comunidade usp

O exercício do amadurecimento

Como as atividades físicas podem ser uma boa opção para a terceira idade

Por Márcia Scapaticio

Para encontrar essa turma basta uma caminhada nas primeiras horas da manhã no Centro de Práticas Esportivas da USP (Cepe). Representantes da terceira idade aproveitam a programação do Centro, desde o exercício localizado até a prática do remo.

O professor de educação física Ricardo Linares trabalha nesta área há 16 anos e perde de vista os benefícios que a atividade esportiva regular oferece. “Além dos aspectos físicos, como a melhora da capacidade aeróbica e força muscular, é importante o contato com o grupo, a integração social que transforma a atividade em um compromisso”, salienta.

Um frequentador exemplar é João Engelberg. Além de ser aluno do remo, tem como hobby o violoncelo, ao qual se dedica desde a infância. Engelberg resume o remo com um sentimento, a sensação de liberdade: “É uma atividade linear, gosto de estar na água, da liberdade e do controle do meu corpo”.

Pode parecer contraditório, unir as sensações de liberdade e de controle, mas esse é um dos pontos interessantes de lembrar quando mencionamos a prática esportiva na terceira idade. Os jovens, na maioria das vezes, associam o exercício apenas ao bem-estar físico, supervalorizando a questão estética. “A prática do exercício físico no idoso tem que ser feita de forma mais controlada, pois boa parte deles tem doenças crônicas. Os objetivos também são diferentes: prevenção de quedas, integração social, o combate à depressão e a melhora no condicionamento vascular, explica o médico do Hospital Universitário Egídio Dórea.

João Engelberg, pratica remo supervisionado pelo professor Ricardo Linares

Egídio Dórea é responsável pelo projeto e lançamento de um vídeo com propostas de movimentos de tai chi chuan, que está sendo distribuído gratuitamente nas Unidades Básicas de Saúde da região do Butantã. “Todos os exercícios são autoexplicativos e o usuário pode realizar os movimentos de acordo com o seu condicionamento e, se feitos regularmente, ajudam a melhorar as habilidades que vão sendo perdidas com o envelhecimento”, esclarece.

A compreensão da passagem do tempo e a vontade de aproveitá-lo da melhor maneira possível são evidentes no comportamento dos idosos que fazem do exercício físico uma prática cotidiana. O combate à depressão e o convívio em grupo são um dos aspectos fundamentais para essa faixa etária, tanto que o grupo que se exercita no Cepe também realiza passeios fora da Cidade Universitária. Setuko Missaka, além de aluna do Centro, é a organizadora dos passeios: “Quando a sala quer fazer algo diferente, nós programamos uma visita ao museu e até à praia, além das festas em data comemorativas, como no Dia do Professor”.

Um ponto importante na visão de Dórea é criar locais específicos para o idoso realizar atividades, pois é difícil para esse público encontrar um lugar adequado para se exercitar. Segundo Dórea, “há poucos centros de atividades físicas direcionados para os idosos, poucos parques e áreas de caminhadas. É importante lembrar das limitações, pois o idoso tem dificuldades na visão e o tempo de reação diminui.Ele não consegue desviar de um buraco rapidamente, por exemplo. Então o risco de ter um trauma é muito maior”.

Egidio Lima Dorea explica os benefícios da prática diária de exercícios para a terceira idade

O foco na prevenção de quedas também é mencionado por ele e o tai chi chuan é um grande aliado para recuperar o equilíbrio e fortalecer os membros inferiores, ajudando a prevenir as fraturas mais comuns nesse grupo, a de ombro e de punho.  Dórea é parceiro do Fundo de Solidariedade e Desenvolvimento Social e Cultural do Governo do Estado de São Paulo,que é responsável por projetos voltados aos idosos, como a criação de praças e parques exclusivos para eles.
Um objetivo de Dórea é montar um Centro de Referência para quedas, no HU. “Estamos produzindo um questionário que será distribuído para a comunidade USP, para determinar os indivíduos que já caíram e quais foram as causas. A partir disso faremos uma avaliação multifatorial, com o intuito de diminuir os riscos, pois sabemos que 30% pessoas acima dos 65 anos já caíram uma vez e desses, 50% voltam a cair no ano seguinte. Um fato que inspira cuidado, pois queda é uma das principais causa de mortalidade desta população.”

Outra novidade é que aulas de tai chi chuan serão ministradas no HU, por Chow Chin Chien a partir da primeira semana de maio, todas às quartas-feiras, para interessados com idade acima dos 65 anos. As inscrições podem ser feitas na Enfermaria da Unidade Básica de Saúde (Ubas) e no Ambulatório de Clínica Médica do HU. Chien tem 93 anos e é praticante do tai chi há 40 décadas. É ele que ensina os movimentos do esporte no vídeo produzido pelo Hospital. Chien foi indicado por um paciente de Dórea e desde então, ministra aulas de tai Chi no HU.

Alda Kruger, ao centro, Setuko Missaka e Maria Lourdes Neves, paraticam atividades diárias no Cepe

Deixe um Comentário

Fique de Olho

Enquetes

As questões nas reuniões do Conselho Municipal de Política Urbana envolvem, indiretamente, transporte e mobilidade. Em sua opinião, qual item seria prioridade para melhorar o transporte público?

Carregando ... Carregando ...

Dicas de Leitura

A história do jornalismo brasileiro

O livro aborda a imprensa no período colonial, estende-se pela época da independência e termina com a ascensão de D. Pedro II ao poder, na década de 1840
Clique e confira


Video

A evolução do parto

O programa “Linha do Tempo”, da TV USP de...

Áudio

Energia eólica e o meio ambiente

O programa de rádio “Ambiente é o Meio” foi...

/Expediente

/Arquivo

/Edições Anteriores