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A cronobiologia estuda os ritmos biológicos do organismo, ou seja, os fenômenos biológicos que ocorrem em um determinado período de tempo. Essa foi a área que encantou Cláudia Roberta de Castro Moreno, professora e pesquisadora da Faculdade de Saúde Pública.
Atualmente desenvolvendo um projeto de pesquisa na Amazônia, sobre o trabalho de seringueiros em uma reserva ambiental e os efeitos dessa atividade no organismo, Cláudia foi agraciada com um prêmio de 180 mil dólares para a pesquisa. A quantia foi concedida pela UGPN (University Global Partnership Network), liga formada pela USP, Universidade Estadual da Carolina do Norte (EUA) e Universidade de Surrey (Inglaterra), para desenvolver pesquisas em todo o mundo, incentivando a troca de conhecimento entre os países.
O interesse pela biologia
“Desde cedo eu queria fazer Biologia. É uma área bastante diversificada”, conta Cláudia. A professora sempre desejou trabalhar com pesquisa e suas matérias preferidas na escola foram ciências e biologia. Segundo ela, parte disso se deve aos bons professores que lhe passaram o interesse pela ciência. “Tive ótimos professores nessas matérias, em várias escolas. Eu dei sorte”, afirma. Após cogitar prestar Medicina no vestibular, Cláudia percebeu que a Biologia era o melhor caminho para seguir, pois se interessava não pelo contato direto com o paciente, mas por tudo o que está por trás disso, dentro dos organismos.
Assim, começou a graduação na Universidade Presbiteriana Mackenzie, em 1983. A diversidade do curso, que era um atrativo para Cláudia, também causou indecisões. “Havia vários caminhos que eu poderia seguir. Gostava de genética, citogenética, etc. Fiquei um pouco dividida entre o caminho a ser seguido, mas logo no segundo ano da graduação eu já busquei um estágio”, relembra. Os estágios na época eram totalmente gratuitos e voluntários, mas ajudavam a decidir qual área seguir. “O primeiro estágio que fiz foi na Universidade de São Paulo, no Museu de Zoologia. Trabalhei na parte de malacologia, que é o estudo dos moluscos” conta. Após um semestre, Cláudia decidiu que queria fazer algo diferente. Seguindo a orientação de seu pai, foi até a Faculdade de Saúde Pública, onde conversou com o chefe do Departamento de Saúde Ambiental, que a direcionou para a professora Frida Fisher, também bióloga. Trabalhar com a pesquisadora foi uma ótima experiência. Como destaca Cláudia, “assim que comecei o estágio, fui fazer trabalho de campo com ela e me apaixonei”.
Após completar a graduação, a bióloga seguiu seu desejo antigo de trabalhar com pesquisas, recebendo bolsas da Fapesp e do CNPq. Quando realizou um estágio no ICB (Instituto de Ciências Biomédicas), entrou em contato com a área dos ritmos biológicos e se encantou com a possibilidade do horário de trabalho poder alterar e desregular funções do organismo, como a liberação dos hormônios e a manutenção da temperatura corporal.
No período entre julho de 1996 e julho de 1997, foi estudar o impacto do trabalho na qualidade do sono, em Boston (EUA), no extinto Instituto de Fisiologia Circadiana, que na época era ligado à Universidade de Harvard. Cláudia começou então a trabalhar com a pesquisa dos efeitos que o trabalho em turnos alternados (mesclando trabalho noturno e diurno em um curto período de tempo) poderia ter no organismo humano. “A partir daí comecei a participar das discussões sobre saúde do trabalhador”, conta.
O projeto premiado
A pesquisa que recebeu o prêmio da UGPN é desenvolvida em parceria com a professora da Universidade de Surrey Debra Skene e se baseia na reserva extrativista Chico Mendes, localizada no município de Xapuri, no Acre. Na reserva é realizada a extração de látex de seringueiras e também existe uma fábrica de preservativos, criada pelo governo estadual, que posteriormente são encaminhados para o SUS (Sistema Único de Saúde) e distribuídos gratuitamente pelo País. “A ideia é preservar a floresta e manter as pessoas que continuam lá. Houve uma queda da venda de látex produzido no local e essa foi uma iniciativa para manter as pessoas naquela região e chamar outras pessoas mais novas, que não se interessavam em ir para a floresta”, explica Cláudia.
A atividade da indústria de preservativos incentiva a continuação da extração de látex. Como as seringueiras são a fonte desse material, isso exige que a floresta permaneça em pé, evitando o desmatamento. Ao mesmo tempo, também são gerados empregos e suprida parte da demanda de preservativos que o SUS possui. “Nossa iniciativa é mostrar um pouco dessa dinâmica, o que mudou naquela região, além de mostrar a vida daquelas pessoas”, conta. A atividade dos seringueiros é um dos focos do projeto. Com uma rotina de trabalho pesado, eles trabalham durante o dia todo, acordando 5 horas da manhã. Essa situação possibilita o estudo do quanto a exposição à luz pode interferir na qualidade do sono e causar patologias, uma das possibilidades de aplicação da cronobiologia.
A parceria com a professora inglesa foi iniciada quando uma das alunas de doutorado de Cláudia realizou um estágio sanduíche em Surrey. Após o retorno da aluna, foi decidido que a colaboração seria mantida. “Quando surgiu o prêmio do UGPN, a gente resolveu se candidatar para que o projeto fosse realizado e as coisas fossem feitas. Esse projeto foi feito em conjunto”, conta Cláudia. A premiação é utilizada principalmente para garantir a mobilidade das pesquisadoras, que podem apresentar o projeto em outros países e continuar a parceria que está rendendo bons frutos.
Também participa do estudo o professor Arne Lowden, da Universidade de Estocolmo, na Suécia. O pesquisador e as professoras irão comparar seringueiros da Amazônia, que vivem em latitude 10º S (próximo ao Equador), com mineradores da Suécia, que vivem na latitude 67º N (próximo ao Círculo Polar Ártico). A parceria conta com financiamento das agências Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), do Brasil, e Stint, da Suécia.
Cargos e conquistas
Cláudia contribui para a ICOH, sigla em inglês para Comissão Internacional de Saúde Ocupacional, uma entidade que tem como foco principal a pesquisa da organização do trabalho e seus efeitos no trabalhador. Dentro da ICOH existe um subgrupo denominado Working Time Society, que cuida dos trabalhos em turnos e se encontra a cada dois anos em congressos por todo o mundo para discutir o tema. “Em um desses congressos, no início dos anos 2000, me perguntaram se eu tinha interesse em participar da diretoria”, lembra a professora. Cláudia então se candidatou e desde 2005 é uma das diretoras da sociedade, atualmente presidida por sua antiga chefe, a professora Frida Fisher.
O próximo congresso da Working Time Society acontecerá em novembro desde ano, na Bahia, e será presidido por Cláudia.
Continuando sua estreita relação com a pesquisa universitária, a professora foi vice-coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da FSP entre 2008 e 2010 e coordenadora do mesmo programa entre 2010 e 2012. Também é presidente da Comissão de Relações Internacionais da Faculdade de Saúde Pública e membro da Comissão de Avaliação Trienal da Capes, na área de Saúde Coletiva. Cláudia ainda leciona na graduação e na pós da FSP.
Nascida em Santos, mudou-se para São Paulo com três anos de idade e atualmente mora em Cotia, com seu filho. A professora é exemplo de como o amor por uma área do conhecimento e o desejo de continuar aprendendo podem guiar toda uma vida. E com certeza muitas outras conquistas ainda virão.
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