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Quebrando mitos sobre o envelhecimento

Pesquisa da Faculdade de Medicina Veterinária descobre que envelhecimento pode não estar associado à perda de neurônios

Por Márcia Scapaticio

“Não há predestinação. Envelhecer e perder neurônios não é mais uma fatalidade.” Essa é a afirmação central do pesquisador do Laboratório de Estereologia Estocástica e Anatomia Química (LSSCA) da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ USP) Antonio Augusto Coppi.

Tal conclusão foi baseada no estudo realizado pelo laboratório. Para chegar nesse resultado, Coppi e seu grupo contou com o recurso da análise de imagem em três dimensões (3D). A primeira etapa é reunir amostragem de qualquer tipo de tecido, nesse caso foram utilizados gânglios de neurônios autônomos. Depois, esse material passou por um aparelho chamado Vibrótomo, uma lâmina que vibra e corta o tecido. Em seguida foi corado, colorido por um corante químico. Só após essas fases o computador foi empregado, permitindo a visão em 3D.

Leonardo Lopes

Segundo Coppi, o importante é o tipo de corte feito no material: “Por meio do Vibrótomo conseguimos uma amostra uniforme, sistemática e aleatória, para todas as partes serem situadas. Isso é um requisito para quem faz imagem em 3D ou 4D”, completa.

O pesquisador mencionou as possíveis implicações desse estudo na vida prática de pessoas neurologicamente saudáveis, não portadores de Alzheimer ou Parkinson, por exemplo: “Além de não relacionar o envelhecimento à diminuição do número de neurônios, associar uma dieta alimentar equilibrada a hábitos saudáveis e vida intelectual ativa, propicia um envelhecimento de qualidade. Por esse motivo a procura por acompanhamento de profissionais da área da saúde tem aumentado.”

Dessa questão, o médico geriatra do Hospital Universitário, Leonardo Lopes mostra conhecimento. Segundo ele, os mais jovens têm recorrido com mais frequencia aos serviços dos geriatras, mas isso ocorre quando alguma doença afeta um parente ou amigo próximo: “Recebemos pacientes jovens dizendo que o pai teve câncer, ou um enfarte e que não gostaria que isso se repetisse com eles. A partir disso, desenvolvemos um atendimento específico”.

Professor Antonio Coppi explica detalhes da pesquisa

O grande diferencial, na opinião dos dois especialistas, é escolha de uma vida saudável, pois no futuro envelheceremos com qualidade. Coppi reforça que “um aprendizado ativo estimula o desenvolvimento do sistema nervoso, pois a inteligência não é só o número de neurônios, mas sim a realização das sinapses, que é o modo de comunicação de nossos neurônios”, acrescentou.

Lopes traça um paralelo entre a sua área médica e os estudos do professor Coppi: “O que foi observado sobre a não degeneração generalizada dos neurônios é importante, por que é um paradigma para a avaliação em outros animais, inclusive no ser humano; então essa ideia de que ao envelhecer tudo está se perdendo não está correta”.

Visão da célula animal em 3D

Outro fator importante é que o cérebro da pessoa idosa diminui de tamanho, mas isso não significa que a sua função mental também diminui, apenas são verificadas mudanças de características. “No que se refere à memória, claro que não podemos comparar a memória de um adolescente a de uma pessoa idosa, mas existe um parâmetro de normalidade para cada indivíduo dependendo da idade”, afirma o geriatra.

Um adendo simples, mas de relevante reflexão, é feito por Lopes quando falamos em antienvelhecimento: “Do ponto de vista científico esse é um termo impróprio, pois o envelhecimento é uma fase da vida como qualquer outra, então se falamos de iniciativas com esse propósito, parece que mencionamos algo contra o próprio ciclo natural da vida. Os grupos que estudam esse tipo de situação querem nos dizer: Vamos fazer algo contra o envelhecimento ruim, com complicações e doenças, logo, é importante estar ciente disso para não se deixa levar por soluções mágicas e até profissionais mal intencionados que se aproveitam do desejo das pessoas”, completa.

Um comentário sobre “Quebrando mitos sobre o envelhecimento”

  1. Wilson Jacob-Filho disse:

    Parabenizo a revista Espaço Aberto da USP pela materia "Quebrando mitos sobre o envelhecimento".

    A abordagem interdisciplinar do tema "envelhecimento", no amplo universo da ciencia, é a unica maneira de incluirmos esta área do conhecimento na pauta de discussão dos avanços da atenção à saúde da população que mais cresce no mundo atual e futuro.

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