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Lápide, apaguinhos e apagões

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Mais atenção aos desastres naturais

 

José Roberto Castilho Piqueira (Especial para a revista Espaço Aberto)

ReproduçãoO escritor George Bernard Shaw, Prêmio Nobel de Literatura, tem em sua lápide a inscrição: “Eu sabia que isso ia acontecer comigo”. Essa é uma maneira brilhante de expressar o segundo princípio da termodinâmica que assegura o aumento irreversível da entropia (desordem) do Universo, implicando a degradação da energia.

É o princípio físico que está mais próximo de nossa vida diária: as pessoas envelhecem, o vaso quebrado não se reconstrói, o curso de água não retorna, a amizade, uma vez perdida, é irrecuperável.

Cada vez que postamos uma mensagem na internet, a energia que nossos alimentos proporcionaram converte-se em impulsos nervosos do nosso pensar e em energia mecânica do nosso digitar. O computador converte a energia elétrica que retira da rede de distribuição nos bits que utiliza para processamento e comunicação.

A internet é um emaranhado de redes de comunicação, com centrais de comutação, micro-ondas, fibras ópticas, antenas e uma parafernália que a alimenta com energia elétrica, também retirada da rede de distribuição.

Há as transformações de energia que movem carros, aviões e navios; que permitem que os instrumentos de uma unidade de terapia intensiva mantenham vidas; que levam à sua sala de TV o seu ator predileto discorrendo sobre Belo Monte e desmatamentos.

Conscientize-se que as transformações de energia sempre implicam perdas e a sociedade moderna, cada vez mais, exige que elas ocorram. É o que a lápide de Shaw expressa tão corretamente.

Qualidade de vida, nos moldes que entendemos hoje, requer energia e sua democratização depende de soluções tecnológicas que contemplem as necessidades de todos.

Essa energia, ao sofrer transformações, degradar-se-á e parte dela é irrecuperável. Considerando que a energia disponível na Terra seja finita, perdê-la, continuamente, levará a seu esgotamento.

Apaguinhos são prenúncios de apagões, exigindo ações imediatas das empresas produtoras e distribuidoras de energia, dos órgãos regulamentadores e da população.

Ações imediatas, entretanto, não garantirão o futuro, nem mesmo de médio prazo. Nosso país tem uma das matrizes energéticas mais limpas do planeta, mas precisa expandi-la e diversificá-la.

Individualmente, acabaremos como George Bernard Shaw, é claro. Mas a preservação da espécie humana requer, além de todas as ações apregoadas sobre meio ambiente e biodiversidade, algo de novo a respeito da questão energética.

A fusão nuclear, processo utilizado pelo Sol para gerar a energia que nos manda, tem sido pesquisada como alternativa limpa e segura em vários países. Soluções viáveis, infelizmente, ainda demorarão.

No Brasil, há grupos de pesquisa trabalhando nisso. Incentivá-los pode ser de grande valia.

 

José Roberto Castilho Piqueira é professor do Departamento de Engenharia de Telecomunicações e Controle  e vice-diretor da Poli

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