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O sal é o vilão?

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Um cardápio gordo em casa e na TV

 

Alessandra Goes Alves

Saiba as razões por que o sal deve ser consumido com moderação

Você acorda e, para o café da manhã, prepara um pão francês com manteiga e um copo de leite com achocolatado em pó. Antes do almoço, come uma maçã crua. Chega a hora do almoço e você vai ao restaurante perto do trabalho: uma colher de salada de legumes com maionese, macarrão com molho à bolonhesa coberto por queijo parmesão, além de uma linguiça de porco grelhada. Para beber, uma lata de refrigerante do tipo cola e, como sobremesa, um bombom de chocolate. Ao fim da tarde, come um pão de queijo assado. Cansado, após um dia de trabalho, chega em casa e janta uma colher de arroz, uma concha de feijão, um pouco de atum e uma salada, composta por ervilha e milho enlatados.

“Deve-se evitar o fast-food e dar preferência para o nosso tradicional arroz com feijão”, diz Sandra Vivolo, professora da Faculdade de Saúde Pública

Apesar dos legumes e da fruta, um cardápio como este fornece uma quantidade de sal 52% superior à recomendada pelos médicos. Utilizado para “dar um gostinho” à comida, o sal também é visto como um “vilão” das dietas. “É necessário consumir sal, mas em quantidades moderadas”, afirma Luiz Aparecido Bortolotto, cardiologista do Instituto do Coração (InCor).

O médico explica que o problema não é o sal, mas um dos elementos químicos que o compõem: o sódio, pois ele é um dos principais fatores de desencadeamento de hipertensão, doença crônica caracterizada pelo aumento da resistência dos vasos sanguíneos ao batimento do coração.

A relação entre sódio e hipertensão é explicada pelo aumento do volume circulante nas artérias. “O alto consumo de sódio provoca retenção de água pelos rins, o que aumenta o volume circulante e, consequentemente, a pressão no interior dos vasos”, explica Sandra Roberta Gouveia Ferreira Vivolo, chefe do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública (FSP USP). Segundo pesquisa do Ministério da Saúde, o número de hipertensos vem crescendo no País nos últimos anos e chegou a atingir 24,4% dos brasileiros em 2009 (aumento de 2,9% em relação a 2006). Isso faz a hipertensão ser a doença crônica não infecciosa mais frequente no Brasil.

Segundo Luiz Aparecido Bortolotto, que também é integrante da Sociedade Brasileira de Hipertensão, deve-se consumir até cinco gramas de sal por dia, porção que contém dois de sódio. De acordo com Rafael Claro, nutricionista da Faculdade de Saúde Pública (FSP USP), esses cinco gramas englobam os dois tipos de sal: o que é adicionado pelas pessoas e aquele contido nos alimentos (industrializados ou não).

O sódio é um ótimo conservante e por isso é bastante utilizado em alimentos industrializados. Bortolotto diz que ler a tabela nutricional dos produtos antes de comprá-los é fundamental e explica que um alimento não pode ter mais do que 25% do total de sódio a ser consumido em um dia. “Se o limite recomendado por dia é de dois gramas, um produto deve apresentar até 0,5 gramas de sódio.”

Mas é importante lembrar que os não industrializados também apresentam sódio, principalmente os de origem animal, como carnes e leite. “No entanto, a quantidade de sódio destes alimentos não costuma ser grande”, afirma Rafael Claro.

Além da alimentação, o sedentarismo e o estresse são fatores que, associados, contribuem para um quadro hipertensivo. Isso sem falar na herança genética, como é o caso de Cleonice de Souza Henrique, de 65 anos. Copeira da Coordenadoria de Comunicação Social (CCS USP), Cleonice tinha o pai hipertenso. “Ele era açougueiro, então comíamos muita carne e muita gordura. Nada de salada ou frutas”, conta. Hoje, ela toma mais cuidado com a alimentação, pois, além de hipertensa, é diabética.

Rafael Claro, professor de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública, afirma que é preciso cautela para calcular a quantidade de sódio dos alimentos: “Há o sódio que já vem com os alimentos e aqueles que adicionamos a partir do sal”

Dentre as consequências da hipertensão, estão o aumento das chances de acidente vascular cerebral (AVC), o sobrecarregamento dos rins (responsáveis por eliminar o sal do organismo) e o inchaço (que acarreta problemas como a celulite).

“Diferentemente do diabetes, a hipertensão não apresenta sintomas”, diz Luiz Aparecido Bortolotto. Por isso, é preciso monitorar a pressão arterial constantemente e verificar se ela está dentro dos padrões recomendados pelos médicos de, no máximo, 14 por 9. Tanto na prevenção como no tratamento da hipertensão, é importante reduzir o estresse e realizar atividades físicas frequentemente.

De acordo com a nutricionista Sandra Roberta Vivolo, atividade física não se refere somente a esportes: “Andar a pé, de bicicleta e subir escadas já contam para a saúde”. Não ficar horas a fio em frente a uma tela de computador sem levantar-se e andar parte do trajeto até o trabalho são medidas que também surtem efeitos.

A alimentação é elemento fundamental e merece cuidado: uma dieta rica em fibras, água e com pouco sal é o mais recomendado pelos médicos. Em uma dieta balanceada, pão francês, fast-food, embutidos, macarrão pronto, salgadinhos, biscoitos, alimentos enlatados e congelados, ricos em sódio, devem ceder espaço a uma grande variedade de frutas e verduras, além de carnes magras (cozida ou grelhada) e alimentos integrais.

Luiz Aparecido Bortolotto, cardiologista do Instituto do Coração (InCor) diz que tirar o saleiro da mesa pode ajudar a inibir o consumo de sal

Para substituir o sal, alho, cebola, manjericão e erva-doce podem ser boas opções. A nutricionista Sandra Roberta Vivolo diz que o sal light apresenta menos sódio em comparação com o normal, mas só terá efeito se as pessoas não aumentarem a quantidade de sal que adicionam aos alimentos. Segundo o cardiologista Luiz Aparecido Bortolotto, tirar o saleiro da mesa é uma medida praticada em cidades como Buenos Aires e que ajuda a inibir uma adição excessiva de sal.

Atenção na infância e adolescência

Segundo Luiz Aparecido Bortolotto, crianças e adolescentes merecem atenção quando o assunto é hipertensão. “Esse público é cada vez mais afetado pela obesidade, consequência de uma dieta repleta de produtos industrializados e pobre em frutas.” A prevalência do aumento de peso e hipertensão são fatores que se relacionam. Para tratar do tema, estudantes de Nutrição produziram um vídeo para dar dicas sobre quais alimentos devem constar em uma alimentação saudável.

 

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