Por Ana Luiza Tieghi

A mostra “Ontem” pode ser visitada na Galeria Paralelo até o dia 4 de abril. O quadro Céu Seu está entre as obras expostas

Fruto de duas décadas de pesquisa, a artista e vice-diretora do MAC Katia Canton realiza exposição sobre contos de fadas

Seja em suas versões duras e originais ou na versão cor-de-rosa de Walt Disney, os contos de fadas fazem parte da vida de todas as pessoas, e foi isso que atraiu a atenção da artista plástica e vice-diretora do Museu de Arte Contemporânea (MAC) Katia Canton. Agora, depois de 20 anos de estudos sobre essas histórias, ela lança a exposição “Ontem”, na Galeria Paralelo.

“Essas histórias não são feitas para crianças”, Katia já deixa claro desde o início. Os contos são narrativas transmitidas por gerações e gerações durante os séculos, que passaram da tradição oral para o registro escrito e sofreram transformações nesse processo.

“As histórias são baseadas em fatos reais”, explica Katia. João e Maria foram abandonados em uma floresta, assim como muitas outras crianças também foram. E sabe o beijo apaixonado que o príncipe deu na Bela Adormecida? Bem, na verdade aquilo foi baseado em um estupro. “São histórias muito complexas, mas que têm em comum essa questão de serem invenções humanas criadas a partir de realidades muito duras, que se transformam em coisas positivas graças à capacidade que a gente tem como ser humano de criar”, afirma a artista.

O nome “Ontem” vem de sua infância, quando era uma menina extremamente tímida que ao invés de brincar na rua, preferia frequentar a casa da tia-avó Cecília, uma contadora de histórias. “Fui criada à base de contos de fadas, foi meu alimento emocional”, conta. “Ontem” também pode se referir ao passado dos próprios contos de fadas, que foram contados e recontados com o passar do tempo.

Obra O Véu, de Katia Canton. Formada em Comunicação Social pela USP e doutora em Artes Interdisciplinares pela New York University, ela estuda os contos de fadas há 20 anos

Formada por 30 desenhos, dez telas, dez fotografias e uma grande instalação com poemas sonoros, a exposição abrange diversas formas de expressão artística. Dentro da série que carrega o nome da exposição estão releituras de contos clássicos feitas com o uso de nanquim e aquarela sobre papel. A artista conta que optou pelo uso da aquarela muito diluída para dar a impressão de algo longínquo, que veio do passado.

Na série Espelho Meu estão os desenhos feitos com esmaltes de unha, que foram pintados no papel diretamente de suas embalagens. É a vaidade, presente tanto nos contos quanto na vida real, que se impõe.

Já nas obras da série As Profundezas dos Bosques, Katia optou por escrever passagens de histórias e depois recobri-las com desenhos. O uso de lixas nas telas acaba revelando pedaços das narrativas, que então foram novamente preenchidas com tinta, formando florestas que escondem os contos de fadas. A técnica das camadas é reflexo da natureza das histórias que inspiraram a artista durante sua longa trajetória como estudiosa dos contos de fadas. Os contos, assim como as telas de Katia, possuem inúmeras camadas.

Parceria uspiana

Assim como Katia, a curadora de “Ontem” também possui uma forte ligação com a Universidade de São Paulo. Eliane Dias de Castro é atualmente professora do curso de Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina, além de também lecionar no Programa de Pós-Graduação Interunidades em Estética e História da Arte.

Katia e Eliane se conheceram quando ministravam em conjunto uma disciplina para pós-graduação, que tratava de arte e cura, algo muito relacionado ao trabalho que as duas realizam, cada uma em sua área.

Representação criada por Katia Canton sobre a história de Chapeuzinho Vermelho. A artista se distancia das adaptações infantis para buscar o real significado dos contos de fadas

A cura por meio da arte é um dos objetivos de Katia, que possui uma série de desenhos intitulada Cura Pelas Histórias. São produções que abordam a questão da narrativa e da capacidade humana de reinventar sua própria história, como acontece com os contos de fadas. Foi por essa ligação com a ideia de cura que a artista decidiu convidar Eliane para ser sua curadora, algo que a professora da Faculdade de Medicina nunca havia feito. “A exposição está muito legal porque ao mesmo tempo em que é uma coisa fora da USP, também é algo que conversa com a Universidade”, afirma Katia.

A vice-diretora do MAC já tem mais de 50 livros publicados e até o final do primeiro semestre deste ano espera publicar mais quatro. Sua obra mais recente é Anita, a Abelha, lançada em fevereiro pela Editora Carochinha.A temática dos contos de fadas também está presente nas publicações da artista, que mesmo após duas décadas de estudo não pretende abandonar o assunto tão cedo. “É a minha grande paixão”, conta. Vão viver felizes para sempre.

Serviço

“Ontem” foi aberta à visitação em fevereiro e segue até o dia 4 de abril na Galeria Paralelo, que fica na rua Artur de Azevedo, 986, no bairro de Pinheiros, em São Paulo. A galeria fica aberta de segunda a sexta, das 10h30 às 19h, e aos sábados, das 11h às 17h. Para mais informações, acesse www.paralelogaleria.com.br

Anita, a Abelha: o mais novo livro de Katia Canton

Na colmeia da abelha-rainha não há lugar para Anita, uma abelhinha que não sabe fazer mel. O que ela faz é uma guloseima diferente… O que será? Enquanto os zangões zombam de Anita, ela conhece a abelha Belade, que lhe diz que nem tudo é o que parece. E quem poderia imaginar que dessa nova amizade sairia uma surpresa tão deliciosa?

Título: Anita, a Abelha

Autora: Katia Canton

Editora: Carochinha

Páginas: 32

Preço: R$ 35,90