Seminário organizado pelo Centro de Preservação Cultural da USP debate a questão do reconhecimento dos bens culturais Na próxima semana, nos dias 26, 27 e 28 de maio, o Centro de Preservação Cultural (CPC) da USP, instalado na Casa...
Está em trâmite na Câmara Municipal de Curitiba um projeto de lei que pretende regulamentar a comercialização de alimentos em áreas públicas. Para o vereador Helio Wirbiski (PPS), esses espaços de comércio de alimentos na rua, que servem como uma alternativa para quem necessita ou quer se alimentar fora de casa, devem atender aos requisitos de preço, qualidade e rapidez que 65% da população brasileira que come fora de casa espera.
Os locais que a proposta abrange são trailers, furgões, carrinhos ou tabuleiros tracionados ou carregados pela força humana, ou barracas desmontáveis, e exclui de pré-requisitos as feiras livres. O texto do projeto (005.00006.2014) determina que todos os alimentos comercializados deverão possuir rótulos com nome e endereço do fabricante, do distribuidor ou importador, a data de fabricação e o prazo de validade, e o registro no órgão competente quando assim exigido por lei, além de proibir a venda de bebidas alcoólicas por esses comerciantes. Mas, ao mesmo tempo em que é prático e aquece o mercado, comer fora de casa está muitas vezes aliado à má alimentação, além de ser uma opção cerca de três vezes mais cara do que a comida caseira, como constatou uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Segundo Larissa Galastri Baraldi, nutricionista e pesquisadora do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nutrens) do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública (FSP), a época da industrialização brasileira e das mudanças nos regimes e rotinas trabalhistas fez as pessoas perderam sua tradição alimentar, saudável, e começaram a sofrer com obesidade e sobrepeso. Então passou-se a prestar atenção no “não saudável”. Também a partir do momento em que a mulher saiu de casa, ela deixa de ser a grande provedora da família em termos de alimentação, e tudo começa a mudar: as pessoas começam a procurar algo mais rápido e mais fácil para comer.
A alimentação que Henrique Soares Carneiro, pesquisador em História da Alimentação e professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), considera ideal hoje em dia é aquela em que prevaleçam os alimentos frescos da horta, como legumes e frutas, e que contenha menos carboidratos e pouca carne. “Isso é resultado da crítica à expansão da alimentação industrial, que é certamente o principal vetor de dano à saúde pública”, diz. De acordo com ele, vivenciamos o momento excepcional em que não só as elites, mas conjuntos de populações em vários países, especialmente nos países centrais, vivem as enfermidades da abundância e do excesso. “Hoje existem epidemias de consumo inadequado, enquanto no passado as epidemias eram todas causadas pela fome.”
Para Larissa, “é possível que todos comam de maneira saudável”, mas isso requer planejamento e pelo menos um pouco de tempo. O primeiro item na sua lista de responsáveis pela má alimentação é o marketing. “Alimento virou comércio. Não é mais uma fonte de prazer, uma parte da cultura”, diz. Dentro da lógica mercadológica, pensemos: o que é barato e ao mesmo tempo vende? As comidas chamadas de ultraprocessadas. Elas estão dentro da categoria de alimentos prontos para consumo, sendo consideradas hiperpalatáveis. Ou seja, chamam nossa atenção pelo gosto, pela textura, pela aparência, pelo cheiro e, de quebra, pela embalagem, além de contarem com um marketing agressivo em cima de si.
Ainda nisso, Carneiro acredita que essa publicidade de alimentos procure no cliente justamente seu aspecto de opulência ligado à exibição de marcas. “Comer num fast food não é exatamente apreciar um tipo de preparo alimentar. É muito mais um pacote ligado ao nome do lugar e ao emblema que ele carrega”, explica. “É muito comum, por exemplo, que pessoas mais pobres que adquirem uma melhor condição financeira passem a comer em lugares assim, aos quais não tinham acesso antes, porque é considerado uma ascensão social poder desfrutar desses alimentos.”
Mas não é só isso. Essa dinâmica do fast food é completamente baseada na questão da velocidade. Pesquisas estadunidenses indicam que, hoje, 1/5 das refeições são feitas dentro de automóveis. Para o professor, “há uma corrupção não só do papel simbólico de sociabilidade que a alimentação tinha, mas também da apreciação mais lenta e ligada ao prazer”. Acaba sendo uma alimentação muito funcional, ligada às dinâmicas da sociedade urbano-industrial.
Custo, tempo de preparo e consumo, e publicidade – tudo isso torna os alimentos desse tipo muito tentadores. O problema é que, para que sejam “otimizados” para se tornarem atraentes, os ultraprocessados contêm altíssima concentração principalmente de açúcar e sal, fórmula barata de se produzir e muito lucrativa nas vendas, mas igualmente bastante prejudicial à saúde. Dentre os alimentos naturais, não existe nenhum que seja rico em açúcar e gordura ao mesmo tempo, o que resulta em combinações industriais de comida. “Fora as gorduras fabricadas, como as trans, que existiam até então em ínfima quantidade na natureza”, explica a nutricionista Larissa.
Talvez buscando fugir do senso comum, a indústria descobriu recentemente que o apelo saudável também vende, e por um preço mais alto ainda. Mas, na verdade, muito do que se fala não passa nem perto de ser saudável. Um dos principais itens do café da manhã é um dos alimentos que mais sofreu transformações. “O pão como conhecemos hoje não tem absolutamente nada a ver com o pão original, caseiro e simbólico ‘de Cristo’. Ele era basicamente um subproduto da farinha, e agora adiciona-se ovo, óleo, gordura etc. para dar a textura dita certa. E aí é colocado um pouco de fibra e falam que é integral, mas não chega nem perto de um pão rústico”, diz Larissa.
Para ser light, um produto precisa ter uma redução de 30% de algum nutriente, geralmente gordura ou açúcar. Mas pode-se reduzir 30% de açúcar e adicionar gordura, por exemplo, porque quando se tira essa quantidade de açúcar o alimento não fica tão bom. Deve-se prestar atenção a esta troca, que nem sempre é necessariamente benéfica. Também existem marcas que colocam em seus rótulos “sem gordura trans”, o que significa que não existe este tipo de gordura na porção estipulada, mas nada impede que, na soma final, haja alguma quantidade e que ela seja significativa. Além daqueles alimentos em que se alega não ter gordura trans apenas como chamariz, porque o alimento já não teria essa gordura naturalmente.
“Não é que não podemos comer nada que seja industrializado. Não podemos fazer disto a base de nossa alimentação. Tem que ser um complemento dela.” Segundo a nutricionista, “você pode comprar tudo light, mas se o alimento tinha 700 calorias e reduziu essa quantidade em 30%, não é grande coisa”. E não são só as calorias que contam, é todo um conjunto de nutrientes. Quando se opta pelos ultraprocessados, come-se apenas um grupo alimentar e a refeição deixa de ser diversificada.
Outro problema dos produtos prontos é que eles induzem os consumidores a comer porções indefinidas, às vezes porque querem pagar mais barato ao levar grandes quantidades e mesmo pacotes combinados, ou por não quererem jogar comida fora. “Em restaurantes a quilo, pegamos aquilo que estamos acostumados e podemos controlar quantidades”, sugere Larissa.
Por conta de escolhas alimentares equivocadas, números relativos à obesidade e ao sobrepeso têm crescido. É considerado com sobrepeso alguém que tenha um índice de massa corpórea (IMC) de 25. Acima disso é obesidade. Tem muita gente que considera como uma condição física, mas é uma doença. Pode ser adquirida geneticamente ou por meio de uma vida sedentária e/ou uma alimentação ruim. Mais de 50% da população brasileira atual tem sobrepeso e 17%, obesidade. Esses números crescem cerca de 1% a cada ano. A nutricionista diz: “A obesidade, para mim, é resultado de uma equação básica – por mais que digam que é genético, tenho muito claro que é falta de balanço energético; há pouca atividade física e muito consumo calórico”.
O que existem são muitas dietas restritivas, como a de Atkins ou a de Dukan, em que há reduções drásticas de carboidratos e priorização de proteínas e gorduras. A princípio, uma pessoa saudável pode comer de tudo moderadamente, mesmo uma pequena porção de alimentos “não saudáveis”, e só vai precisar de uma dieta restritiva caso tenha algum tipo de doença.
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