A corrida de São Silvestre faz parte das comemorações de final de ano, e não há quem não divida os preparativos para a ceia de ano novo com a emoção de torcer pelos corredores brasileiros. Mas o evento se funde à história da imprensa paulista.
Por Cinderela Caldeira

Conhecida como Corrida Internacional de São Silvestre é realizada anualmente na cidade de São Paulo no dia 31 de dezembro, com um percurso de 15km. A data escolhida corresponde ao dia de morte e canonização de Silvestre I, que foi papa entre 31 de janeiro de 314 a 31 de dezembro de 335, no século IV, durante o reinado do imperador romano Constantino I, que determinou o fim da perseguição aos cristãos iniciando a paz na Igreja.
O idealizador e fundador do evento esportivo foi Cásper Líbero (1889 a 1943), jornalista que ingressou na área da imprensa aos 20 anos, após formar-se na Faculdade de Direito da USP. Aos 23 anos criou a primeira agência de notícias do Estado de São Paulo, a Agência Americana.
Aos 29 anos, 1918, tornou-se diretor e proprietário do jornal A Gazeta, transformando-o num dos maiores órgãos de imprensa na época. Para isso, importou máquinas da Alemanha, substituiu o telégrafo pelo teletipo (equipamento eletromecânico de transmissão de dados), implantou novas técnicas de gravura, composição e impressão gráfica, a primeira em cores no Brasil. Para a distribuição do novo jornal, implantou uma nova dinâmica no transporte possibilitando que os exemplares chegassem às mãos dos leitores em tempo recorde.
Para divulgar eventos esportivos e comentários sobre esportes, foi criado, em dezembro 1924, um suplemento semanal que se chamava de Edição Esportiva. Em 1938, o nome Gazeta Esportiva aparece pela primeira vez ao lado do logotipo A Gazeta, e é publicado em três cores.
O Palácio da Imprensa como foi chamado a sede do jornal foi inaugurado em1939, primeiro edifício do País construído com as características apropriadas para as atividades de um jornal diário.
Cásper Líbero em viagem à França viu uma corrida noturna, onde os atletas corriam com tochas de fogo durante o percurso. Líbero trouxe o evento esportivo para São Paulo. Em 31 de dezembro de 1925, aconteceu a primeira edição da corrida que recebeu o nome do santo do dia, São Silvestre. Desde então o evento nunca deixou de ser realizado, nem mesmo durante a Segunda Guerra Mundial, diferente de outros eventos esportivos.
Concebida para ser uma corrida restrita a homens, o regulamento também previa que a participação era exclusiva aos cidadãos da cidade de São Paulo. Com o passar dos anos, corredores de outras partes do País foram aceitos.
A hegemonia dos paulistas durou até 1941, quando José Tibúrcio dos Santos, de Minas Gerais, foi o primeiro ganhador da prova de fora do Estado. Nessa época atletas estrangeiros não podiam participar da prova, contudo, pela regra, os imigrantes que residiam na cidade sim.
Nesse contexto, Heitor Blasi, italiano e morador da capital, foi o único estrangeiro a vencer a prova antes de 1947, quando foi aberta a inscrição para atletas de todo o mundo. Em 1945, foi liberada a participação de estrangeiros convidados a participar da competição, mas apenas da América do Sul.
Em 1975, a Organização das Nações Unidas (ONU) declara o ano Internacional da Mulher, e os organizadores da São Silvestre resolveram criar a corrida feminina. Nesse momento não havia qualquer restrição quanto à participação internacional de atletas. A primeira vitória feminina brasileira aconteceu na 20º edição da prova, em 1995, com Carmem Oliveira.

Na 14ª edição Bruno, Henrique, vencedor da categoria 6 anos

O primeiro atleta brasileiro a vencer a prova depois da internacionalização foi José João da Silva, de Pernambuco. Depois que a organização da prova abriu a oportunidade de participação para homens, mulheres e estrangeiros, foi a vez das crianças. Em 1993, foi criada a São Silvestrinha. Neste ano chega à sua 16ª edição e já está marcada para ser disputada no dia 27 de dezembro, em São Paulo.
Além da prova ser realizada no último dia do ano, ela marcava bem a passagem do ano porque, até 1988, tinha início às 23h30 e os primeiros classificados cruzavam a linha de chagada por volta da meia-noite. Mas devido à internacionalização do evento, em1989, adequou-se ás normas da Federação Paulista de Atletismo, e passou a ser realizada às 15h para mulheres, 17h para homens. A distância da prova que antes variava entre 6 a 9 km aproximadamente, foi fixada em 15 km.