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No ano em que a USP completa 80 anos, o acadêmico José Goldemberg conquista o Prêmio Professor Emérito, concedido à personalidade que mais contribuiu para a educação no Paísdurante o evento “Impacto do Regime Militar na USP”, ocorrido em outubro
A Universidade de São Paulo chega aos seus 80 anos com o posto de ser a maior e mais importante instituição de ensino da América Latina. Desde 1934, sua história é marcada pela intensa produção científica que contribui para o desenvolvimento social e econômico do País. Para comemorar a excelência acadêmica e projetar as perspectivas do futuro, uma série de atividades foi promovida durante o ano. Organizada pela Comissão Executiva das Comemorações dos 80 anos da USP, a programação contou com palestras, seminários, exposições e eventos diversos.
O professor escolhido para presidir essa comissão foi o físico e ex-reitor José Goldemberg, que há anos acompanha os passos da Universidade.
No dia 15 de outubro, o professor recebeu mais um prêmio na sua carreira. Dessa vez, se trata do importante Prêmio Professor Emérito – Troféu Guerreiro da Educação, concedido pelo Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE) em parceria com o jornal O Estado de S. Paulo. Desde 1997, o reconhecimento é feito anualmente a uma personalidade que tenha contribuído para a educação brasileira.
Goldemberg se junta a outros importantes docentes que já foram prestigiados como, por exemplo, Delfim Netto (2012) e Angelita Habr-Gama (2011). A seleção é realizada a partir de uma comissão formada por empresários, personalidades educacionais e conselheiros do CIEE. Na votação final, a escolha foi unânime. “Eu fiquei muito contente de ver o meu trabalho reconhecido, porque eu já havia recebido outros prêmios por causa de minha atividade científica, mas não como professor. Acho que foi um reconhecimento de que nunca abandonei essa atividade”, conta.
Físico especializado em energia, ocupou o cargo de reitor da USP (1986-1990). Chegou a exercer cargos executivos como secretário da Ciência e Tecnologia do Brasil (1990-1991), ministro da Educação (1991-1992), secretário do Meio Ambiente do Brasil (1992) e secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo (2002-2006). Foi o único sul-americano a receber o Prêmio Planeta Azul (2008), concedido pela organização japonesa Asahi Glass Foundation e considerado um dos maiores da área de meio ambiente.
Já com relação à escolaridade básica no Brasil, acredita que há questões que precisam ser mudadas. Uma delas é a duração média do aluno na escola. Para ele, deveria ser de 15 anos, enquanto a média atual brasileira é de nove. Isso significa dizer que a taxa de evasão no ensino fundamental é bem considerável. O abandono dos estudos tem uma consequência grave: “Imagine a quantidade de jovens que poderiam atingir o nível superior e desempenhar um papel importante para a sociedade”.
Dentre as várias causas desse abandono, uma delas é a falta de valorização da carreira do professor: a classe ganha muito pouco comparada com outras funções. Para resolver esse problema, a única solução é fazer o País crescer, para que o PIB do Brasil também cresça e que a fatia destinada à educação seja maior. “É preciso aumentar os salários e o prestígio social da profissão”, resume.
Dedicação à ciência
Goldemberg nasceu na cidade de Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul, e sua família era de imigrantes judeus russos que vieram para o Brasil por volta de 1900. Quando tinha cinco anos de idade, a família se mudou para Porto Alegre para garantir melhores estudos ao filho, visto que lá se encontravam excelentes escolas na época. E foi nessa fase, no Colégio Júlio de Castilhos, que teve a influência de dois professores que o encorajaram a seguir a atividade científica.
E de fato, seguiu o conselho: “Meu pai e meus irmãos vieram para São Paulo principalmente para que eu pudesse estudar em uma grande instituição que era a USP”. Formou-se em Física em 1950 e, logo depois, foi aperfeiçoar seus estudos no Canadá, onde realizou um trabalho que resultou em seu doutorado. O estudo teve um grande impacto científico: “Nós elucidamos qual era o processo de reações fotonucleares, em que a radiação X incidia nos núcleos dos átomos e produzia a radioatividade artificial”.
Como seu doutorado foi importante para a ciência, logo foi convidado a realizar estágios no exterior. Em 1962, foi para a Universidade de Stanford, onde fez trabalhos importantes na área. Também chegou a lecionar por um pequeno período na Universidade de Paris. Voltou ao Brasil para dar aula na Escola Politécnica (Poli), se dedicando integralmente a isso: “A Poli era uma escola onde, na área de física, só tinha ensino e não pesquisa. Eu achei que ensinar física para um pesquisador era diferente de ensinar para um professor. E essa é uma das coisas que acho que consegui fazer: modernizar o ensino de física na escola”.
Ditadura na USP
Um dos momentos mais tensos vividos por ele na Universidade foi o regime militar. No período de 1964 a 1985, Goldemberg foi professor na Poli e diretor do Instituto de Física (IF). Conta que as repressões ficaram sérias no final da década de 60, após o Ato Institucional nº 5, quando começaram os afastamentos dos professores e o cerceamento das liberdades individuais por parte do governo. “O que ficou evidente a partir do AI-5 com essas cassações é que a comunidade acadêmica precisava defender os cientistas e a ciência”, diz. E essa defesa era feita através das sociedades científicas organizadas na época, como a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), da qual foi presidente de 79 a 81.
Com relação à demissão de docentes, diz que a USP se defendeu razoavelmente bem. E há uma razão para isso: “O governo desejava o desenvolvimento da tecnologia, pois os militares queriam armamento, foguetes espaciais, bomba atômica, etc. E eles tinham ideias de desenvolver a tecnologia nacional, que era feita por nós. Então os militares ficavam em dúvida”. Já a pesquisa científica na USP foi parcialmente afetada. Segundo Goldemberg, alguns departamentos sofreram mais que outros: “No caso da Física, nós conseguimos verbas importantes do governo federal. Muitos dos laboratórios que existem hoje foram conseguidos nesse período”.
A perseguição aos estudantes também era algo muito presente. Goldemberg conta que, quando era diretor do IF, dois cidadãos apareceram em sua sala solicitando documentos e fichas escolares dos alunos. Ele claramente percebeu que se tratava de militares à paisana e logo tentou negociar com eles: “Eu expliquei que essa informação acadêmica era confidencial. Eles responderam que estavam defendendo a segurança nacional e que eu não estava colaborando. Enfim, disse que ia telefonar para o reitor e que se ele autorizasse, tudo bem. Na época era o professor Miguel Reale e ele disse: ‘Olha, o senhor não entregue nada e mande eles aqui’. E eles não voltaram mais”.
Quando perguntado qual o sentimento que fica daquela época, responde sem hesitação: “É o de que democracia pode ter todos os defeitos do mundo, mas é o melhor sistema de governo”. Um dos grandes problemas citados é a repressão que havia contra um pensamento. “Aqui na USP eles estavam suprimindo um pensamento. Ninguém estava cometendo crime nenhum, só estava lendo sobre o marxismo, sobre o nazismo, ou seja, o que uma universidade faz. Isso que é ruim em um regime repressivo: tentar policiar o que vai dentro do seu cérebro.”
Um pesquisador atuante
Atualmente, dedica suas tardes à Universidade, mais especificamente ao Instituto de Energia e Ambiente (IEE). Oferece cursos de pós-graduação e ainda orienta alunos de mestrado e doutorado. Nos últimos anos, a grande parte de sua pesquisa é sobre energias renováveis e mudanças climáticas. Goldemberg faz parte de várias comissões internacionais de estudo. A mais recente é uma da ONU, que se preocupa com o aquecimento global.
Possui diversas atividades científicas, sempre é convidado para dar palestras e escreve em jornais sobre temas de seu domínio, como energias e meio ambiente. Contudo, sabe equilibrar as atividades profissionais com os momentos de lazer: “Toda manhã, vou ao clube às seis horas. As pessoas brincam que estou com 86 anos e com um aspecto saudável, mas é porque mantenho uma atividade”.
Goldemberg não esconde sua paixão por ministrar aulas, algo que fez com tanta intensidade durante sua longa carreira como professor. O recente prêmio que o coroou foi apenas mais um reconhecimento aos seus serviços prestados à comunidade. Confessa que dar aula é uma nova experiência a cada dia e que, através do rosto dos alunos, consegue ver se ela foi boa ou não. Resume o que é ensinar em uma frase: “É uma guerra. Acho que o título Guerreiro da Educação representa a maneira pela qual eu encaro dar aula: quando você entra em uma sala, você está enfrentando coisas novas”.
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