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Grandino Rodas, um novo tom na Reitoria

Grandino Rodas com as vestes talares

Por Cinderela Caldeira
No final de dezembro a reportagem da revista Espaço Aberto foi recebida pelo professor João Grandino Rodas em sua casa, no bairro do Morumbi. Numa ampla sala de dois ambientes, decorada com algumas obras de arte e um piano de cauda, um exemplo concreto de sua paixão pela música, o novo reitor concedeu entrevista durante duas horas. Ele definiu assim sua trajetória profissional: “Sempre me dediquei à magistratura e ao direito em vários aspectos. Fui advogado de empresa, juiz do Trabalho e juiz federal, grande tempo na primeira instância e depois na segunda instância como desembargador. Depois passei a trabalhar com o direito internacional, no setor público”.

João Grandino Rodas nasceu há 64 anos na capital paulista. A família paterna tem ramos espanhóis e portugueses e há várias gerações estava estabelecida no estado de Alagoas. De lá seu pai veio para São Paulo, onde se casou. Os avós maternos vieram da Itália, e sua mãe nasceu no Brasil.

novo reitor em sua casa

Grandino Rodas cursou o primário no Externato São José do Belém e o colegial no Colégio São Bento, no Centro. A música faz parte de sua vida desde os cinco anos de idade. “Aprendi as notas musicais antes de aprender as letras do alfabeto. Sempre gostei muito de música”, comenta o professor, que toca piano e órgão clássico.

No colégio São Bento fez o antigo clássico e no final do curso se inscreveu para o vestibular da Faculdade de Direito (FD) e da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL), ambas da USP. “Passei primeiro no curso de Educação e me matriculei no período noturno. Algumas semanas depois me matriculei no curso de Direito, pela manhã”, conta. “Depois do vestibular é que eu soube que o curso de Educação era na Cidade Universitária.”

Rodas morava no bairro do Belém. O acesso ao campus, na época ainda no início da implantação, era feito por um ônibus da própria Universidade que saía da rua Araújo, na região da Praça da República, e no final das aulas trazia os estudantes de volta. Para ele, essa condução era de grande ajuda. “Não havia metrô nem grandes construções viárias que ligavam os bairros ao Centro. Quando estava no segundo ano, meu pai decidiu mudar de bairro para facilitar um pouco meu acesso aos cursos e mudamos para uma casa próximo ao início da avenida Santo Amaro”, conta.

Rodas começou os dois cursos em 1965, um período de grande efervescência política no País, e terminou em 1969. Alguns momentos vividos na Cidade Universitária marcaram o professor. Muitos dos alunos que faziam o curso de Educação moravam no Conjunto Residencial da USP (Crusp). Numa noite, ao chegar para as aulas, Rodas encontrou as salas vazias. “Soubemos que grande parte dos alunos do Crusp havia sido levada pela polícia e voltou vários dias depois”, relata.
Outro momento, mais agradável, foi a criação da Escola de Comunicações e Artes (ECA), em 1966, que na época chamava-se Escola de Comunicações Culturais. “Como eu sempre estive ligado à música, embora não tivesse seguido profissionalmente essa aptidão, fiquei muito animado. Esta iniciativa trazia para a Universidade uma série de cursos que até então não haviam encontrado guarida na USP, por não serem aqueles cursos tradicionalmente oferecidos há décadas. A USP ganhou muito com a criação da ECA”, enfatiza.

"Aprendi as notas musicais antes de aprender as letras do alfabeto"

Enquanto cursava Direito e Educação, o professor resolveu fazer um curso para se aperfeiçoar em francês. Nesse momento encontrou um antigo colega de escola que havia entrado no curso de Letras, na Faculdade de Filosofia Nossa Senhora Medianeira dos Padres Jesuítas, e resolveu fazer também o curso de Letras em vez do francês. Em 1968 e 69, Rodas lecionou Literatura Brasileira no Colégio Estadual Firmino de Proença, no bairro da Mooca.

Terminados os cursos de graduação, dedicou-se ao mestrado e doutorado. Rodas é mestre em Ciências Político-Econômicas pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra (1970), doutor em Direito pela USP (1973), livre-docente pela USP (1976), mestre em Direito pela Harvard University (1978) e mestre em Diplomacia pela Fletcher School Of Law and Diplomacy (1985), nos Estados Unidos.

O novo reitor iniciou sua vida profissional como advogado de uma empresa privada e depois prestou concurso para a carreira de juiz. Foi juiz do Trabalho no início de carreira, passando depois a desembargador. Com o tempo passou a exercer funções na área de direito internacional público, na graduação da FD, no Ministério das Relações Exteriores e no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Atualmente é professor da FD – onde foi eleito diretor em 2006 –, membro colaborador do Tribunal Permanente da Revisão do Mercosul, da Comissão para o Intercâmbio entre Estados Unidos e o Brasil-Fulbright e da Organização dos Estados Americanos.
Nas horas de folga, Rodas gosta de ler e tocar música. Seu livro predileto é Os Sertões, de Euclides da Cunha. Outros autores de que gosta são Machado de Assis, Eça de Queiroz e Émile Zola. Na música, seus compositores favoritos são Johann Sebastian Bach, Claude Debussy e Sergei Rachmaninov. Rodas é viúvo e pai de um filho que morreu num acidente de carro quando estudava nos Estados Unidos.

De acordo com Grandino Rodas, o direito está muito ligado à solução de litígios, quer de forma jurídica ou diplomática. “Participei de muitas delegações. Numa delas chefiei a delegação brasileira para os trabalhos que prepararam o projeto de um tribunal internacional. Era um grande trabalho diplomático que envolveu mais de 150 países durante quase quatro anos, para formular o que veio a ser o Tribunal Penal Internacional. A segunda vertente que eu chefiei foi a delegação brasileira na Comissão das Nações Unidas para o Comércio Internacional”.

No âmbito do Mercosul, Rodas foi o primeiro árbitro brasileiro de um tribunal internacional. Até o final do ano, atuará como juiz do Tribunal Permanente de Revisão do Mercosul. O professor também participou como consultor jurídico, durante cerca de seis anos, da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos criada pelo governo federal. O objetivo da comissão era dar o reconhecimento da morte das pessoas desaparecidas por questões políticas durante a ditadura militar.
“Foram 172 casos analisados. Muitos sequer tinham um atestado de óbito, o que significa dizer que a comissão trabalhava analisando provas para o reconhecimento da morte da pessoa. Sem esse atestado, ela era apenas um desaparecido”, lembra.

O professor pretende continuar dando aulas na FD. “Sempre dei aulas de graduação, e na medida do possível continuarei. É óbvio que agora é mais difícil em razão da agenda do reitor. Mas eu acho que pelo menos a presença dentro da minha matéria deveria ser feita e eu gostaria de continuar”, diz.
Grandino Rodas já possuía um site (http://grandinorodas.com.br/) com currículo, artigos e entrevistas, no qual foram adicionados suas propostas e os apoios que recebeu na campanha para reitor. Um microblog no twitter (http://twitter.com/GrandinoRodas) foi criado especialmente para a época da campanha. O reitor pretende continuar trabalhando com as duas ferramentas online durante a gestão. Nelas, abrirá espaço para sugestões e perguntas da comunidade. “Vou continuar gerenciando pessoalmente o site e o twitter. Não quero me distanciar das pessoas”, afirma.

Ouça a mensagem do professor Rodas, gravada logo após sua posse, para servidores e docentes. Assista, também, a um compacto do evento, produzido pela TV USP, e algumas entrevistas com as autoridades presentes na posse, que aconteceu dia 25 de janeiro na Sala São Paulo, centro da capital paulista. A íntegra do evento pode ser assistida pelo IPTV USP .

5 comentários sobre “Grandino Rodas, um novo tom na Reitoria”

  1. Benedita Giangrossi disse:

    MUito boa a entrevista.

    O Senhor Reitor me parece uma pessoa singular, humana e que tenho certeza fará uma excelente gestão.

  2. Zuleide disse:

    Excelente entrevista! Pois não tinha conhecimento sobre o novo reitor, e sendo funcionária da Instituição, acho de extrema importância saber algo sobre. Com um curriculum desse, com certeza teremos um inesquecível reitor.

  3. Até a década de 70 vivemos a Era dos Advogados, depois, para a insatisfação geral, a Era dos Economistas, que certamente por intermédio da Administração Geral da USP, (Reitor), vai ficar em outros planos. Professor João Grandino Rodas não chegou ao Reitorado por simples acaso de escolhas políticas. Eleito para mudar. A USP, referência Internacional, tem a capacidade de mudar situações vistas como impossíveis, e, não será um desafio, acontecerá normalmente como a transição de pensamentos e idéias. Desagradará muitos? – Acredito que não, mas tenho a CERTEZA – JOÃO GRANDINO RODAS CHEGOU PARA RESGATAR A ERA DOS ADVOGADOS – A ERA DA JUSTIÇA – E FAZER VALER AS BASES QUE SUSTENTAM O PODER JUDICIÁRIO; VALORIZAR O PROFISSIONAL DE DIREITO E ACIMA DE TUDO, OS DIREITOS DO CIDADÃO; DIGNIDADE.

    Muitos ao ler pensarão, quanta bobagem que escrevi; aguardem e verão a Nova Era dos Advogados.

    Que Deus de nosso grande Universo ajude-o nessa caminhada.

  4. Georgenaldo Falc&ati disse:

    Depois de acompanhar todos os estágios que levaram o Prof. Dr. João Grandino Rodas ao cargo de Reitor da Universidade de São Paulo, posso dizer: Da campanha a vitoria nas eleiçoes; Do Diretor da FD ao cargo de Reitor da nossa Universidade; Mantendo-se sempre firme nos seus atos; Será o grande marco na história da Universidade de São Paulo; No futuro ouviremos falar da USP antes e depois de João Grandino Rodas; É a Universidade levada a sério; Representa a coragem do nosso Governador José Serra que quer um Brasil cada vez nelhor.

  5. Maria de Fatima Mart disse:

    Gostei muito da sua entrevista,do seu perfil.Como docente da usp,e pertencendo ao campus de pirassununga,desejo muitas realizaçoes e melhorias na nossa universidade.Um grande abraço

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