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Ensino de artes nas escolas é primordial para o desenvolvimento das crianças
Em pesquisa feita pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), entre 1990 e 2001, havia 31.464 profissionais habilitados a dar aula de Educação Artística. Este número representava quase 18% do total de professores do Brasil. No entanto, segundo dados do Censo divulgado em 2007, esta porcentagem caiu para 9,9% e a demanda de alunos só aumentou. Além disso, somente no ano de 2010 as aulas de Educação Artística tornaram-se obrigatórias no currículo escolar, acrescentando-a às Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), nº 9.394.
“Art. 26
§ 2º O ensino da arte, especialmente em suas expressões regionais, constituirá componente curricular obrigatório nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos”.
Segundo Rosa Iavelberg, professora da Faculdade de Educação (FE) e especialista em arte, a baixa nas estatísticas dos profissionais dessa área se deve à desvalorização dos professores, em especial desta disciplina, os quais têm que se desdobrar em três turnos para complementar sua renda. “Isso significa que o país não está preocupado. Está no currículo como obrigatório, mas não está definida a carga didática. Para olharmos para a formação dos professores temos que olhar para a melhoria do salário e das suas condições de trabalho”, afirma ela.
A matéria de Educação Artística é tão importante quanto as outras atividades curriculares e não é apenas um simples momento de descontração. Ela traz, além do conhecimento, o desenvolvimento de habilidades cognitivas. “Com ela pode-se dizer coisas que você não diz de nenhuma outra maneira e que, às vezes, até não podem ser ditas”, explica a professora. Além de estimular muito a imaginação, é nas atividades artísticas que as pessoas mais se deixam expressar. “É um lugar onde é muito difícil haver manipulação, a não ser que a natureza humana seja destruída”, diz Rosa. A arte também instiga o pensamento crítico e o olhar analítico, trazendo benefícios até mesmo para o aprendizado de outras disciplinas.
O teatro
O teatro também uma área que compõe a disciplina de Ensino de Arte. Legalmente, ele deveria estar presente nas instâncias escolares, no entanto não é bem isso que acontece, segundo Maria Lúcia Pupo, professora da disciplina Teatro e Educação do curso de Artes Cênicas da Escola de Comunicações e Artes (ECA). De acordo com ela, nós temos uma predominância do ensino das Artes Plásticas em função de fatores históricos, como a existência das antigas escolas de Belas Artes. Maria Lúcia ainda acrescenta que, apesar de o teatro não ser muito valorizado na grade curricular, muitas vezes ele pode estar presente em atividades extracurriculares, principalmente em apresentações lúdicas.
A arte de representar nos palcos também traz benefícios para os jovens. O ensino visa a desenvolver, a princípio, a capacidade de jogos – a habilidade de saber improvisar, criar as próprias falas e gestos de acordo com o contexto da história que o limita ou não. Com isso, a criança tem a oportunidade de vivenciar ser quem ela quiser de maneiras diferentes. “Ela tem condição de experimentar como um jovem de 18 anos vive o mundo na China ou ser uma idosa de 80 anos fazendo feira. O fascinante do teatro é que você, de alguma maneira, passa a ver o mundo com os olhos de outro”, declara Maria Lúcia. Ao mesmo tempo, tem-se a possibilidade de usar seu corpo para expressar sentimentos, sensações e formas de ver o mundo. A professora compara a atividade com a literatura. “Você também experimenta estar no lugar do personagem, mas é uma coisa que acontece na sua cabeça, você apenas imagina, ao passo que no teatro você vive isso corporalmente. Então é muito especial”, diz. Complementando os benefícios do campo das sensações, o trabalho em grupo que é proporcionado também faz parte do aprendizado, permitindo encarar opiniões diferentes e chegar a algum acordo para que se possa realizar algo.
Existe ainda a concepção de se valer das artes cênicas para ensinar outras disciplinas, como, por exemplo, história, geografia e literatura. Segundo Maria Lúcia, esta modalidade já se faz presente há muito tempo e o teatro no Brasil já nasceu dessa vertente, quando os padres jesuítas queriam ensinar os valores católicos aos índios.
A dança
A dança também faz parte das quatro linguagens artísticas que deveriam estar obrigatoriamente presentes no planejamento didático da disciplina de Artes. Porém, Julia Santos, professora de dança e mestranda do Programa Interunidades Estética e História da Arte do MAC, diz que “ainda impera um senso comum de que a arte existe como um passatempo para os alunos, sendo algo menos sério que as outras matérias”.
Para ela, no ensino de arte é preciso privilegiar o aluno criador em detrimento do aluno reprodutor de conteúdos, o que muitas escolas não têm feito. No que diz respeito especificamente à dança, o problema enfrentado parte da premissa de Foucault sobre a docilização dos corpos. “Cada vez mais temos menos espaço para movimentar o corpo ou para brincadeiras livres. Cada vez mais obrigamos as crianças a permanecerem sentadas”, afirma ela. E atividades corporais ocupam um importante papel para suprir este déficit.
Além de ser uma das atividades físicas que mais colaboram para o controle de peso, a depender da intensidade de frequência com que é praticada, ela ainda auxilia na flexibilidade e na postura corporal. Em relação às capacidades cognitivas, assim como o teatro, a música e as artes visuais, ela desenvolve o pensamento crítico, artístico, estético e a criatividade através da criação coreográfica, da improvisação e do repertório. Também ensina a se expressar através do corpo e colabora para que a criança tenha menos vergonha.
“Por isso, é necessário pensarmos o que queremos privilegiar num processo pedagógico. Novamente, precisamos pensar que tipos de sujeitos estamos formando e que corpos estão se formando”, afirma Julia. Segundo ela, é essencial que o ensino da dança seja trabalhado de forma brincante e que, ao mesmo tempo, proporcione um retorno criativo, cultural e lúdico, testando até os limites do corpo. “A valorização da dança e de outras linguagens artísticas está muito longe de acontecer no contexto escolar. Há que se pensar em que projeto de sociedade queremos, assim estaremos também respondendo à pergunta: Por que e de que forma queremos ensinar a arte nas escolas?”, conclui Julia.
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