Estudo de Caso: Transtornos mentais e universidade

Estudo de Caso: Transtornos mentais e universidade

Danúbio, Mariana e Nádia

Como temática do estudo de caso, o grupo escolheu a delicada e sensível questão dos transtornos mentais no contexto universitário, entendendo ser fundamental a discussão do tema, considerando sua pouca visibilidade no meio acadêmico.

1. Objetivo do encontro

O encontro teve como objetivo central a sensibilização das alunas e alunos quanto ao delicado e invisibilizado tema da saúde mental na sala de aula. Para tanto, foi desenvolvida dinâmica para aproximar todas e todos ao tema, além da promoção da discussão e diálogo de textos sugeridos e de experiências pessoais. Além disso, foram apresentados aos participantes os resultados colhidos por meio de questionário sobre a

incidência de transtornos mentais no ambiente acadêmico, elaborado pelo grupo e aplicado entre as graduandas e graduando da Faculdade de Direito da USP.

2. Preparação

Para preparar o grupo para a discussão, seguimos a ideia do grupo responsável pela formação ‘’Ensino Jurídico Queer’’ e lançamos, periodicamente, ‘’pílulas’’ de conhecimento sobre o tema no grupo do Facebook. A primeira pílula postada foi um vídeo de uma conferência TEDx (‘’What’s so funny about mental illness?’’), em que a comediante Ruby Wax explora, de forma bastante elucidativa, o estigma e a falta de compreensão em torno dos transtornos mentais. A segunda postagem sugeriu que o grupo assistisse uma série de curta-metragens (‘’Call me Crazy – a Five Film’’) que aprofundam a discussão a partir da perspectiva de um estudante de Direito que sofre com episódios de psicose. O objetivo desta sugestão foi sensibilizar o grupo por meio da identificação com a trajetória do protagonista. Por fim, a terceira pílula disponibilizada foi um vídeo de um ‘’poema falado’’ sobre depressão e o sofrimento imposto pela dificuldade de compreensão de pessoas próximas.

Os três materiais podem ser acessados por meio dos links abaixo:

Pílula 1: https://www.youtube.com/watch?v=mbbMLOZjUYI

Pílula 2: https://www.youtube.com/watch?v=YM4jaifw5Xg

Pílula 3: https://www.youtube.com/watch?v=uyUJWMSwqEI&feature=youtu.be

Um segundo passo foi munir o grupo de material teórico para subsidiar a discussão do estudo de caso. Os textos escolhidos para formar a bibliografia foram:

1. ESTANISLAU, Gustavo M., and Rodrigo Affonseca BRESSAN. “Saúde Mental na Escola: O que os Educadores devem saber.” Porto Alegre: Artmed(2014).

2. XAVIER, Salomé et al. O estigma da doença mental: que caminho percorremos?. Psilogos: Revista do Serviço de Psiquiatria do Hospital Fernando Fonseca, v. 11, p. 10- 21, 2013.

3. VASCONCELOS, Tatheane Couto de et al. Prevalence of Anxiety and Depression Symptoms among Medicine Students. Revista Brasileira de Educação Médica, v. 39, n. 1, p. 135-142, 2015.

Uma apresentação também foi montada com o intuito de explicar conceitos básicos relativos a saúde mental e transtornos mentais. Ela pode ser acessada aqui: https://www.canva.com/design/DAB1LLTrbEU/Ok53ZpAFNJLrl1nRKFJ1gg/view?ut m_content=DAB1LLTrbEU&utm_campaign=designshare&utm_medium=link&utm_so urce=sharebutton

Além disso, o grupo foi orientado com antecedência a trazer um lenço com o qual pudesse cobrir os olhos.

3. Dinâmica

No dia do encontro, dispostos em roda, todas e todos foram convidados a fechar os olhos, caso ficassem confortáveis assim. Auxiliada por uma música instrumental de fundo, a facilitadora passou a induzir o relaxamento do grupo, desviando a sua atenção para o momento presente, a partir do foco na respiração e observação de sensações do corpo e emoções sem julgamento.

Construindo um ambiente mais propício para o desenvolvimento do que nos propusemos, em que seria possível, em alguma medida, certa identificação com o tema, foi iniciada a segunda etapa da dinâmica. Ainda de olhos fechados, alunas e alunos escutaram relatos de estudantes da Faculdade de Direito que se dispuseram a participar de um survey online conduzido semanas antes, mesclado a trechos de escritoras que

imprimiram em suas obras aspectos biográficos sobre o enfrentamento de transtornos: Ana Cristina César, Sylvia Plath e Virginia Woolf. As leituras foram realizadas ora pela facilitadora que iniciara o processo, ora por outro facilitador, os quais caminhavam pela roda brincando assim também com sua noção de espaço.

Ao final, com delicadeza, todas e todos foram convidados a abrir os olhos e participar de uma discussão sobre o tema, estimulada a partir da escuta de relatos dos facilitadores e questionamentos iniciais sobre a pressão da Faculdade de Direito e a saúde mental do corpo discente.

A dinâmica evocou sentimentos de inadequação de todo o grupo diante das demandas da Faculdade, falta de espaço para multiplicidade de vozes e amparo para momentos de crise. Ao final, foi realizada uma avaliação, na qual todas e todos procuraram apontar o que funcionou melhor e o que deveria ser aprimorado em uma possível replicação por outros facilitadores.

4. Avaliação

A avaliação sobre a dinâmica foi positiva e reforçou duas ideias: em primeiro lugar, a necessidade de trazer o assunto para o debate no âmbito da universidade. Por outro lado, também reafirmou a importância da cautela e responsabilidade, por se tratar de algo que perpassa a saúde dos estudantes e que envolve áreas de conhecimento e cuidado das quais não somos apropriados.

5. Questionário

Considerando a necessidade de melhor compreensão da temática da saúde mental no ambiente universitário, o grupo sentiu a necessidade de elaborar questionário para coleta de dados sobre a questão da incidência de transtornos mentais no ambiente acadêmico, o qual foi aplicado entre as graduandas e graduandos da Faculdade de Direito da USP, por meio da sua divulgação em grupo no Facebook. Para a surpresa do grupo, o questionário obteve ampla adesão, com 500 respondentes. Todavia, ciente da sensibilidade do tema, o grupo sentiu a necessidade de um melhor tratamento dos resultados obtidos, de forma a servir de subsídio para novas discussões e reflexões.

5.1. Questionário Aplicado

Incidência de Transtornos Mentais em Graduandos(as) da Faculdade de Direito da USP

O presente questionário tem como objetivo a coleta de dados estatísticos para subsidiar estudo sobre a incidência de transtornos mentais em graduandas e graduandos da Faculdade de Direito da USP, que está sendo elaborado por um subgrupo do Núcleo Direito, Discriminação e Diversidade da FDUSP. Ressalta-se que o questionário é respondido de forma sigilosa, sem a identificação do(a) pesquisado(a).

Obs.: Responder preferencialmente utilizando os navegadores Google Chrome ou Mozilla Firefox.

1) Qual sua idade?

  • Até 17 anos
  • De 18 a 24 anos
  • De 25 a 31 anos
  • De 32 a 40 anos
  • Acima de 40 anos

2) Qual a seriação ideal da maio parte das disciplinas nas quais está matriculado(a)?

  • 1o ano da graduação
  • 2o ano da graduação
  • 3o ano da graduação
  • 4o ano da graduação
  • 5o ano da graduação3) Como você declara sua cor/identidade étnico-racial?  Amarela Branca
     Indígena
     Negra
     Parda
     Não-Branca   Outro

4) Com qual gênero você se identifica?

 Feminino  Masculino  Neutro
 Outro

5) Qual sua orientação afetiva e sexual?  Bissexual

 Heterossexual  Homossexual  Outro

6)Qual sua renda familiar mensal per capita? Considere o salário mínimo de R$ 880,00

  • Sem renda
  • Menos de um salário mínimo
  • Um salário mínimo
  • Acima de um até dois salários mínimos
  • Acima de dois até três salários mínimos
  • Acima de três até cinco salários mínimos
  • Acima de cinco até dez salários mínimos
  • Acima de dez salários mínimos

7) Com relação ao ambiente da sala de aula, como você se sente ao participar das discussões?

  • Confortável
  • Inseguro(a)
  • Oprimido(a)
  • Não participo
  • Outro

8) Com relação à carga de estudo do curso de Direito, você considera:

  • Insuficiente
  • Adequada
  • Exagerada

9) Antes de ingressar no curso de Direito, você possuía algum transtorno mental diagnosticado?

  • Sim
  • Não

10) Em caso positivo, após ingressar no curso de Direito, você considera que o seu estado:

  • Melhorou
  • Piorou
  • Não sofreu alteração
  • Não sei opinar

11) Você desenvolveu algum transtorno mental após o ingresso no curso de Direito?

  • Não
  • Sim, e considero que a vida acadêmica contribuiu para o transtorno
  • Sim, mas considero que a vida acadêmica não contribuiu para o transtorno

12) Caso possua algum transtorno mental, selecione a opção que melhor o define (Pode ser selecionada mais de uma opção):

  • Distúrbio de ansiedade generalizado
  • Depressão
  • Distúrbio do pânico
  • Transtorno alimentar (anorexia/bulimia)
  • Transtorno bipolar
  • Esquizofrenia
  • Outro

13) Caso possua algum transtorno mental, você faz tratamento com medicamento de uso controlado?

  • Sim
  • Não

14) Caso possua algum transtorno mental, você considera que houve algum tipo de amparo ou suporte por parte da universidade?

  • Sim
  • Não

15) Você participa de algum grupo de extensão/pesquisa ou coletivo dentro da universidade?

  • Sim
  • Não

16) Caso possua algum transtorno mental, você considera que a participação em grupos de extensão/pesquisa ou coletivos:

  • Ajudou na melhora do quadro
  • Influiu negativamente no quadro
  • Não alterou o quadro
  • Não sei opinar

17) Deixe alguma mensagem ou relato que considere relevante para o estudo:

5.2. Trecho do esclarecimento prestado aos participantes do questionário

”No final do mês de maio, um dos membros do DDD postou um questionário sobre transtornos mentais nos grupos “Turma 189 – Direito USP 2016” e “189a Turma da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo – Noturno” do Facebook. O questionário era parte de um estudo de caso elaborado por um subgrupo do Núcleo DDD que escolheu tratar da temática da saúde mental no ambiente acadêmico, focando em como que o tema é tratado na faculdade e como esta contribui para o desenvolvimento/piora dos quadros diagnosticados. O objetivo era, portanto, entender um pouco da dinâmica deste problema na Faculdade de Direito da USP.

Assim, sem grandes pretensões, o subgrupo elaborou o questionário, tomando o máximo de cuidado possível com as questões e vocabulário, ciente da sensibilidade do tema. Para nossa surpresa, o questionário obteve ampla adesão, fechando com exatamente 500 respondentes, e revelou um cenário que já imaginávamos, mas não tínhamos como dimensionar: do total dos que declararam possuir algum transtorno mental, 99%

consideraram que não houve nenhum tipo de amparo ou suporte por parte da universidade.

Como resultado disso, o DDD entende ser necessário refletir sobre a melhor forma para contribuir com o debate do tema no ambiente da São Francisco. Gostaríamos também de agradecer imensamente a todas e todos que participaram e compartilharam vivências. Salientamos que todos os dados obtidos serão utilizados com a máxima responsabilidade e respeito.”

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