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Histórias que se cruzam

Por Roberta Figueira

José Marques de Melo é uma figura de grande importância para a área de comunicação e especialmente para a Escola de Comunicações e Artes da USP. Um dos fundadores da escola, ele criou e estruturou os cursos de Jornalismo e Editoração, atuou por alguns anos assumindo a diretoria de 1989 a 1993 e, apesar de aposentado, continua participando voluntariamente de atividades de pesquisa.
Sua trajetória se inicia aos 15 anos de idade como repórter de jornais alagoanos, prosseguindo para a imprensa pernambucana. Formou-se em Jornalismo na Universidade Católica de Pernambuco. Optou pela carreira acadêmica, fazendo pós-graduação no exterior e doutorado na USP.
Iniciou a carreira acadêmica em 1966 como assistente do professor Luiz Beltrão, no Instituto de Ciências da Informação da Universidade Católica de Pernambuco, transferindo-se logo em seguida para São Paulo. Nessa ocasião, foi convidado por Octávio da Costa Eduardo para trabalhar como diretor de Pesquisas do Instituto de Estudos Sociais e Econômicos, onde começou a ganhar reputação como pesquisador comunicacional. Fundou, em 1967, o Centro de Pesquisas da Comunicação Social, mantido pela Faculdade de Jornalismo Cásper Líbero, então vinculada à Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

José Marques de Melo

Docente-fundador da ECA, ele esteve impedido de exercer a docência em universidades públicas brasileiras durante o regime militar. Anistiado em 1979, reassumiu sua cátedra na USP, exercendo-a em regime de dedicação exclusiva ao ensino e à pesquisa.
Apesar de ter se aposentado voluntariamente da instituição, ele não parou de trabalhar. Seu mais recente trabalho foi a organização, ao lado do jornalista Francisco de Assis, de Valquírias Midiáticas, publicação da Editora Arte & Ciência dedicada ao perfil de sete pesquisadoras brasileiras do campo da Comunicação Social.
Dentre as biografadas estão duas professoras da USP: Cremilda Celeste de Araújo Medina e Maria Immacolata Vassallo de Lopes.
Cremilda Medina é jornalista, pesquisadora e professora de Comunicação Social. Formada em Jornalismo e Letras na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, atua na área jornalística há mais de 40 anos. Atualmente é professora da USP, onde fez mestrado e doutorado. Iniciou suas atividades na Editora Globo, em Porto Alegre, e trabalhou em vários órgãos de imprensa em São Paulo, bem como em telejornalismo.
Autora de dez livros sobre comunicação social e literatura da língua portuguesa, Cremilda Medina organizou também várias antologias ensaísticas sobre temas da atualidade. Como pesquisadora da USP coordena um projeto de livro-reportagem sobre a identidade cultural da população paulistana, e na pós-graduação coordena outro projeto integrado de pesquisa, que já editou sete documentos na série “Novo pacto da ciência: a crise de paradigmas”. Conheceu Marques de Melo ainda jovem, quando o procurou interessada na pós-graduação e acabou se tornando colaboradora da disciplina de Jornalismo Comparado da ECA.
Immacolata Lopes, que foi biografada pelo próprio Francisco de Assis, formou-se em Ciências Sociais na USP, onde também concluiu o mestrado e doutorado. Realizou ainda um pós-doutorado na Universidade de Florença, Itália, e atua como professora titular da ECA. Coordena o Centro de Estudos de Telenovela e o Centro de Estudos do Campo da Comunicação, ambos da USP. Foi representante da área de Comunicação no CNPq, de 2004 a 2007, e atualmente é membro de conselhos editoriais de periódicos nacionais e internacionais.
Marques de Melo conheceu Immacolata quando estava afastado da USP e a acompanhou em diversos momentos de sua carreira. “Acompanhei e incentivei sua ascensão na Intercom, bem como sua projeção na comunidade acadêmica de ciências da comunicação”, conta o professor.
A trajetória completa dessas pesquisadoras está no livro que, segundo José Marques de Melo, foi uma ideia coletiva. O professor conta que há anos tem se dedicado a escrever a história e a recuperar a memória das ciências da comunicação no Brasil e no restante do continente latino-americano. Dentro dessa proposta de trabalho, ele valoriza os estudos a respeito das trajetórias intelectuais dos pesquisadores, por entender que os caminhos da ciência são, em grande parte, definidos pelos interesses das figuras humanas que compõem o espaço acadêmico.
Nas disciplinas que ministra no Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Metodista de São Paulo – a exemplo do que fazia na USP –, o professor estimula os alunos a elaborarem perfis biobibliográficos de pesquisadores da área. No entanto, Marques de Melo nunca havia pensado em organizar uma coletânea com textos ligados a um mote até quando, no ano passado, a turma sugeriu reunir em um único livro sua produção. O professor conta que aceitou a proposta sob a condição de que as narrativas fossem redigidas de modo saboroso. Os alunos concordaram e refizeram seus textos. Cada biografada foi escolhida pelo autor do respectivo texto. “Na seleção final, ficaram apenas sete narrativas que considerei publicáveis e, curiosamente, todas focalizando as histórias de vida de mulheres. Isso foi uma feliz coincidência”, fala o professor.
Selecionados os textos, Marques de Melo convidou o jornalista Francisco de Assis para organizar o livro com ele e recomendou aos autores que submetessem seus textos ao crivo das biografadas. “Primeiro, devolvemos os textos aos autores solicitando que inserissem informações que faltavam, a fim de que todos tivessem homogeneidade. Depois, solicitamos aos autores e às pesquisadoras biografadas que escrevessem textos breves a respeito desse projeto”, conta Francisco de Assis.
Os autores complementaram a obra contando um pouco sobre suas próprias trajetórias e sobre o contato com as pesquisadoras, enquanto elas escreveram pequenos depoimentos sobre o processo editorial. Finalmente, Marques de Melo escreveu a introdução e pediu a dois colegas que apresentassem a obra.
O título surgiu como uma homenagem a Jenny Pimentel de Borba, fundadora, na década de 1930, da primeira revista feminista do Brasil, intitulada Walkyrias, que causou grande polêmica na época por apoiar o direito de voto à mulher brasileira e incentivar a cidadania no público feminino. Essa importante personalidade da comunicação brasileira permaneceu no ostracismo até que Ana Arruda Callado publicou sua biografia, que foi tema de seu doutorado, do qual Marques de Melo fez parte da banca. Mais uma vez as histórias se cruzam.

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