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A professora conta sua vivência na São Francisco numa época em que as mulheres eram expressiva minoria
Por Gustavo Paiva
Ada Pellegrini Grinover, professora da Faculdade de Direito, foi homenageada durante as comemorações dos 75 anos da USP por ter sido a primeira pessoa a se doutorar pela Universidade na área de Direito. Segundo Ada, ela não sabia do fato até a cerimônia, ocorrida em 10 de dezembro de 2008. “Eu recebi o convite para uma homenagem e no discurso descobri que eu tinha defendido a primeira tese de doutorado na São Francisco”, afirma. Sua trajetória pessoal mostra posição de vanguarda para a época, principalmente no que diz respeito às conquistas femininas.
Ada Pellegrini Grinover nasceu em Nápoles, na Itália, no dia 16 de abril de 1933, mudando-se para o Brasil no início dos anos 50. A família buscava recomeçar a vida após o fim da Segunda Guerra Mundial. Filha de Rosália e Domênico Pellegrini Giampietro, Ada diz se recordar do estranhamento no primeiro contato com o país. “Foi um choque de cultura. A língua que eu não conhecia, os hábitos, as expressões idiomáticas, a nova mentalidade. No colegial, as meninas eram muito namoradeiras”, brinca.
Depois de estudar por dois anos no Colégio Dante Alighieri, Ada voltou à Itália para finalizar seus estudos de segundo grau e em seguida prestar vestibular no Brasil, ingressando assim na graduação da Faculdade de Direito. É do período universitário que Ada conta as melhores histórias de conquistas femininas. “Esse período foi muito interessante porque as moças eram a minoria expressiva. Nós éramos 10% meninas e 90% meninos.”
Nesse ambiente dominado por homens, Ada participou de episódios de enfrentamento. “Eu me lembro, por exemplo, que no Centro Acadêmico XI de Agosto, o restaurante só era frequentado por meninos. Então nós exigimos entrar no restaurante e os meninos disseram que, se nós entrássemos, eles ficariam nus. E nós dissemos: ‘Tudo bem, o problema é de vocês’. E fomos frequentar o Centro Acadêmico”, lembra rindo.
A professora conta que até o ambiente acadêmico mostrava certa dificuldade em receber mulheres nesse período. “Naquela época, nas aulas de medicina forense, quando o professor entrava na matéria de sexologia, pedia às moças que se retirassem da sala. Então nós perguntamos: ‘Mas essa matéria vai cair na prova?’. ‘Vai’. ‘Então nós vamos assistir à aula’.” Segundo Ada, sua turma foi a primeira a assistir às aulas de sexologia da disciplina.
A professora também participou de mudanças no movimento estudantil, conquistando espaço para as mulheres no Centro Acadêmico. “Naquela época havia o departamento feminino separado do Centro Acadêmico XI de Agosto. As mulheres ficavam no departamento feminino, os homens ficavam no Centro Acadêmico. Nós conseguimos acabar com o departamento feminino. Houve episódios interessantes”, resume Ada.
Nos esportes, ela também foi uma das pioneiras. Ada praticava atletismo nas modalidades 100 metros rasos, 200 metros e revezamento 4×100 e chegou a ser recordista pela Federação Universitária Paulista de Esportes (Fupe). “Fui recordista de 200m durante muitos anos”, conta. No atletismo ganhou muitas medalhas, mas lembra também das dificuldades: “Meu pai era um tanto quanto rígido, mas o treinador foi falar com ele para eu poder viajar com a equipe. Nós viajamos para o Rio de Janeiro e até Montevidéu para competir”.
Depois de formada, ela teve que lidar com um mercado de trabalho pouco acostumado com mulheres. Segundo conta, o presidente da companhia de seguros para a qual trabalhou não queria contratar uma mulher. “Durante três meses trabalhei paga pelo bolso do chefe da consultoria jurídica. Depois que já produzia e demonstrava resultados, fui contratada. Era a única mulher.”
A jurista afirma que na época já havia grandes advogadas, mas não era comum a participação delas nas altas esferas jurídicas e eram em número reduzido. “Eu fui sondada para entrar como desembargadora, mas eles disseram: ‘Nós não temos banheiro para mulher’.” Ada diz que ante essas situações reagia com serenidade. “Eu ficava na minha, enfrentava e continuava demonstrando capacidade e competência.”
Voltou à Universidade dez anos depois de formada, já casada e com um filho pequeno, para fazer primeiro a especialização, que valia como mestrado, depois o doutorado. Sua tese foi na área de direito processual, que se tornaria sua especialidade. Ada conta que ministrou algumas aulas em substituição a professores, ainda no doutorado. Seu ingresso como professora titular se deu em 1980, quando fez a livre-docência sobre as garantias constitucionais no direito de ação e prestou concurso para a cadeira de Direito Processual Penal.
Aos 76 anos, Ada continua ministrando disciplinas na pós-graduação da USP e na Faculdade de Direito de Vitória, ES, é coordenadora dos cursos pós-graduação lato sensu da rede de ensino a distância Luiz Flávio Gomes, diretora dos cursos de extensão da Escola Paulista de Direito, presidente do Instituto Brasileiro de Direito Processual e ainda advoga em seu escritório. Ada também ganhou reconhecimento internacional pelo seu trabalho na área de direito processual, sendo atualmente vice-presidente da International Association of Procedural Law e do Instituto Iberoamericano de Derecho Procesal, além de ter recebido da Universidade de Milão, na Itália, o título de doutora Honoris causa e de ser agraciada, em 2007, com o prêmio da Fundação Redenti, em Bolonha, também na Itália.
Apesar de todas as atividades e de viajar muito, quando está em São Paulo, a professora gosta de passar o tempo com a família. Ela se separou do marido há muito anos – “acho que no íntimo ele não aceitou essa independência”, diz – mas tem um filho e cinco netos, que moram na mesma rua e que foi visitar ao término da entrevista.
Com toda uma vida dedicada ao direito, Ada mostra preocupação com a formação humanística dos novos profissionais da área e continua acreditando na profissão e nas atividades de proposição de leis e estatutos, como o pré-projeto de processos coletivos que concluiu com alunos da pós-graduação. “O direito é necessário em todas as relações sociais, tanto individuais quanto coletivas. O direito é um regulador da vida social. Eu vejo o direito assim. Esse trabalho de novas leis e mudanças é necessário porque a sociedade evolui e o direito não pode ser estático. Ele tem que acompanhar a sociedade.”
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