promove um salto de qualidade em sua aplicabilidade: “Quando se agrega, se emula, criam-se condições diferenciadas e mais densas para o desenvolvimento de projetos”, explica.
Ao estabelecer o horizonte dos direitos como perspectiva, o núcleo auxilia a construção da identidade pessoal, construindo formasde nos situar no mundo. De acordo com o coordenador do núcleo, José Ricardo Mesquita de Carvalho Ayres, a noção de direitos é uma referência que ajuda a pensar a prática acadêmica de pesquisa, questionando o papel da Universidade na produção e transmissão de pensamentos que corroborem a aceitação da diversidade. “Nós entendemos que a universidade é o espaço da vida social, que tem suas características próprias, evidentemente, mas quanto mais ela é integrada à vida social, mais ela é capaz de produzir conhecimento que seja de fato de interesse das pessoas”, ressalta.
O núcleo cresceu a partir de um projeto piloto centralizado na ideia de diversidade sexual, o USP Diversidade, a princípio contra a homofobia, em vista de atos preconceituosos ocorridos na Universidade. Posteriormente a ideia de diversidade foi ampliada para além da sexual. O alargamento do conceito reside não só da constatação da pluralidade do termo, mas também da existência de casos de discriminação com relação à raça, por questões de gênero, em relação à mulher e à religião. Segundo José Ayres, o Núcleo dos Direitos “é um programa que se propõe a identificar e a combater qualquer tipo de discriminação e exclusão social”.
Dividido entre seis programas – Aproxima-Ação, Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares, Núcleo de Excelência pela Primeira Infância, Universidade Aberta à Terceira Idade, USP Diversidade e USP Legal – o núcleo promove na prática a questão do foco interdisciplinar: “Os diversos programas permitem que as diferentes unidades, com suas distintas áreas do saber, possam perceber o papel que podem exercer na sociedade e como elas podem se alimentar mutuamente”, explica o coordenador.
Os programas têm formas diversas de públicos-alvos, sendo o núcleo bastante novo; no entanto não possuem propostas rígidas, fechadas, mas pretendem amplificar o diálogo entre os organismos que compõem a Universidade. A intenção é proporcionar a aproximação e o trabalho em equipe, dando ao núcleo um foco disciplinar e estimulando o desenvolvimento de atividades em diferentes áreas, como medicina, psicologia, assistência social, sociologia.
USP Legal
Criado em 2001, o USP Legal faz parte do Núcleo dos Direitos como um dos seis programas. Segundo dados de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 23,9% da população brasileira – o que corresponde a mais de 45,6 milhões de pessoas – possui algum tipo de deficiência. Conhecendo essa realidade, o programa imprime iniciativas que visam a assegurar a inclusão dessas pessoas no âmbito da Universidade, removendo barreiras arquitetônicas, pedagógicas e comunicacionais. De acordo com José Ayres, o programa serve de espaço universitário para a reflexão e o exercício da cidadania: “não é só uma questão de apoiar aquela pessoa com deficiência, mas criar uma cultura de convívio com a diversidade que vai desde coisas da área física”, afirma.
Para o coordenador, é importante que os diversos programas possibilitem a cultura do encontro, que suscitem o diálogo entre as diferentes formas de ver o mundo. É assim que se pode construir uma universidade aberta: “Temos que aprender que os espaços físicos que a gente ocupa devem ser acessíveis a todos”, explica.
Pedir informação no balcão, usar o bebedouro, apertar o botão da máquina de café, entrar no banheiro. Atividades triviais de realização bastante complicada para pessoas com dificuldade de locomoção, dependendo da acessibilidade dos ambientes. Sentir na pele: essa foi a proposta de gincana do seminário da Comissão Permanente de Acessibilidade da Prefeitura de São Paulo, realizado no Instituto de Psicologia, em janeiro. Contando com a presença de estagiários do USP Legal, os participantes usaram cadeiras de rodas, muletas, tapa olhos, tudo para estimular a percepção das dificuldades enfrentadas por deficientes físicos no âmbito universitário. Perda de noção de espaço, desespero, desorientação: essas foram algumas das sensações experimentadas durante a gincana pelos convidados.
Aproxima-Ação
O programa Aproxima-Ação, como o próprio nome sugere, desenvolve projetos de integração da Universidade com comunidades adjacentes, incluindo formação digital, curso de informática, atividades artísticas e esportivas e outras que possibilitem a superação da exclusão social: “O objetivo desse programa é trabalhar a inclusão com jovens e crianças socialmente marginalizados, especialmente as comunidades em torno da USP, especialmente o Jardim São Remo”, ressalta José Ayres.
Ganhador do edital de Memória USP de 2012, o Aproxima-ação realiza documentário do projeto Grêmio Treinamicro, que nasceu em 1998 e possibilitou o vínculo entre a Universidade e jovens de comunidades do entorno da Cidade Universitária. Com estimativa de lançamento para abril, o documentário Treinamicro: uma experiência sociocultural revisitada reaviva a importância do projeto, uma vez que reconta a história do curso por meio de declarações de seus ex-alunos e de coordenadores envolvidos. Inicialmente com uma turma de 80 pessoas, o curso contava com aulas de inglês, história, matemática, português, artes e educação física, complementando as de software e hardware. Além da formação educativa, o curso se transformou em fonte de renda para alunos que passaram a dar aulas de informática.
Segundo a coordenadora técnica do programa, Beatriz Rocha, o Treinamicro foi uma experiência original na época, pois foi pioneiro na iniciativa: “A Universidade era um celeiro para abraçar essas atividades”, ressalta. Por fim, o Núcleo dos Direitos se propõe como solo de articulação de valores, de reconhecimento mútuo e emancipação humana. Conforme a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em seu artigo I, “todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos”, portanto, apostar no respeito e na empatia é uma chance que se dá à construção de uma vida solidária e plural.
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