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Primeira instituição de medicina do Estado de São Paulo celebra centenário de pioneirismo
A década era a de 1910, e o Estado de São Paulo fervia. Os lucros advindos da cultura do café permitiam que a elite desfrutasse de luxos outrora inimagináveis em terras tupiniquins. Entre grandiosos edifícios e boulevards, entre largas avenidas e bondes, entre chapéus de feltro, gravatas e mulheres elegantes, a elite de São Paulo, à moda francesa, vivia sua belle époque. Mas nem mesmo a ostentação de alguns era capaz de esconder atrasos, como os que ocorriam na área da saúde: faltavam médicos no Estado de São Paulo. Apenas Bahia e Rio de Janeiro, até então, dispunham de Escolas de Medicina.
Foi em 1912 que a situação mudou. Um velho projeto, estabelecido por decreto de 1891, finalmente vingou em terras paulistas. Dr. Arnaldo Vieira de Carvalho – formado pela escola carioca de medicina –, com o aval do poder público, em 19 de dezembro daquele ano, criou a Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo. Hoje, cem anos após sua fundação, quando olhamos para sua história, não é preciso que decretos nos revelem que a primeira faculdade de medicina de São Paulo consolidou-se como a maior instituição do tipo do País.
José Otávio Costa Avler Junior, vice-diretor da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), pode não ter presenciado todos os marcos, mas conhece muito da história da instituição. Ele destaca a importância do apoio da Fundação Rockefeller, nos anos iniciais da faculdade, na formulação tanto da estrutura física quanto educacional da faculdade. A parceria com o órgão estadunidense permitiu a construção do atual prédio da FMUSP, cuja inauguração data de 1931. “Com a sociedade também foi possível trazer para o Brasil o modelo americano de ensino, que consiste na ideia do hospital-escola e que funciona até hoje na faculdade”, conta.
Em 1934, a então Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo foi integrada à recém-criada Universidade de São Paulo e adotou o nome que mantém até hoje – Faculdade de Medicina da USP.
Quanto ao modelo de ensino, Avler lembra que ele era pioneiro no País. Foi criado com o objetivo de proporcionar aos alunos o contato com o paciente. As aulas práticas de clínica e cirurgia, nos primeiros anos, aconteciam na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Em abril de 1944, foi inaugurado o Hospital das Clínicas (HC), primeiro hospital universitário do País. “O HC é o coração do ensino da faculdade”, diz Avler.
O resultado: num país onde 30% das graduações em medicina não possuem hospital-escola, a residência médica da FMUSP é a mais concorrida. De acordo com o vice-diretor, cerca de 30% de todos os formandos em medicina do Brasil realizam o processo para admissão na residência do HC. “O critério para seleção é rigoroso e envolve uma prova escrita, uma prática e entrevista.”
O hospital-escola é formado por sete institutos especializados (Instituto Central, Instituto da Criança, Instituto do Coração, Instituto de Medicina de Reabilitação, Instituto de Ortopedia e Traumatologia, Instituto de Psiquiatria e Instituto de Radiologia) e dois hospitais auxiliares (Hospital Auxiliar de Suzano e Hospital Auxiliar de Cotoxó). Avler completa: “O HC também é responsável pelo Instituto do Câncer, pelo Instituto de Infectologia Emílio Ribas, pelo Projeto Região Oeste e conta com um polo de atendimento em Santarém, no Pará”.
Outro ponto forte da FMUSP, que impulsiona as estatísticas para cima, é a dedicação à pesquisa. Para Avler, a instituição dá “um grande enfoque nessa área. Hoje, somos responsáveis por 4% da produção científica em todo o País, em todas as áreas do conhecimento. Só da área médica nacional, 14% do conhecimento sai daqui. Em toda a América Latina, e em todas as áreas do saber, a faculdade é responsável por 2,2% da produção científica”.
Essa fome de conhecimento foi capaz de proporcionar à faculdade a vivência de momentos históricos para a medicina mundial. Responsável pela implantação de técnicas pioneiras em seus cem anos de existência, a FMUSP realizou, em 1965, o primeiro transplante de rim da América Latina; em 1968, o primeiro transplante de fígado da América do Sul. No mesmo ano, realizou a segunda cirurgia no mundo de transplante de coração. Em 1988, na FMUSP, acorreu o primeiro transplante intervivos de fígado e a primeira cardiomioplastia do mundo. No ano seguinte, 1989, aconteceu o primeiro transplante de fígado em criança do mundo.
Já na década de 1990, os fatos pioneiros não deixaram de acontecer. O vice-diretor destaca o nascimento do primeiro bebê de proveta em hospital publico do País, em 1991; a primeira cirurgia de autoimplante de coração e o segundo transplante cardíaco em criança do País, em 1993; o primeiro implante coclear do País em paciente com surdez profunda, em 1994, e o transplante cardíaco no mais jovem paciente brasileiro, um bebê de 20 dias, em 1995. Com inúmeros procedimentos clínicos e cirúrgicos pioneiros, além da qualidade do ensino e da pesquisa, em 2011, a FMUSP passou a ser a primeira escola médica da América do Sul a integrar a M8 Alliance – uma rede global de instituições acadêmicas de excelência em ensino e pesquisa.
Em 2012, São Paulo já não vive mais a inspiração europeia. Os grandiosos edifícios agora abrigam a sede de empresas e lá não mais desfilam os figurões da elite. As avenidas largas foram tomadas por automóveis e os bondes, substituídos por ônibus, trens e metrôs. Não há chapéus de feltro, e homens e mulheres, agora, correm pelas ruas apressados para seus compromissos. Cem anos depois, o cenário mudou e não se pode dizer, tampouco, que São Paulo carece de médicos e profissionais da saúde, como outrora. E grande parte desse desenvolvimento se deve à Faculdade de Medicina da USP. Mas e os próximos anos? Para José Otávio Costa Avler Junior, a instituição continuará a “olhar o passado, cultivar a memória e agir, sempre, para o futuro”.
“O lugar assumido por esta faculdade, como um farol acadêmico e médico-científico, nos lança, em seu centenário, o grande desafio futuro de permanecermos como uma gota de óleo a espalhar-se no papel em branco do conhecimento, do ensino e da assistência do porvir. O compromisso pelo aprofundamento desses objetivos, que são encontrados no dia a dia de nosso trabalho, só pode nos encher de ânimo para persistirmos nessa orientação.”
José Otávio Costa Avler Junior, vice-diretor
8 milhões e 600 mil exames laboratoriais por ano
1 milhão e 600 mil procedimentos de diagnóstico por imagem por ano
1 milhão e 500 mil atendimentos ambulatoriais por ano
250 mil atendimentos de emergência por ano
600 transplantes por ano
40 mil cirurgias por ano
18 mil funcionários
1.430 alunos de pós-graduação
1405 estudantes de graduação
1.196 médicos residentes
368 docentes
4 cursos de graduação (Medicina, Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional)
seg, 29 de junho
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ter, 2 de junho