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Nos últimos anos, é muito comum ouvir dizer que o estresse é o mal do século ou a “doença” da modernidade. Irritações no trânsito, excesso de trabalho e falta de descanso são as situações mais comuns que podem levar ao sentimento de esgotamento.
Segundo dados da Isma-BR (International Stress Management Association) de 2012, associação que estuda o estresse e suas formas de prevenção, 70% da população brasileira economicamente ativa enfrenta o problema. Mediante esse cenário, pesquisadores do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da USP de São Carlos já começam a desenvolver o “estressômetro”, aplicativo capaz de calcular o estresse. No ramo psiquiátrico, estudos alertam para a importância da meditação e relaxamento, enquanto a sociologia já comprova que a sociedade evolui no sentido de ser mais estressada, por conta das cobranças no ambiente de trabalho, de estudo e familiar.
Uma sociedade mais estressada
O estresse não é um mal do nosso tempo. Uma volta ao passado nos mostra que ele sempre esteve presente, mas com outra denominação. É o que afirma Leonardo Gomes Mello e Silva, professor do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH): “Antes não chamavam assim. Chamavam dureza do trabalho, cansaço físico. Não havia diagnóstico para isso. E você traduzia seu esgotamento como uma experiência coletiva”. Mas o professor ressalta: “Vemos que através dos atos de recusa e de conflito se manifestava um descontentamento. Agora se isso é esgotamento ou raiva, não havia uma definição. Qual o limite que existe entre o sentimento de exploração e o sentimento de esgotamento?”.
A relação que os trabalhadores têm com o ambiente de trabalho também foi algo que se modificou ao longo do tempo. Segundo o professor, os séculos 18, 19 e 20 mudaram muito em termos de exigência: “No capitalismo da Revolução Industrial, as cobranças em geral se davam em um nível muito objetivo e contratual. Você vai ser cobrado, mas depois que sair dali, vai conseguir ser o que você é em termos mais espontâneos”. Já próximo do final do século 20 e começo do 21, o envolvimento se alterou: “Essa relação já não é mais exterior e objetiva. Ela entra na subjetividade da pessoa, de maneira que essa distinção entre o fora e o dentro do trabalho fica mais difícil de ser estabelecida”. Isso significa dizer que hoje as cobranças são levadas para casa e para o lazer e as metas do serviço envolvem uma mobilização maior do indivíduo. “Você tem que prestar a atenção e estar envolvido naquilo que tem que fazer, mesmo fora do horário de trabalho”, afirma.
Além disso, o professor lembra que atualmente vivemos em uma comunidade individualista e competitiva: “Sem uma regulação e uma bússola coletiva, a tendência é cada um buscar o seu, e isso com certeza afeta [o estado emocional]”. Frutos da nossa época, os desenvolvimentos tecnológicos são fatores que podem agravar a crise de cansaço vivida pelos humanos modernos. “A tecnologia acelera e permite que as informações circulem de maneira mais rápida. Então, dá menos tempo de você respirar”, afirma Mello e Silva. A consequência disso é um envolvimento muito grande com tudo que recebemos. “A quantidade de informação que a tecnologia permite dá um sentimento de responsabilidade muito maior. E isso leva a uma carga mental e moral grande, porque você tem que dar conta de tudo.”
O esgotamento humano
A palavra estresse tem sua origem na Física. Quando se coloca uma determinada força em um material além de sua resistência, ele quebra. O doutor Teng Chei Tung, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina (IPq – HCFMUSP), explica: “Se o ser humano sofre uma pressão ou um desgaste, chega a um certo ponto que ele quebra. Essa é a ideia”. Também conhecida como burnout, a condição leva a um desgaste do corpo e a um prejuízo emocional. As situações mais comuns propícias ao problema são aquelas onde há um conflito psicológico: ambiente de trabalho e familiar. “O ambiente cria situações em que a pessoa é excessivamente cobrada e exigida acima do que consegue aguentar. Nesse sentido, ela fica estressada”.
Os casos acabam se estendendo à vida cotidiana, como no trânsito, no metrô e na fila do banco. “As pessoas não lidam bem [com essas situações] quando já estão desequilibradas. Então se elas já estão afetadas, na hora que têm uma irritação no trânsito elas têm uma hiper-reação”, explica. Os sintomas físicos de alguém estressado não são tão claros, mas, de uma certa forma, há tensão muscular, variações menores do ritmo cardíaco e queixa de cansaço. Entre as questões psicológicas, pode-se ficar apático, cético, pessimista e com baixa autoestima.
Os modos para lidar com o estresse variam de acordo com cada pessoa. Segundo o psiquiatra, o importante é reconhecer quais são os momentos que mais causam estresse e desenvolver estratégias para se adaptar a eles. Isso significa desde abandonar a situação ou mudar a relação com os fatores estressores, elementos que causam o estresse. Para diminuir ou amenizar a vida agitada, o recomendado é que se tenha uma boa alimentação e pratique exercícios físicos regularmente. “Se sentir que ficou muito ansioso ou sofrendo muito, é preciso fazer coisas que permitam relaxar: uma ginástica, uma vida sexual saudável, dieta saudável e se precisar meditação e técnicas de relaxamento”, diz Tung.
A USP no combate ao estresse
Um projeto que está sendo realizado no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP São Carlos, em parceria com a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e a Universidade do Arizona, pretende combater o estresse através de ferramentas computacionais. O plano da equipe é combinar diversos sensores – pulsação cardíaca, reconhecimento de voz, câmera, tonalidade do rosto – em um aplicativo para identificar as emoções do ser humano. Com essas informações, ele consegue medir o nível de estresse e os sinais de depressão em cada um. “A nossa abordagem é utilizar vários sensores para que a pessoa possa ter um bem-estar. [...]. Normalmente quando você está estressado, você fica mais propenso a cometer erros no trabalho”, explica o professor do ICMC Jó Ueyama, um dos coordenadores da pesquisa.
Para chegar à conclusão se alguém está estressado, a equipe conta com a ajuda de seis psicólogas que têm a função de ensinar ao aplicativo qual o significado de cada informação. “Essa é uma pesquisa multidisciplinar. Ela envolve a parte computacional, que é a nossa, e a parte da psicologia, que seria a de treinar o computador de forma que ele possa fazer o papel do psicólogo”, resume Ueyama. Na próxima etapa do processo, chamada de persuasão, o smarthphone vai sugerir atividades para alterar o estado emocional. Isso é totalmente variável. Enquanto umas pessoas preferem ouvir música clássica para relaxar, outras preferem uma música mais agitada, assistir a um filme ou ler um livro. O próprio celular, através do histórico de escolhas do usuário, vai aprendendo que tipo de atividade é melhor de acordo com o psicológico de cada um. “Depois dessa etapa, posso inferir o estado emocional de uma pessoa. Então, se o estado geral melhorou, o indivíduo pode ser convidado a voltar ao ambiente de trabalho”, conclui.
Além de ter o objetivo de contribuir para o bem-estar, o aplicativo também tem a funcionalidade de monitorar o humor de profissionais que atuam em atividades de risco. “Quem está estressado certamente vai cometer erros. Se está em um call center, vai ofender os clientes. Se está operando uma plataforma de petróleo ou algum dispositivo crítico, vai cometer erros e pode causar algum desastre”, diz Ueyama. Com isso, o software conseguiria diminuir o estresse no ambiente de trabalho, reduzindo também a possibilidade de acidentes.
O projeto tem a participação de quatro alunos de graduação e pós-graduação do ICMC. Na UFSCar, quem coordena o projeto é a professora Vânia Neris, enquanto na Universidade do Arizona, a responsável é a professora Thienne Johnson. A previsão é que esteja finalizado em 2016. Até lá, mais experimentos serão feitos com os sensores de monitoramento. Por enquanto, a ideia já aponta para o futuro da humanidade: a tecnologia ajudando o homem a ficar menos estressado.
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