A coleção de jornais da imprensa negra que deu início ao conjunto que compõe o universo deste site foram reunidos junto aos velhos militantes dos movimentos negros. Esses jornais foram coletados no âmbito da pesquisa que realizei para minha dissertação de mestrado A Imprensa Negra Paulista (1915-1963) aprovada em 1981 na FFLCH-USP. O interesse pelo assunto foi despertado em 1975, quando li no extinto Jornal da Tarde a reportagem Os jornais dos netos de escravos.
Comecei a busca pelos jornais, no início sem sucesso. Em 1976, no entanto, consegui o contato de Jayme de Aguiar, que havia editado O Clarim da Alvorada. Fui procurá-lo e perguntei se poderia me ajudar. Ele me olhou firmemente, levou as mãos à cabeça e disse: “mas filha, eu não sabia que o que eu fiz era tão importante!Me acompanhe”. No andar superior da casa, subiu em um banquinho e de cima de um armário foi tirando pacotes com os jornais. Impossível descrever o que senti naquele momento.
Esse foi meu primeiro contato com os velhos militantes. Ao me contar sobre o Clarim da Alvorada, o Sr. Jayme falou de José Correia Leite, que também forneceu grande parte do material que compôs esse universo. O Velho Leite concedeu entrevistas riquíssimas em conteúdo, mas principalmente em sentimentos e lições de vida.
A partir daí, entrevistei Dr. Francisco Lucrécio, Raul Joviano do Amaral, Henrique Cunha, Prof. Pedro Paulo Barbosa e Ironides Rodrigues, cada um com sua visão crítica, mas todos convergindo para um mesmo ponto: a questão do negro na sociedade brasileira. Também contribuiu com relevantes informações o jornalista e escritor Oswaldo de Camargo, editor da Revista Niger, que integra esse acervo. A participação e o interesse do professor e amigo Clovis Moura foram decisivos para o desenvolvimento da pesquisa.
Foi dessa maneira que iniciei o mergulho nesse universo apaixonante, tentando, a partir desses jornais, entender a visão do negro pelo negro e para o negro, especificamente em São Paulo.
A primeira publicação de materiais desse acervo ocorreu por iniciativa da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo (IMESP), que em 1984 lançou Imprensa Negra, uma coletânea de fac símiles de alguns jornais, com estudo crítico de Clovis Moura e legendas de minha autoria. Essa publicação foi relançada pela IMESP, em 2003, por iniciativa da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira) do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo. Em 1986 a dissertação foi publicada na coleção Antropologia – FFLCH-USP, com prefácio de Clovis Moura.
Os exemplares originais do material coletado em campo durante a pesquisa foram microfilmados e depositados no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB-USP) para sua melhor conservação. Outra parte desse material foi direcionada para o Centro de Documentação e Memória (Cedem) da UNESP – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”.