comunidade usp

Aposentadoria deve ser pensada com cuidado

  • Facebook facebook
  • Twitter twitter
  • AddThis mais
Aposentadoria: futuro bem cuidado

 

Por Ana Luiza Tieghi

Planejando o futuro

Para ter uma boa qualidade de vida após o fim da carreira profissional é preciso planejamento desde cedo, e em vários aspectos

 

Os brasileiros alcançaram uma expectativa de vida de 74,6 anos em 2012, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A cada ano que passa, são acrescentados vários dias ao tempo de vida médio esperado do brasileiro ao nascer. Para se ter uma ideia da evolução, em 1991 a expectativa de vida era de 66 anos. Em pouco mais de duas décadas houve um grande avanço, provocado por melhorias na qualidade de vida da população em geral.

“A pessoa pode pensar inicialmente que vai continuar trabalhando,
mas em algum momento ela vai parar”, diz Conde

O aumento da expectativa de vida influencia o cálculo da aposentadoria oferecida pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Se o brasileiro vai viver por mais tempo, ele também pode contribuir por um período maior, o que posterga a idade mínima para que o trabalhador receba o benefício.

Ainda assim, se a pessoa iniciar sua contribuição quando jovem, é possível se aposentar com uma idade baixa se comparada com a expectativa de vida. Muitos trabalhadores se aposentam na faixa dos 50 anos, quando ainda possuem décadas para a frente. É natural que o contribuinte deseje receber um benefício que passou anos pagando, mas também é preciso avaliar com cuidado se o tempo mínimo de contribuição, que atualmente é de 35 anos para os homens e de 30 anos para as mulheres, resultará em um benefício com valor adequado para suprir as necessidades da pessoa. Se não for, recorrer a outras medidas pode ser uma saída.

Marcos Santos“A pessoa pode pensar inicialmente que vai continuar trabalhando, mas em algum momento ela vai parar e o benefício vai continuar para o resto da vida”, alerta Newton Cezar Conde, professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), entidade criada por docentes da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA). Conde questiona o hábito de pedir a aposentadoria em uma idade relativamente baixa. “Financeiramente falando, o que compensa mais: você pedir um benefício aos 52 anos, que seja equivalente a 65% do seu salário, ou um aos 62 anos, que seja equivalente a 100%?”

Segundo o professor, mesmo se o aposentado optar por guardar o dinheiro do benefício em uma poupança, o rendimento desta não compensará a perda que se teve no valor do benefício ao pedi-lo com o tempo mínimo de contribuição. “E a maioria das pessoas gasta esse dinheiro, não guarda”, afirma. Por causa disso, o aposentado pode sentir necessidade de continuar no mercado de trabalho, já que o valor do benefício do INSS não é suficiente para manter seu padrão de vida, o que, além de impedir que ele realize outras atividades, dificulta a renovação do quadro de funcionários das empresas.

Previdência Complementar

Newton Cezar Conde, professor da Fipecafi, acredita que as pessoas deveriam começar a pensar na aposentadoria a partir dos 20 anos

Newton Cezar Conde, professor da Fipecafi, acredita que as pessoas deveriam começar a pensar na aposentadoria a partir dos 20 anos

O valor da aposentadoria representa uma queda ainda maior nos rendimentos de quem recebe acima do teto do INSS, que hoje é de R$ 4.396. Um contribuinte que receba valores mais altos que esse e tenha seu modo de vida adaptado a tal faixa salarial irá sofrer uma queda abrupta nos rendimentos se optar por sair do mercado de trabalho ao receber o benefício.

É preciso pensar com antecedência para evitar que isso ocorra. Planos de aposentadoria complementar podem ser uma alternativa para aumentar a renda após o fim das atividades profissionais, mas os valores a serem recebidos vão depender do tempo que a pessoa passou contribuindo e das quantias que escolheu guardar para a complementação da aposentadoria.

Para ajudar os funcionários estaduais paulistas na tarefa de poupar para o futuro foi criada a Fundação de Previdência Complementar do Estado de São Paulo (SP-Prevcom), entidade sem fins lucrativos vinculada à Secretaria da Fazenda do Governo do Estado de São Paulo. “A previdência complementar tem o objetivo de manter o padrão de vida da pessoa aposentada. É uma maneira de fazer uma poupança com o auxílio do patrocinador”, explica Carlos Henrique Flory, diretor-presidente da SP-Prevcom. O patrocinador é o Estado, ou no caso dos servidores das universidades estaduais paulistas, a própria universidade. Ele contribui com até 7,5% da parcela do salário do servidor que exceder o teto do INSS. “É uma porcentagem excelente”, afirma o professor da Fipecafi.

ReproduçãoO esquema de patrocínio só vale para aqueles que recebem acima de R$ 4.396 e facilita que o servidor acumule uma quantia que poderá ser resgatada após o desligamento deste com o empregador, resultando em uma renda extra que complementará a aposentadoria. Para saber mais detalhes sobre como proceder para aderir aos planos da SP-Prevcom, veja matéria da edição 156 (dezembro/janeiro) da revista Espaço Aberto (http://www.usp.br/espacoaberto/).

Apesar de não ter o apoio do patrocinador, as pessoas que recebem valor abaixo do teto do INSS também encontram vantagens nos planos de aposentadoria complementar. “Você se obriga a fazer um planejamento financeiro de forma que sobre uma quantia no final do mês. Como já vem descontado no salário, você tem que se adaptar. É uma poupança obrigatória”, comenta Flory. Por ser uma instituição sem fins lucrativos, as taxas administrativas dos planos de previdência da SP-Prevcom são mais baixas do que as de outras aplicações realizadas por bancos. Além disso, Flory afirma que o investimento é mais seguro, uma vez que “você está fazendo uma poupança dentro de uma instituição que tem seus colegas no conselho”. O dinheiro guardado nos planos de aposentadoria complementar também rende, pois é aplicado no mercado financeiro.

Arquivo pessoal

“Sempre é vantajoso aderir à previdência complementar”, afirma Carlos Henrique Flory, diretorpresidente da SP-Prevcom

Como o valor da aposentadoria complementar depende inteiramente do tempo de contribuição e da quantia que se optou por contribuir, quanto antes ela for iniciada, melhor. “O ideal seria que a pessoa começasse a pensar na aposentadoria a partir dos 20 anos”, opina Conde. Porém, o comum é que o trabalhador só se preocupe com o benefício a partir dos 40 anos, quando seu tempo restante de serviço já foi bem reduzido e fica mais difícil guardar um valor significativo. Difícil, mas não impossível.

“Sempre é vantajoso aderir à previdência complementar”, afirma Flory. Ainda mais se houver o apoio do patrocinador, o valor adquirido em alguns anos de participação será um complemento, mesmo que pequeno. Para difundir o conhecimento sobre a importância de se planejar a aposentadoria e o papel que a previdência complementar pode ter, a SP-Prevcom realizará um programa de educação financeira, com atividades voltadas tanto para pessoas mais velhas quanto mais jovens. Segundo o diretor-presidente da instituição, o programa será iniciado em breve.

Planejamento não só financeiro

A professora da Faculdade de Saúde Pública Helena Watanabe aconselha que se comece a pensar em atividades para fazer após a aposentadoria e em como realizá-las

Se planejar economicamente a aposentadoria é fundamental, o lado psicológico também precisa de atenção. “As pessoas muitas vezes aguardam ansiosamente a aposentadoria, mas não se preparam para ela”, conta Helena Watanabe, professora da Faculdade de Saúde Pública (FSP). Com o término da carreira profissional, ocorre uma mudança de papel na vida do aposentado. Ele perde o vínculo com seu emprego e a rotina que costumava realizar, então, precisa encontrar uma nova referência. Helena afirma que esse processo é mais severo nos homens, que muitas vezes não realizam atividades fora do âmbito profissional, o que dificulta o processo de adaptação após a aposentadoria.

“Ainda estamos em uma sociedade que pensa o homem como o provedor da família”, afirma a professora. Por isso, ele sente mais dificuldade em encontrar outro papel que não o daquele que garante o sustento do núcleo familiar. Também é comum que os homens possuam poucos amigos fora do círculo de trabalho, e que se fechem na família após a aposentadoria, o que pode causar tristeza e depressão em casos mais graves.

Após o término da vida profissional, é preciso se adaptar a uma nova rotina

Após o término da vida profissional, é preciso se adaptar a uma nova rotina

Para evitar que os idosos aposentados se sintam solitários, existem grupos de convivência, onde são realizadas atividades e eles podem fazer novas amizades e conviver com pessoas de fora do âmbito familiar. Mas Helena critica que muitas dessas atividades visam ao público feminino, deixando as preferências dos homens de lado. É comum que existam grupos de pintura, artesanato e bordado, o que não satisfaz a demanda dos senhores aposentados. Uma alternativa seria a criação de grupos de marchetaria ou outros hobbies que os senhores se sintam mais estimulados a realizar, pois promover a socialização dos idosos aposentados é fundamental para garantir a qualidade de vida.

A professora da Faculdade de Saúde Pública diz ainda que se programar para os anos sem trabalho ajuda a lidar melhor com o fim da carreira profissional. Por exemplo, se o sonho de um trabalhador é abrir um pet shop quando se aposentar e ele pretende parar de trabalhar dentro de cinco anos, é indicado que ele comece a se preparar para realizar seu plano desde já. Estudar o mercado, procurar um ponto comercial, aprender técnicas de administração e como lidar com os animais, enfim, tudo aquilo que será necessário para que seu sonho seja realizado. Deixar para fazer tudo apenas quando a aposentadoria estiver consumada pode atrapalhar os planos. Com a programação prévia, a pessoa já pode se aposentar produzindo novamente, evitando que ela se sinta deslocada.

Cuidar da saúde desde jovem significa ter menos doenças nessa fase da vida

Cuidar da saúde desde jovem significa ter menos doenças nessa fase da vida

Os cuidados com a saúde acompanham o planejamento para os anos de aposentadoria. “Temos que cuidar da nossa saúde desde jovem, para que possamos chegar a uma fase da vida, aposentado ou não, com menos doenças, ou ao menos com problemas controlados”, aconselha Helena. Se vamos viver mais, precisamos trabalhar para viver bem.

Deixe um Comentário

Fique de Olho

Enquetes

As questões nas reuniões do Conselho Municipal de Política Urbana envolvem, indiretamente, transporte e mobilidade. Em sua opinião, qual item seria prioridade para melhorar o transporte público?

Carregando ... Carregando ...

Dicas de Leitura

A história do jornalismo brasileiro

O livro aborda a imprensa no período colonial, estende-se pela época da independência e termina com a ascensão de D. Pedro II ao poder, na década de 1840
Clique e confira


Video

A evolução do parto

O programa “Linha do Tempo”, da TV USP de...

Áudio

Energia eólica e o meio ambiente

O programa de rádio “Ambiente é o Meio” foi...

/Expediente

/Arquivo

/Edições Anteriores