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USP: Um panorama dos 80 anos

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USP e A Sociedade

 

Por William Nunes

Marcos Santos/USP ImagensFundada em 1934, a Universidade de São Paulo mostra o quanto evoluiu desde então

 

A comemoração das oito décadas de aniversário da USP serviu de palco para uma análise geral da Universidade. Para contemplar as discussões, durante todo o mês de novembro ocorreu o ciclo de debates A USP e a Sociedade, cujo objetivo foi debater sobre quais contribuições a Universidade tem feito para a sociedade e como ainda é possível melhorar os aspectos inacabados.

Semanalmente, uma mesa compunha o evento e em cada uma delas nomes com experiência e relevância no tema estavam presentes. Para falar sobre os desafios ainda a serem enfrentados no estreitamento de relação entre Universidade e sociedade, no primeiro dia a palestra “Difusão do conhecimento gerado” reuniu os quatro pró-reitores e o reitor Marco Antonio Zago. Eles expuseram questões, metas e medidas adotadas para melhorar no aspecto da integração. Ainda no intuito de elencar os pontos altos e baixos, na semana seguinte a mesa sobre “Meios de comunicação” questionou como a Universidade se comunica com a mídia e instâncias fora dela. Para isso, compareceram nomes como o jornalista Eugênio Bucci, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA), que coordenou o debate; Roberto Godoy, d’O Estado de S. Paulo; Marcelo Leite, da Folha de S.Paulo; e Álvaro Pereira Jr., do Grupo Globo.

Da esquerda para a direita: Eduardo Moacyr Krieger, Fernando Henrique Cardoso, Marco Antonio Zago e Celso Lafer

Da esquerda para a direita: Eduardo Moacyr Krieger, Fernando Henrique Cardoso, Marco Antonio Zago e Celso Lafer

Para dar prosseguimento às quatro semanas de discussão, o tema “Inovação tecnológica” mostrou um panorama geral sobre os avanços e investimentos da ciência no Brasil e a relação com a USP, que é responsável por 25% da produção científica do País. A última mesa, “USP como geradora de conhecimento em padrão de excelência” fechou o ciclo com a presença do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso; José Goldemberg, ex-reitor; Celso Lafer, presidente da Fapesp; e Eduardo Moacyr Krieger ex-presidente da Academia Brasileira de Ciências. Foram abordados exemplos de como a Universidade pode e deve se manter como uma referência. A questão da pesquisa interdisciplinar foi um ponto considerado por todos da mesa. Por fim, todos os debates permitiram conhecer sobre o que a USP tem de melhor para oferecer, os trabalhos e as pessoas envolvidas para que ela permaneça sendo parâmetro de ponta no Brasil. A partir disso, foi possível construir uma visão de oportunidades e obstáculos para o futuro.

 

Ensino e pesquisa

 

Crusp sendo construído na década de 60 (à esquerda) e a moradia estudantil já concluída

Crusp sendo construído na década de 60 (à esquerda) e a moradia estudantil já concluída

Acervo Poli

A organização da Universidade norteia-se através de um tripé que se baseia no ensino, na pesquisa e na extensão. É dentro desses três parâmetros que ela promove, não só o progresso, mas também a difusão da ciência e forma especialistas em todos os ramos do conhecimento. Ao longo dos 80 anos, a USP tem alterado seu modo de pensar e, consequentemente, o seu modo de produzir. Essas mudanças podem reverberar em diversos aspectos do cenário acadêmico.

Internacionalmente, o nome da Universidade é bem reconhecido e ocupa mais de 2,5% da representação mundial, segundo dados da Pró-Reitoria de Pesquisa (PRP). As áreas de maior produção de papers são a medicina clínica e as ciências vegetais e naturais. No entanto, o nível de relevância do material produzido internamente ainda é baixo, voltando-se, novamente, para a questão do impacto. O número de citações que os trabalhos recebem é um dos critérios de avaliação e dados mostram que estão cerca de 30% abaixo da média mundial. Aperfeiçoar esta produção está dentro dos desafios, não só da PRP, mas da instituição como um todo. Segundo José Eduardo Krieger, pró-reitor de Pesquisa, já existem algumas estratégias definidas. São elas: manter a identificação e prospecção dos melhores pesquisadores; estimular a pesquisa interdisciplinar, que é mais complexa e frequentemente associada a questões relevantes; promover o acesso dos pesquisadores à instrumentação complexa; reduzir o tempo que o pesquisador gasta com sua atividade-meio e maximizar o tempo dispensado com a atividade-fim; e utilizar esforços combinados com a internacionalização.

“Em termos do que se tem que fazer é muito claro. O difícil é fazer tudo isso”, diz Krieger. Todas essas medidas, segundo ele, têm por objetivo atrair e manter os pesquisadores ativos e fornecer mecanismos para melhorar cada vez mais a qualidade da produção científica.

Faculdade de Direito do Largo São Francisco durante sua construção<br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br />
em 1933 (à esquerda) e a Faculdade atualmente

Cecília Bastos

Faculdade de Direito do Largo São Francisco durante sua construção em 1933 (à esquerda) e a Faculdade atualmente

Segundo Hernan Chaimovich, ex-pró-reitor de Pesquisa, professor do Instituto de Química (IQ) e coordenador dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) da Fapesp, esse aspecto da USP pode ser dividido em algumas fases. Por volta das décadas de 60 e 70, o número de pessoas que faziam pesquisa era relativamente pequeno. Uma das discussões importantes da época era se os textos deveriam ser publicados em inglês ou português. Em um período de bipolarização do mundo entre capitalismo e socialismo, para o professor Chaimovich, os debates tendiam a questões mais ideológicas e havia a ideia de que quem publicava em inglês era de direita. “O que faz a ciência avançar é que as pessoas leiam suas ideias. Se elas realmente têm algum impacto, elas produzem novas ideias. Então, se você quer que isso aconteça, você tem que ser lido e o número de pessoas que entende português é muito limitado”, explica o professor.

Com o passar do tempo e com amadurecimento do ramo, o que passou a importar foi a quantidade de material produzido dentro da Universidade. Esta nova noção, segundo Chaimovich, foi reproduzida do exterior. “Copiamos a ideia de que volume quer dizer impacto e, na verdade, são coisas muito diferentes”, diz ele. Nesse aspecto, o impacto ocorre quando ideias geram novas ideias, riqueza, equidade e políticas públicas. “Nós estamos transitando de forma relativamente lenta, quando, no começo, a discussão era publicar em inglês ou não; depois, para um meio em que você é bom porque publica muito. Hoje a discussão é ‘qual é o impacto das suas ideias?’”, completa ele.

Da esquerda para a direita: Hernan Chaimovich, Glaucius Oliva, Luiz Nunes de Oliveira e Glauco Antonio Truzzi Arbix

Da esquerda para a direita: Hernan Chaimovich, Glaucius Oliva, Luiz Nunes de Oliveira e Glauco Antonio Truzzi Arbix

Para suprir a concepção, o campo da pesquisa na Universidade não se destitui do ensino. Ainda dentro da questão qualitativa, e não quantitativa, esta nova mentalidade tem se refletido em números. Segundo informações da Pró-Reitoria de Pós-Graduação, a pesquisa se estabilizou e não tem crescido em volume, mas tem ganho visibilidade nos balanços oficiais. Nos últimos 15 anos, a avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) apontou que 40% dos programas possuem conceitos seis e sete, configurando, oficialmente, “cursos de excelência de nível internacional”. Apenas quatro foram avaliados com o conceito número quatro, ainda considerado “bom” dentro dos parâmetros da Capes.

Acervo Poli

Prédios do Instituto de Química na década de 60  e atualmente

Prédios do Instituto de Química na década de 60 e atualmente

Ainda assim, a pró-reitora de Pós-Graduação, Bernadette Gombossy, aponta alguns desafios a serem superados nos próximos anos. “O mais importante e prioritário, e também o mais difícil, é a implementação de um sistema de avaliação próprio”, diz ela. O novo modelo seria complementar ao da Capes e, além de empregar indicadores de qualidade diferentes e de nível internacional, auxiliaria na criação de novas políticas dentro da Universidade. Segundo a pró-reitora, algumas medidas nesta direção já estão sendo tomadas, como a avaliação do impacto da mobilidade internacional (como intercâmbios e simpósios, por exemplo) de docentes e discentes. O próximo passo será mensurar a atuação, tanto acadêmica quanto de mercado, dos ex-membros. Bernadette ainda acrescenta que outro obstáculo a ser superado é a adoção de medidas que impulsionem o caráter de impacto das pesquisas. Para ela, a divulgação do material, tanto no âmbito nacional quanto internacional, é a melhor maneira de se alcançar a sociedade.

 

Para além dos muros

 

Antigo Instituto de Higiene na década de 30 e a atual Faculdade de Saúde Pública

Antigo Instituto de Higiene na década de 30 e a atual Faculdade de Saúde Pública

Acervo FSPLevar a Universidade para além de seus muros é também uma das pautas a serem enfrentadas e que foram discutidas nos encontros acerca dos 80 anos. Para Maria Arminda do Nascimento Arruda, pró-reitora de Cultura e Extensão Universitária, “a USP possui dificuldades em ser notada, mas, apesar disso, os números apontados mostram que a notabilidade tem crescido”. Algumas ações de divulgação já estão sendo tomadas. A interação com alunos do ensino médio é uma das principais propostas que se refletem em eventos como A USP e as Profissões e o Centro de Divulgação Científica e Cultural (CDCC). Esclarecer o que é a Universidade de São Paulo para os alunos do ensino médio, principalmente da rede pública, tem sido um dos alvos, pois boa parte ainda crê que os serviços oferecidos são pagos. Outra meta é a melhor divulgação de cada curso, pois a partir do momento em que o aluno toma conhecimento das carreiras, aumentam-se as chances de que ele preste o vestibular.

Os mecanismos de ingresso também são uma discussão, segundo Antonio Carlos Hernandes, pró-reitor de Graduação. “Temos o grande desafio de nos reinventarmos para vencer as demandas de maior acesso de alunos provenientes de escolas públicas”, diz. Segundo ele, já houve avanços neste aspecto, inclusive no aumento do número de cursos disponíveis, mas a Universidade ainda pode fazer muita coisa nesse sentido.

 

A ditadura militar na USP

 

Ex-reitor Gama e Silva (à esquerda) ao anunciar o AI-5 ao lado do locutor da Voz do Brasil

Ex-reitor Gama e Silva (à esquerda) ao anunciar o AI-5 ao lado do locutor da Voz do Brasil

Ao completar seu oitavo decênio, a Universidade também faz questão de recapitular o período de regime militar pelo qual passou. Este foi um dos momentos mais intensos e repressores politicamente para a instituição. Umberto Cordani, professor do Instituto de Geociências (IGc) na época e até hoje, diz que, por conta da Guerra Fria e bipolarização entre capitalismo e socialismo, os ânimos políticos dentro da USP nesse momento já estavam bem acirrados. Os reitores eleitos durante o regime eram apoiadores daquele modo de governo. Um deles, Luís Antônio da Gama e Silva, chegou a fazer parte da redação do Ato Institucional nº5.

Com o recrudescimento da censura e das perseguições, na Universidade, um dos maiores polos antiditadura do País, esse clima não era diferente. Muitos professores foram perseguidos, dedurados pelos próprios colegas, afastados dos seus cargos, presos e até exilados, com a justificativa de serem subversivos. Com os alunos também acontecia o mesmo e todos estavam sujeitos a qualquer suspeita, por menor que fosse a acusação. “Isso criou uma situação de medo. Era uma caça aos comunistas”, diz Cordani. A ditadura culminou na morte de pessoas da comunidade universitária como Ana Kucinski, professora do Instituto de Química (IQ); Vladimir Herzog, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA); Alexandre Vannucchi Leme, aluno da Geologia e que hoje dá nome ao Diretório Central dos Estudantes (DCE) e muitos outros nomes que ficaram desaparecidos, presos, torturados e mortos. Após a morte do professor Herzog, em 25 de outubro de 1975, o regime militar recuou lenta e gradualmente, segundo a política do então presidente Ernesto Geisel, até a reabertura para a democracia. “O sentimento que fica é um alívio”, conclui o professor Cordani.

Ana Rosa Kucinski, foiprofessora do Instituto deQuímica (IQ)

Ana Rosa Kucinski, foi
professora do Instituto de
Química (IQ)

Vladimir Herzog foi jornalista,professor da Escola deComunicações e Artes (ECA)

Vladimir Herzog foi jornalista,
professor da Escola de
Comunicações e Artes (ECA)

Alexandre Vannucchi Leme foi aluno da Geologia e dá nome ao atual DCE

Alexandre Vannucchi Leme foi aluno da Geologia e dá nome ao atual DCE

 

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