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Bom humor a serviço da ciência

Por Caio Albuquerque – Especial de Piracicaba

Mais de uma centena de artigos completos publicados em periódicos, participação em 66 bancas de mestrado e doutorado e outros tantos indicativos numéricos não sintetizam Nilson Augusto Villa Nova, professor colaborador do Departamento de Ciências Exatas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq).

Sua marca é o bom humor. Piadista incontrolável, palmeirense e amante dos esportes, nos recebeu em uma tarde quente e úmida em sua sala, repleta de artigos científicos, planilhas, recortes de jornais, poesias fixadas na porta e em armários. “Aqui não cabe todo mundo, vamos para um lugar mais arejado, porque hoje o clima está igual ao da Amazônia.”

Nascido em São Paulo em 1933, Villa Nova confessa sua paixão pela natureza. “Eu vivi minha infância em São Paulo em uma época que era possível pescar e andar de barco na represa de Santo Amaro, eu pesquei muito lambari no Tietê.” Da infância, carrega consigo a imagem da mãe, que mesmo diante das dificuldades financeiras insistiu para que os filhos estudassem no Liceu Pasteur (colégio franco-brasileiro). “Minha mãe foi minha heróina e tudo que sou hoje devo a ela”.

De São Paulo para Piracicaba, Villa Nova partiu em 1953 em busca não só da universidade. “Piracicaba para mim era um paraíso, muitas árvores, prédio só havia um, na rua Moraes Barros; encontrei aqui a tranquilidade que já começava a não existir na capital, invadida por arranha-céus e carros. Aquilo me incomodava e como em uma certa ocasião eu havia passado por aqui com um amigo para pescar, acabei voltando”.

Ingressou na Esalq e se formou em Engenharia Agronômica em 1956. Na escola, participou ativamente da Associação Atlética Acadêmica Luiz de Queiroz e desta época mostra cheio de orgulho recortes de jornais, amarelados pelo tempo, destacando a defesa do time de futebol da Esalq de 1955. “Nos meus anos de estudante, fui zagueiro titular do time da escola e participei inclusive da seleção de Piracicaba de futebol de salão”.

Após se formar trabalhou por seis anos na área de engenharia mecânica e metalurgia. “Eu montei uma metalúrgica, fui responsável pela construção de 30% das destilarias do país e neste período trabalhei mesmo como engenheiro mecânico. Isso foi possível porque eu sempre gostei muito de Física e Matemática”.

Desta identificação com as ciências dos números, Villa Nova encontrou a oportunidade de voltar para a Esalq, em 1962, para lecionar na cadeira de Física e Meteorologia. “A partir de então, toda a minha produção científica passou a relacionar agricultura e clima, pesquisando irrigação, energia, zootecnia.”

Abordando a evaporação no Estado de São Paulo, conclui o doutorado em 1968 e, em 1974, obtém o título de livre-docente pesquisando o balanço de energia na cultura do arroz. Na memória, muito bem afinada por sinal, traz exemplos de dois ex-professores. “Eu tive dois mestres, o [Admar] Cervelinni era excelente, era um descomplicador de problemas e o [Justo Moretti Filho] Justinho Moretti, que me ensinou muito.”

Os profissionais de imprensa de Piracicaba e região o apelidaram de o “homem do tempo”, uma vez que Villa Nova está todos os dias acompanhando os dados fornecidos pela Estação Meteorológica do departamento. Inclusive aos domingos. “O professor [Orivaldo Brunine Jesus] Marden dos Santos foi meu professor na área de meteorologia, me incentivou, mas eu fui atrás do conhecimento. Acho que aprendemos aquilo que quisermos, desde que a dedicação seja intensa. Eu atendo à imprensa porque trabalho em uma universidade pública e devemos informações à sociedade.”

Outra faceta marcante na carreira do homem do tempo é o bom relacionamento com seus alunos. “Sempre estive próximo deles, jogávamos bola, e fui um dos primeiros professores na escola a aplicar prova com consulta. Muitos estranharam, mas sempre considerei fundamental ao aluno o desenvolvimento do raciocínio e não a preocupação em decorar livros. Eu os avaliava com problemas de física e nem sempre considerava o resultado, mas sim os métodos empregados para solucionar cada questão”.

Em 2008, Villa Nova recebeu, na categoria Vida e Obra, na área de Agrometeorologia, o 53º Prêmio Fundação Bunge. “Espero que este prêmio valorize pesquisas no setor, pois a juventude é motivada pelos objetivos alcançados dentro do campo científico. O segredo está em aprender a aprender”, finaliza o professor, confesso amante dos textos de Monteiro Lobato. Talvez venha daí sua combinação, que une simplicidade e sabedoria.

Um comentário sobre “Bom humor a serviço da ciência”

  1. Paula Cristina disse:

    É sempre um prazer encontrar o Professor Villa Nova pela ESALQ … geralmente isso acontece comigo no Banco, onde ele sempre tem um sorriso e uma piada prá contar … um exemplo de vida, dedicação e energia … é mesmo contagiante!

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